Pós-covid: a democratização dos eventos

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2020 foi, independentemente do ângulo de análise, um ano mau. A pandemia trouxe uma grave crise sanitária que, mesmo com a esperança renovada que o plano de vacinação em curso nos dá, deixou e continuará a deixar profundas feridas sociais e económicas a que se juntarão as igualmente sanitárias que resultam do não acompanhamento eficaz dos doentes não-covid. E este balanço terá infelizmente que ser contabilizado cabalmente num período ainda muito alargado no futuro.

Mas nem por isso devemos deixar de olhar para as oportunidades ou ao menos para os ensinamentos que podemos deste ano extrair.

Cabe aqui falar do que representa a passagem dos grandes eventos, congressos, reuniões científicas para o canal digital de acesso remoto.

E sobre o que a democratização do acesso a estes eventos, outrora completa ou maioritariamente reservado aos que pudessem marcar a sua presença de forma física.

Não subestimo a importância de estar presencialmente com vários stakeholders e assim reforçar a vertente relacional, tão cara e necessária principalmente em culturas onde essa dimensão assume importância crítica. Nem se ignora a multiplicidade de oportunidades relacionais que se abrem quando fisicamente nos cruzamos ou partilhamos espaços com quem não antecipamos um encontro ou sequer uma oportunidade de contacto. Nem muito menos a importância de, viajando para outros locais, se observar e vivenciar outras realidades e desfrutar de momentos lúdicos que, balanceados com os trabalhos, são essenciais ao crescimento pessoal. Não se ignora sequer que o cancelamento e adiamento dos eventos físicos deste ano, tiveram um forte impacto em indústrias e serviços satélite como restauração, alojamento e transportes.

Mas nada disto diminui o facto de que o número de pessoas que pode marcar presença física num evento é limitado. E os que podem deslocar-se têm gastos, por vezes, elevados, em viagens, estadia e outros itens. Mas o investimento maior de cada profissional ao deslocar-se a um destes eventos, de onde sai mais rico em conhecimento, é sem dúvida o tempo.

A pandemia transformou os eventos físicos em eventos com transmissão online ou em eventos totalmente online que possibilitam que os profissionais possam ensinar, aprender e trocar experiências, podendo cada um estar num ponto do mundo e podendo assistir a um determinado painel ou debate entre compromissos profissionais ou nos seus tempos livres.

O futuro dos eventos será no futuro, no mínimo, misto e isso, por dar escolha e reforçar a democratização, só pode ser positivo.

Pedro Moura, managing director na Merck S.A - Portugal

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