
Em contraste com o cenário de incerteza provocado por fatores como a inflação e as altas taxas de juro, o consumo das famílias cresceu em 2023, tendo os estabelecimentos portugueses alcançado um recorde de 28,8 mil milhões de euros nos pagamentos efetuados com cartão, mais 10% do que no ano anterior, de acordo com os dados divulgados esta sexta-feira pela Reduniq, a maior rede nacional de aceitação de cartões da marca Unicre, com cerca de 70% da quota de mercado.
Esta evolução, resultante do “progressivo aumento dos níveis de confiança dos consumidores”, fez-se acompanhar por uma subida homóloga de 15% no número de transações: ao todo, foram 871 milhões de operações, o equivalente a 28 pagamentos por segundo. No entanto, nota Tiago Oom, diretor comercial da Unicre, o acréscimo registado não traduz um aumento do volume por compra, uma vez que o ticket médio se situou 4% abaixo de 2022, mas sim “num maior uso dos meios eletrónicos e digitais de pagamento”. A propósito do progresso, 81% das transações realizaram-se por contactless - em 2019, o peso era de 16%.
O ritmo de crescimento terá oscilado no tempo, com a taxa de variação homóloga a fixar-se nos 19% até março e nos 8% no último trimestre. Segundo detalha o relatório Reduniq Insights, as categorias de acessórios, automóveis e oficinas (+22%), restauração (+19%) e cabeleireiros (+17%) foram as que mais expandiram a faturação, enquanto as atividades de gasolineiras (-1%) e saúde (3%) ocuparam o fim da tabela.
Não obstante, foi nos hiper e supermercados onde as famílias mais gastaram. Estas despesas representaram quase um terço das receitas, o que significa que o montante total terá rondado os 9,5 mil milhões de euros. Atendendo à inflação específica do retalho alimentar, “estes números podem esconder uma redução dos volumes, ou seja, o consumo pode ter aumentado em valor, mas não em quantidade”, é referido. Facto é que o ticket médio neste setor foi de 27 euros, menos um euro do que em 2022.
O desempenho do turismo no ano passado - recorde-se que o número de hóspedes e dormidas em Portugal bateu um novo máximo - contribuiu para que o valor gerado pelo consumo estrangeiro, através de pagamentos com cartão, aumentasse 18% em relação ao período homólogo, pesando um quarto da faturação. Após refinar os dados, a Reduniq denotou “um extraordinário arranque”, com crescimentos de 74% em janeiro e de 46% em fevereiro, seguidos de uma perda de fôlego no resto do ano, nomeadamente nos meses de verão.
A lista dos que mais desembolsaram no país foi liderada pelo Reino Unido (13%), França (12%), Irlanda (11%), Estados Unidos da América (10%) e Espanha (7%), tendo sido na hotelaria e atividades turísticas (33%), restauração (19%) e hiper e supermercados (12%) onde realizaram despesa.
Já a faturação originada pelos residentes aumentou 8%, embora as taxas de crescimento tenham caído ao longo do ano. Ainda assim, aponta o relatório, em novembro e dezembro, altura de Black Month e Natal, a tendência de redução foi contrariada, com as taxas a aproximarem-se dos 10%. Ao contrário do que se tem verificado - à exceção dos Açores (+18%) e da Madeira (+14%)-, foram os distritos com reduzida escala turística que mais cresceram. Bragança (17%), Portalegre e Viana do Castelo (ambos 14%) são exemplos.