Preço do papel enfrenta uma "subida vertiginosa"

Associação Portuguesa de Imprensa negoceia com o Ministério da Economia saída para atenuar "situação extremamente difícil"
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O preço do papel de jornal e de revistas disparou nos mercados internacionais e, tudo indica, que irá continuar a subir. A escassez de produto, que se alia ao aumento dos custos da energia, das matérias-primas e da distribuição, criou "uma tempestade perfeita" que está a preocupar as gráficas e os meios de comunicação social. Segundo João Palmeiro, presidente da Associação Portuguesa de Imprensa, "a subida do preço do papel é vertiginosa".

Ainda há quatro anos, o setor comprava uma tonelada de papel por 420/450 euros, mas atualmente o preço já é superior a 600 euros e as previsões apontam para que atinja os 750 euros já no próximo ano. Neste espaço temporal, a subida ronda os 70%. Segundo João Palmeiro, um dos principais problemas é a falta de stock, originada pela reconversão das máquinas de papel de jornal em unidades produtoras de cartão de embalagem - uma estratégia que acelerou neste último ano e meio com o impulso que a pandemia trouxe ao comércio eletrónico.

Dependência do exterior
E como em Portugal não há fábricas a produzirem papel de jornal, nomeadamente pela pequena dimensão do setor, a imprensa está totalmente dependente da importação e destas oscilações de mercado. João Palmeiro vê poucas soluções para atenuar estes aumentos. Como sublinha, os jornais podem "aumentar os preços - alguns cêntimos, não muito -, ou diminuir o número de páginas", o que é contrário "à pluralidade e diversidade" que deve nortear o setor. A Associação Portuguesa de Imprensa tem estado em conversações com o Ministério da Economia no intuito de encontrar uma saída para atenuar esta "situação extremamente difícil", porventura a nível fiscal e de caráter temporário.

Neste contexto de pressão inflacionista, também as empresas gráficas admitem vir a refletir o aumento dos custos no preço final dos seus produtos, ou seja, nos jornais, revistas, livros, calendários... Paulo Dourado, da Associação Portuguesa das Indústrias Gráficas e Transformadoras do Papel (APIGRAF), adianta que esta indústria está a sentir "a pressão do aumento do preço das matérias-primas", nomeadamente do papel, "tal como de outros fatores, como a energia". E admite que os associados, que representam quase 80% do volume de negócios do setor (mais de dois mil milhões de euros anuais), deverão "refletir no preço final do produto esta pressão, caso esta se mantenha". Para já, a APIGRAF fez chegar as suas preocupações à Confederação Empresarial de Portugal (CIP), enquanto cúpula associativa das empresas.

Escassez de madeira
O aumento dos custos de produção, que se começou a sentir com mais acutilância no terceiro trimestre deste ano, está a afetar todas as atividades económicas e a indústria da pasta e do papel não é exceção. Como sublinha Francisco Gomes Silva, diretor da Associação da Indústria Papeleira (Celpa), o setor tem verificado "impactos quer nos preços da energia adquirida nos mercados, quer nos diversos custos dependentes da energia e dos combustíveis, como é o caso dos transportes e de toda a logística e operações". Em simultâneo, a indústria debate-se com dificuldades crescentes no aprovisionamento de madeira, embora, e até ao momento, não estejam a afetar a produção das empresas associadas da Celpa.

O grupo Altri, um dos principais produtores de pasta de papel em Portugal, comunicou esta semana ao mercado que "um dos desafios atuais é o crescente incremento de preços da energia, assim como a necessidade crescente da importação de madeira", sendo que "continua a sentir uma forte procura na Europa, especialmente para uso final de papel de impressão e escrita". O grupo adiantou que a forte procura por pasta na Europa conduziu a um aumento de 4% em dólares no 3.º trimestre deste ano.

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