Presidência Biden dá impulso de 660 mil milhões de euros à economia mundial

Economistas do Instituto Ifo e da Universidade de Munique fizeram um enorme inquérito a mais de 800 especialistas e decisores em mais de 100 países sobre os possíveis efeitos da vitória de Biden sobre crescimento, desemprego e comércio. 2021 fica a ganhar com o democrata, dizem.
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A vitória de Joe Biden nas presidenciais dos Estados Unidos pode permitir à economia mundial crescer, este ano, mais um ponto percentual do que o previsto antes das eleições por via de uma maior intensidade do comércio internacional e de estímulos orçamentais mais decisivos nos Estados Unidos, por exemplo.

Segundo um estudo de quatro economistas do Instituto Ifo, três deles afiliados com a Universidade de Munique, na Alemanha, o impulso económico global associado à vitória de Biden pode chegar aos 700 mil milhões de dólares adicionais em 2021 (cerca de 660 mil milhões de euros) face a um cenário em que Biden não ganhava e Donald Trump continuava no poder.

Este mês, o Banco Mundial atualizou as suas projeções para a economia global. Prevê que o crescimento possa chegar a 4%. Só por si, o efeito Biden pode elevar esse ritmo até 5%, ajudando a reverter a recessão de 4,3% em 2020 por causa da pandemia.

As conclusões do trabalho titulado "O impacto económico global dos políticos", publicado esta semana pela Econpol Europe (Rede Europeia de Investigação em Políticas Económicas e Orçamentais), resultam de um inquérito de "grande escala". Segundos os autores, foram ouvidos 843 especialistas de 107 países diferentes.

O objetivo do inquérito era tentar avaliar "como é que o presidente dos Estados Unidos influencia as expectativas económicas dos especialistas internacionais", relativamente aos níveis de crescimento do PIB (produto interno bruto), desemprego, inflação e comércio internacional nos seus países de origem.

Esses especialistas são nomes reconhecidos em cada um dos países, pessoas que trabalha em universidades, institutos de investigação, bancos centrais, empresas multinacionais, embaixadas e organizações internacionais.

"Os resultados mostram que a eleição de Joe Biden aumentou as expectativas de crescimento económico dos especialistas internacionais em cerca de 0,98 pontos percentuais para o ano de 2021", diz o estudo.

O impulso esperado no crescimento até seria maior não fosse o maior ceticismo dos entrevistados nos Estados Unidos que são da opinião de que pouco ou nada vai mudar em termos de crescimento económico nos EUA. Excluindo os peritos americanos, a expectativa de crescimento adicional sobe para 1,16 pontos percentuais.

"Na sequência da crise persistente do coronavírus e dos seus efeitos drásticos, os entrevistados afirmam que a presidência de Biden pode ser um raio de esperança para o desenvolvimento económico global em 2021", diz Niklas Potrafke, um dos autores do estudo e diretor do Centro Ifo para as Finanças Públicas e Política Económica.

"Donald Trump mudou substancialmente o cenário político global durante os seus quatro anos no cargo. A sua doutrina 'América primeiro' e o rompimento com muitas convenções de longa data e alianças com um histórico de décadas marcaram um afastamento da política externa dos EUA que vigorava desde a Segunda Guerra Mundial."

Segundo o especialista, esta rejeição propalada por Trump e o seu governo "afetou vários países por via de guerras comerciais e da saída dos EUA de várias alianças políticas ocidentais". O Acordo de Paris para o clima, um discurso muito crítico em relação à NATO e à OMS, por exemplo.

Os EUA de Trump enveredaram pelo caminho das barreiras comerciais, pelo aumento de tarifas sobre produtos da Europa e da China, por exemplo, que depois acabaram por retaliar com imposição de barreiras aos EUA.

Nesse aspeto, os entrevistados revelaram que entenderam o programa político proposto por Joe Biden "como uma promessa de reverter as políticas de Trump".

Potrafke refere ainda outros dados que reforçam a ideia de que os governos democratas nos EUA são melhores para o crescimento global do que os governos republicanos. "No período de 1949 a 2012, o crescimento económico sob as presidências democratas nos EUA foi 1,79 pontos percentuais maior do que sob as republicanas".

"Se assumirmos que este padrão continua, então este passado sugere taxas de crescimento mais altas com o democrata Joe Biden do que num segundo mandato do republicano Donald Trump", diz o estudo.

A primeira metade das respostas foi obtida nos cinco dias anteriores à data da eleição de 3 de novembro; a outra metade depois disso no período de 8 a 13 de novembro.

O ponto percentual de crescimento adicional estimado pelo conjunto dos mais de 800 peritos para a economia mundo surge associado a um cenário que também é melhor ao nível do desemprego e do comércio global.

Em média, a taxa de desemprego mundial reduz-se em 0,6 pontos percentuais e a taxa de crescimento do comércio sobe 1,4 pontos percentuais, dizem os autores com base nos resultados obtidos através de inquérito.

Portugal é um aliado antigo dos EUA e a economia norte-americana, apesar dos percalços dos últimos anos, continua a ser um parceiro comercial importante. Os Estados Unidos compram, anualmente, 5% das exportações totais portuguesas. Significa que as empresas nacionais faturam, por ano, cerca de 3 mil milhões de euros em vendas para o mercado norte-americano.

Em 2020, por causa da crise pandémica, as exportações portuguesas de mercadorias para os EUA devem afundar perto de 12%, deixam antever números do INE até outubro.

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