"Os engenheiros são treinados para conceber soluções para problemas complexos. Têm a obrigação de partir o problema em problemas mais simples e encontrar soluções para cada um deles", referiu Eduardo Marçal Grilo, ao falar sobre a importância do ensino experimental no último encontro PME Inovação, realizado pela COTEC Portugal. Para o antigo ministro da Educação, num momento em que o ritmo da mudança é cada vez mais rápido, o ensino experimental deve ter um lugar de cada vez maior importância na escola..Com métodos de aprendizagem baseados em projetos, o ensino experimental promove o espírito científico nas camadas mais jovens da população e permite ainda desenvolver soft skills como a capacidade de cooperação, iniciativa e liderança. "O ensino experimental tem um bocadinho de tudo: inovação, criação e a capacidade de cruzar transversalmente as várias áreas científicas", referiu Marçal Grilo, para quem a possibilidade de cruzar disciplinas, conceitos e conceber projetos que dão resposta a problemas é uma das mais-valias deste tipo de ensino..A impressão 3 D é uma das ferramentas cada vez mais utilizadas no ensino experimental, já que permite materializar ideias e conceitos. "Sendo uma máquina que o permite fazer com rapidez e com um custo bastante económico, hoje é muito fácil pôr os alunos a materializar as suas ideias e a aprenderem com o erro que, ao invés de ser penalizado deve ser encarado como uma forma de aprender mais", afirmou Aurora Baptista, CEO da Bee Very Creative, também presente no encontro PME Inovação..A responsável desta empresa portuguesa que integra a equipa criada pela Agência Espacial Europeia para criar a primeira base habitável na superfície lunar, não tem dúvidas quanto às vantagens do ensino experimental. "Um aluno que possa produzir algo relacionado com o que está a aprender não irá esquecer com facilidade [o conteúdo aprendido]", referiu Aurora Baptista, que destaca o potencial inclusivo como outra vantagem da impressão 3D. "Permite, por exemplo, uma maior interação entre alunos que têm características mais práticas com outros cujas apetências são mais teóricas". E isto ao longo de todo o percurso académico. "É algo que pode ser usado desde o pré-escolar mas que vai ficando mais útil à medida que os alunos têm algum método. E se quem hoje é pequeno, começar a ter acesso a ferramentas destas, não só muda a forma como é educado como irá sempre construir mais, com melhores ideias e melhores soluções", destaca a responsável da Bee Very Creative.Premiar o espírito de engenheiro O prémio Portugal País de Excelência em Engenharia foi criado com o propósito de desenvolver o espírito científico através do desenvolvimento de projetos que partem de conceitos de engenharia. Ao apresentar o prémio, Marçal Grilo destacou o espírito inovador e criativo das propostas apresentadas, sublinhando a importância do mesmo na atualidade e no futuro. "A recuperação económica que temos pela frente só se faz se houver um grande espírito de engenharia. E para isso é decisiva esta capacidade para inovar", disse..Os vencedores desta edição foram, Labi9, do Agrupamento de Escolas nº1 de Gondomar, na categoria escolas, e TUPI-Todos Unidos pela Inclusão, do Agrupamento de Escolas de São Gonçalo, Torres Vedras, na categoria alunos. "Este é um projeto particularmente interessante, com a criação de um laboratório de inovação e desenvolvimento de projetos de caráter interdisciplinar", afirmou Marçal Grilo, ao apresentar o vencedor da categoria escolas, sublinhando ainda as parcerias desenvolvidas com entidades como a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), ou a Fábrica Ciência Viva de Aveiro..Por seu turno, Fernando Silveira, o professor responsável pelo acompanhamento do projeto, destacou o facto de este ser o resultado de um trabalho iniciado há cinco anos, com a participação na primeira edição do prémio. "Ter caminhado para a criação de um laboratório multidisciplinar e a agregação de um clube de ciência viva de âmbito nacional reforçam o nosso trabalho", referiu o docente, que lembrou ainda que o Labi9 trabalha a questão do ensino experimental no primeiro ciclo, a par com os projetos de inovação e empreendedorismo desenvolvidos pelos alunos do terceiro ciclo..Também o TUPI, robô que transforma sons em língua gestual, criado pelos alunos da escola de Torres Vedras impressionou o júri. "É um projeto muito bem conseguido e que pode ser um grande passo para a simplificação da vida das pessoas com deficiência auditiva", aplaudiu Marçal Grilo. Jaime Rei, docente de robótica da escola de São Gonçalo e professor orientador do projeto, destacou o papel das alunas envolvidas. "A criação do TUPI permitiu que as alunas envolvidas pudessem ser autónomas e desenvolvessem capacidades no âmbito socioprofissional. E permitiu envolver os alunos na compreensão da robótica e a sua aplicabilidade à realidade, contribuindo para a resolução de problemas concretos através da inovação tecnológica", congratulou-se o professor.