Precisamos de um bom Orçamento 

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A aprovação do Orçamento do Estado para 2025 é necessária para que o país tenha estabilidade tanto a nível político como económico. A ideia de que é possível viver com um Orçamento a duodécimos, como alternativa ao cenário de eleições antecipadas, não é um cenário desejável, tal como nota o bastonário da Ordem dos Economistas, António Mendonça, na entrevista que pode ler nesta edição. Há fundos europeus para aplicar e decisões que não podem continuar a ser adiadas, como a construção do novo aeroporto, a privatização da TAP (total ou parcial, será outra questão) e a alta velocidade ferroviária, apenas para citar alguns exemplos. Mas é necessário também um governo que consiga fazer as reformas urgentes em áreas como a saúde, a educação e a justiça, que estão a sofrer na pele os efeitos perniciosos de mais de uma década de desinvestimento e “cativações”.  

Nos últimos dias temos assistido a alguma dramatização em torno da aprovação do Orçamento do Estado, com o Governo da AD e o PS a tomarem as suas posições e o Chega a fazer reviravoltas. Diria que o mais provável será o Governo e o PS chegarem a acordo, porque aquilo que os separa não é tão significativo como poderá parecer à primeira vista. E, além disso, não existem incentivos, para nenhum dos lados, para que o país vá novamente a votos no início do próximo ano. A fazer fé nas últimas sondagens, nem o PS tem uma vantagem que lhe permita ganhar de forma folgada, nem a AD tem interesse em ir a votos numa espécie de repetição do que sucedeu no final do primeiro governo de Cavaco Silva, nos anos 80.

Porém, se a aprovação do Orçamento será, no fim do dia, o cenário mais provável, não é líquido que seja o melhor, se não servir para criar condições para que se façam as reformas necessárias e, em simultâneo, se não permitir uma redução da carga fiscal sobre a classe média e sobre as empresas. O pior que poderia acontecer a Portugal, para além de um cenário de instabilidade permanente, seria cair numa espécie de bloco central permanente, dos interesses e das conveniências, com o PSD e o PS a revezarem-se e a partilharem o poder numa espécie de rotativismo onde as divergências são apenas aparentes e onde o fantasma da extrema-direita serve para perpetuar o sistema. Tal cenário conduziria apenas a um pântano e, mais tarde ou mais cedo, os extremistas dos dois lados do espetro político seriam os principais beneficiados. Mais do que aprovar o Orçamento, precisamos de aprovar um bom Orçamento, que crie condições para que a economia cresça e para reduzir as desigualdades de oportunidades e as assimetrias no acesso a serviços essenciais como a saúde e a educação.

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