A reforma é um período de realização pessoal e que deve ser vivido em pleno. Neste sentido, a poupança assume, durante a vida ativa, um papel fundamental para proporcionar esse conforto nesta importante fase da vida. Com diferentes projetos e objetivos de vida, torna-se imprescindível começar a poupar o mais cedo possível, de forma a garantir a acumulação de capital necessária para desfrutar em pleno da reforma.
Apesar de o "bom senso" nos indicar que os portugueses estão cada vez mais interessados em prevenir o futuro, reforçando a sua poupança e protegendo-se de riscos que possam ocorrer ao longo da sua vida, quando somos confrontados com a reduzida taxa de poupança, principalmente a de longo prazo, e com o reduzido volume de prémios de seguros per capita, percebemos o grande desfasamento que existe entre preocupações e realidade. Os dados recentes de um estudo da Insurance Europe, divulgado pela Associação Portuguesa de Seguradores, revelam que mais de metade dos portugueses não tem capacidade financeira para poupar para a reforma.
Mas então o que pode o setor oferecer para combinar poupança para a reforma e proteção em caso de morte, doença, ou invalidez? O que é preciso fazer para tornar esses produtos atraentes, e claro, incentivar a poupança?
Antes de mais, é importante analisar que fatores contribuem para este desfasamento entre preocupações e realidade: insuficiente preocupação quanto ao futuro ou falta de sentimento de urgência; o flagelo da falta de literacia financeira que muito impacta ao nível da consciencialização e capacidade de decisão das pessoas; e a falta de soluções efetivas (produtos/serviços com estímulos fiscais adequados) que permitam impulsionar a poupança, sobretudo, a de longo prazo.
Quanto aos produtos e serviços, e quer seja oferta "pura" de pensões ou combinada com proteção para acidentes ou doenças, as Seguradoras têm obrigatoriamente de continuar a inovar, comunicar de forma cada vez mais simples e clara, e dar resposta diferenciada a cada necessidade dos clientes.
O setor segurador e os fundos de pensões assumem-se, historicamente, como importantes promotores da poupança, em Portugal e no Mundo. Do lado do setor segurador, e em particular em Portugal, o Plano Poupança Reforma (PPR) é, desde 1989, o produto-rei eleito pelas pessoas para domiciliação da sua poupança para a reforma. Do lado dos fundos de pensões, e ainda que a adesão individual a este tipo de produtos esteja a aumentar, as empresas continuam a ter um papel fundamental ao contribuírem fortemente para a constituição de poupança de longo prazo para a reforma dos seus colaboradores quando oferecem como benefício a adesão a um fundo de pensões.
O PEPP (Pan-European Personal Pension Product), previsto iniciar comercialização em 2022, é uma resposta europeia para impulsionar também o volume de poupança, que é baixo na Europa, e mais ainda quando falamos em poupança de longo prazo. Sendo um produto europeu e transfronteiriço, será pioneiro a responder às necessidades de mobilidade atuais, quer durante a fase de acumulação/poupança, quer na fase de desacumulação/pagamento. A flexibilidade e portabilidade do PEPP permitirão poupar para reforma a partir de qualquer Estado-Membro da UE, bem como decidir onde e de que forma se pretende receber a poupança acumulada.
No entanto o PEPP não irá, por si só, fomentar a poupança. Para isso é imprescindível a criação de um incentivo fiscal efetivo que permeie a poupança de longo prazo face ao consumo imediato. Claro que a existência de um benefício fiscal exige regras apertadas, exige menos liquidez durante o período de acumulação, exige um compromisso com o objetivo de poupar efetivamente para a reforma. Caso contrário cairíamos em situação análoga à do PPR no passado, quando deveríamos, ao invés, tirar dele ensinamentos que nos permitissem conduzir o PEPP ao sucesso, como uma solução efetiva de incentivo à poupança para a reforma. Portanto, os benefícios fiscais serão fundamentais, mas devidamente sustentados por regras de liquidez apertadas, num verdadeiro compromisso de longo prazo.
Para além do papel natural de reforçar as suas propostas de valor num quadro de forte envelhecimento e de prevalência de doenças crónicas, o setor segurador tem também a responsabilidade de participar ativamente na sociedade, contribuindo para incrementar a consciencialização sobre estes temas, promovendo a literacia sobre a proteção financeira, traduzida na necessidade de poupança, ou na proteção em caso de imprevistos, e que devem ser incluídos, desde cedo, no diálogo familiar e escolar.
Em suma, não basta ao setor segurador fazer o seu habitual trabalho do dia-a-dia e lançar boas soluções, é preciso ir mais além e ter uma abordagem integrada que tenha verdadeiro impacto na sociedade. Só assim conseguiremos colmatar as diferenças existentes entre a preocupação de quem está disposto a poupar, e quem efetivamente poupa. É preciso unir esforços, e ter um call to action efetivo!
CEO Vida e Pensões Grupo Ageas Portugal