Um mês depois do início da guerra, volta a discutir-se apoios extraordinários à economia, uma espécie de remake da situação vivida aquando da pandemia. Isto apesar de a atual instabilidade global ter causas e produzir efeitos muito diferentes dos da crise sanitária. Se com a covid-19 houve uma retração da procura, agora o problema está sobretudo nos custos da oferta.
Isto para dizer que a resposta a esta crise não pode ser a mesma, os apoios à economia têm de ser diferentes das medidas de combate aos efeitos da covid. Quando escrevo, ainda não são conhecidas as ajudas às empresas afetadas pela subida dos preços da energia. Mas não me parece boa ideia que se insista em linhas de crédito numa altura em que não só as empresas estão ainda muito endividadas como os juros tendem a subir na Europa, de forma a contrariar a inflação.
O conflito entre dois importantes produtores de matérias-primas, Rússia e Ucrânia, exige apoios diretos às empresas. No setor industrial, onde o consumo de energia é mais intenso (têxtil, calçado, vidro, cerâmica, siderurgia...), é preciso subsídios para as empresas manterem a atividade. Caso contrário, muitas vão ter de cessar a produção temporária ou permanentemente, à medida que os custos se tornam incomportáveis. O mesmo se passa noutros setores fundamentais da nossa economia, como o dos transportes de mercadorias, que tem de fazer face ao contínuo aumento do preço dos combustíveis.
Precisamos de soluções mais criativas e pragmáticas do que as linhas de crédito, que são bem-vindas mas ficam aquém das necessidades das empresas. Para além de ajudas diretas, há que desonerar custos por via fiscal e diferir o pagamento de algumas obrigações fiscais. Importa ainda acelerar a execução dos fundos europeus, de modo a garantir novas fontes de financiamento às empresas. Por fim, é fundamental que o apoio chegue rapidamente ao tecido empresarial, para que produza efeitos imediatos e consistentes na vida das empresas.
O novo ministro da Economia, António Costa Silva, é um gestor de créditos firmados, foi estratega do PRR e tem experiência e competências na área da energia. Parece-me especialmente habilitado para compreender a situação e saber mitigar o efeito da guerra no tecido económico. Oxalá!