Portugal rejeita 18% dos seus recém-licenciados, um dos piores registos da UE

Haverá cerca de 240 mil jovens diplomados há menos de três anos, com idades entre 20 e 34 anos, que estão sem emprego. Em 2003, Portugal era o 11º melhor da Europa neste ranking; hoje, é o nono pior, mostram dados do Eurostat.
Fotografia: Pedro Rocha / Global Imagens
Fotografia: Pedro Rocha / Global ImagensPedro Rocha / Global Imagens
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A taxa de emprego dos jovens recém-licenciados e diplomados em Portugal - pessoas com 20 a 24 anos que terminaram este nível de ensino há menos de três anos - recuou nas últimas duas décadas, tendo-se fixado em 82% da respetiva população em idade ativa, indicam dados do Eurostat relativos a 2023, divulgados esta semana.

Isto equivale a dizer que quase 18% desses jovens recentemente formados - cerca de 240 mil com qualificações mais elevadas - estavam excluídos do mercado de emprego no final do ano passado.

A esmagadora maioria deste grupo deve encontrar-se desempregada (o inquérito trimestral do INE aponta para cerca de 150 mil jovens sem trabalho). O resto, cerca de 90 mil, deve estar numa situação de inatividade, podendo parte ter até voltado aos estudos superiores, como pós-graduações, doutoramentos, e entrado em formações profissionais, etc..

Os números da agência europeia de estatísticas mostram mais: há 20 anos, em 2003, Portugal era o 11º melhor (taxa de emprego de 82,7%) neste ranking composto por países da União Europeia.

Até 2023, o declínio no indicador em análise foi substancial e o país aparece como o nono pior ao nível de empregabilidade dos seus recém-diplomados mais jovens.

Portugal também surge, assim, abaixo da média europeia, que em 2023 se cifrou em 83,5% (Portugal regista 82,4% de empregados no total da população ativa com idades entre 20 e 34 anos e um diploma superior obtido há menos de três anos, como referido).

A nível da UE, as maiores taxas de emprego acontecem em Malta (95,8%) e Holanda (93,2%); as situações mais desfavoráveis são as de Itália e Grécia, com rácios de 67,5% e 72,3%, respetivamente.

Os números, no caso português, têm vindo a causar alguma apreensão junto de responsáveis de topo como o atual primeiro-ministro, Luís Montenegro, ou Mário Centeno, o governador do Banco de Portugal.

Ambos têm alertado que o país não se pode dar ao luxo de desperdiçar o talento e as qualificações elevadas desta geração mais nova, sob pena de atrasar ainda mais o desenvolvimento económico a prazo.

É problemático haver menos gente jovem a concluir estudos e qualificações avançadas há relativamente pouco tempo, mas sem emprego, porque trata-se de pessoas que ainda estarão atualizadas e prontas para entregar o valor da sua força de trabalho e de conhecimentos mais avançados.

Aliás, é consensual entre os peritos que quanto mais tempo estes indivíduos estiverem afastados do mercado de emprego, mais difícil será o seu regresso ou integração, e maior será o desperdício em investimento humano e o dano infligido à economia portuguesa a prazo.

"Nós estamos a falhar, o país está a falhar. O país precisa mesmo de um sobressalto cívico, político, empresarial. Nós temos de conseguir absorver no nosso mercado de trabalho estes milhares e milhares de jovens que todos os anos saem das nossas universidades, dos nossos institutos politécnicos e colocá-los ao serviço do crescimento do país", afirmou Luís Montenegro há apenas dez dias, num encontro de verão com representantes das comunidades portuguesas (da emigração) do PSD, num hotel em Albufeira.

Na altura, segundo a Lusa, Montenegro também rejeitou a ideia de que a saída de jovens qualificados para outros países possa ser atribuída aos cortes impostos pela troika enquanto Portugal esteve sob assistência financeira e um programa de ajustamento, que desvalorizou salários e provocou muito desemprego.

"Não venham com a conversa de que isto é uma coisa da troika" porque "a troika já se foi embora vai fazer dez anos". "Não é desculpa", atirou o chefe do Governo.

Mas os dados oficiais do Eurostat mostram que foi justamente no tempo da troika, em concreto, 2012 e 2013, que a taxa de emprego dos recém-licenciados bateu no fundo: nesse ano e no anterior (2012), o referido rácio nacional atingiu mínimos de 67,8% e 67,5%, afastando-se dramaticamente da média europeia, que rondava os 75% nessa altura.

Desde então, que este indicador de empregabilidade tem vindo a recuperar, mas o caminho feito ainda não foi suficiente para que Portugal suba no ranking europeu e comece a registar valores melhores do que a média da UE.

Numa entrevista concedida este ano ao Dinheiro Vivo, Mário Centeno observou que "o desemprego jovem tradicionalmente é sempre superior ao desemprego total, mas também tem uma característica: tem uma duração menor".

Ou seja, "os jovens passam menos tempo desempregados do que os menos jovens. E, portanto, há uma maior rotação de jovens no mercado de trabalho e essa rotação, se for no sentido construtivo, de procura e de obtenção de melhores empregos, tem um sinal positivo para a economia portuguesa".

Mas, insistiu Centeno, "não podemos nunca esquecer que é importante que esse investimento e é imperativo que a economia portuguesa crie os empregos para, na verdade, dar emprego a esses jovens mais qualificados. Os indicadores que vamos obtendo são bastante positivos, ainda que fiquem sempre - porque ficam sempre - aquém das nossas ambições", disse o governador do banco central, cuja especialização é em Economia laboral e mercado de trabalho.

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