Muitas famílias já terão notado uma subida dos custos nos últimos meses. O petróleo em alta nos mercados internacionais levou a uma subida dos combustíveis - em Portugal, o governo tomou medidas para tentar minimizar a escalada dos preços. A somar a isto, há escassez de matérias-primas e problemas nas cadeias de abastecimento, o que está a provocar atrasos nas entregas e, por conseguinte, atrasos também para o consumidor final. As matérias-primas alimentares também estão a ser afetadas o que poderá levar a uma fatura de supermercado mais pesada para as famílias à escala global.
O índice das Nações Unidas, que acompanha a evolução dos preços de matérias-primas alimentares essenciais, como o trigo e os óleos vegetais, subiu 3% para um novo máximo da década em outubro, de acordo com a agência noticiosa Bloomberg. Esta subida, pode conduzir assim a uma maior despesa por parte das famílias e pode também aumentar os receios dos bancos centrais em torno da inflação e aumentar a fome no mundo.
Os transitários em Portugal, num artigo recente, diziam que o transporte de bens, em especial por via marítima, atravessa sérias dificuldades e admitiam mesmo que, quando se comprava nunca se sabia quando iam ser feitas as entregas. Por outro lado, e também nos últimos dias, a Associação dos Industriais de Panificação, Pastelaria e Similares do Norte (AIPAN) admitia que o aumento da fatura energética e a escalada das matérias-primas estava a deixar muitas empresas do setor aflitas. "A indústria vai ter que reagir face aos custos que estamos a assistir no mercado", alertava então António Fontes, da AIPAN. O preço do pão mantém-se no geral inalterado, "mas estamos a preparar esse aumento", admitia então.
À escala mundial, o aumento dos preços das matérias-primas alimentares está relacionado não apenas com a crise energética, com os elevados custos de transporte e falta de mão-de-obra - que afeta tanto as cadeias de abastecimento, como os produtores e supermercados - mas também com as más condições climatéricas registadas neste ano, lembra a Bloomberg.
Abdolreza Abbassian, economista sénior da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), citado pela agência de informação, assume que até agora, o mercado tem conseguido responder "às questões de oferta e procura. Mas o mercado não tem condições para responder às perspetivas de produção do próximo ano".
Algumas regiões do globo vão continuar a enfrentar alguns desafios no que diz respeito à segurança alimentar. As Nações Unidas elevaram as suas perspetivas para o comércio mundial de trigo, numa altura em que as compras subiram em países do Médio Oriente.
A subida das matérias-primas alimentares recorda a evolução registada em 2008 e 2011, como escreve a Bloomberg, o que contribuiu para a crise alimentar mundial. Apesar da subida das matérias-primas não se traduzir numa subida imediata dos preços para o consumidor final, há países do Norte de África onde as autoridades estão a ter dificuldades em travar os efeitos para o consumidor final.
O responsável da FAO assumiu ainda que houve sinais de estabilização de preços em algumas matérias-primas alimentares, como a carne e o açúcar, no mês passado. A oferta mundial de cereais neste momento é suficiente para responder à procura e os preços do arroz ainda estão moderados. "Do lado da procura, estamos a começar a perceber melhor o que verdadeiramente vamos precisar, por isso, talvez a incerteza esteja a diminuir", rematou.