Preço do azeite sobe 69% num ano em Portugal

Quebras substanciais na produção e repercussão lenta do aumento dos custos de produção fizeram disparar o preço. Portugueses já estão a reduzir o consumo deste alimento.
Desde agosto de 2022 que o preço do azeite na origem aumentou 4,83 euros.
Desde agosto de 2022 que o preço do azeite na origem aumentou 4,83 euros.Maria João Gala/Global Imagens
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O preço do azeite em Portugal registou um aumento homólogo de 69% em janeiro, o maior entre os 27 países que compõem a União Europeia (UE), revelou ontem o Eurostat. Este incremento anual é justificado pela seca nos países mediterrânicos, com efeitos nefastos na produção, a que acresce a lenta repercussão do aumento dos custos de produção no preço final.

Segundo o gabinete de estatísticas europeu, a subida média na UE foi de 50% no primeiro mês de 2024, quando comparado com igual período do ano anterior. Em janeiro, o preço do azeite aumentou em todos os Estados-membros, mas acima da média europeia encontram-se apenas Espanha (67%), Grécia (63%), Estónia (52%) e, a liderar esse crescimento, como já referido, Portugal. O pico inflacionário na UE foi atingido em novembro, quando se verificou um aumento de 51%.

De acordo com Mariana Matos, secretária-geral da Casa do Azeite, o preço na origem apresenta uma subida superior a 150% desde a campanha 2022/23 e esse aumento deve-se a uma quebra histórica na produção em Espanha (o maior produtor mundial). Uns meses antes, devido ao deflagrar da guerra na Ucrânia, os produtores depararam-se com o encarecimento dos custos de produção, de que são exemplo os combustíveis, os pesticidas e a energia, adianta. “Uma tempestade perfeita”, salienta.

Em Portugal, “o correspondente aumento não foi imediato e só agora estamos a terminar esse desfasamento”, diz a responsável da Casa do Azeite. No mesmo tom, Patrícia Falcão, secretária-geral da Confagri, lembra que ,“em Portugal, o preço demorou a subir”. Logo a seguir ao início do conflito na Ucrânia, registou-se “uma escala de preços”, até no “vidro para embalar o azeite que vinha da Ucrânia, mas esses aumentos não se repercutiram logo”, afirma.

Em agosto de 2022, o preço do quilo do azeite na origem situava-se, em média, nos 3,87 euros, um ano depois subia para 8,18 euros e ontem estava nos 8,70 euros, aponta Mariana Matos. Em quase 18 meses, encareceu 4,83 euros. A este valor há depois que somar os custos da cadeia do embalamento e distribuição, até chegar à prateleira do supermercado, onde a garrafa de 0,75 litros ultrapassa, em muitos casos, os 10 euros.

Quebra no consumo

O encarecimento acentuado do azeite levou já a uma quebra no consumo e também nas exportações em Portugal. Segundo Mariana Matos, o mercado interno registou uma retração no consumo da ordem dos 11% em 2023 e as exportações caíram 30%.

Para os próximos meses, as previsões da evolução do preço estão envoltas em incerteza. Para já, sabe-se que não há azeite. Como explica Mariana Matos, Espanha passou de uma produção média de 1,5 milhões de toneladas para 600 mil em 2022/23, menos de metade do que a média dos últimos cinco anos, e para 800 mil em 2023/24. Esta forte quebra deveu-se exclusivamente à seca que atingiu o maior produtor do mundo. Portugal também não escapou. Com uma capacidade instalada de pouco mais de 200 mil toneladas, produziu 126 mil em 2022/23 e cerca de 150 mil na campanha que arrancou em outubro passado. Segundo Patrícia Falcão, as existências em 2022 seguraram nesse ano o preço em Portugal, mas logo a seguir o mercado foi confrontado escassez de produto.

A seca está a assolar toda a bacia mediterrânica, que assegura 98% da produção mundial de azeite. Este inverno tem registado índices de pluviosidade que dão algum otimismo ao setor, mas ainda falta saber como se comportará o clima nos próximos meses. Certo é que até outubro há poucas disponibilidades de azeite no mercado. Mas se a linha da procura se mantiver descendente é possível que o preço de venda sofra uma pequena correção em baixa. 

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