
Pela primeira vez desde que se iniciou o movimento de subida das taxas de juro, em 2022, a prestação que as famílias têm de pagar ao banco pela casa vai conhecer um alívio de até quase 11 euros para os contratos indexados à Euribor a três e seis meses cujas condições sejam revistas em fevereiro, segundo uma simulação realizada pela Deco, a pedido do Dinheiro Vivo. A mensalidade dos créditos contratados a uma taxa variável de 12 meses, por seu turno, vai voltar a agravar-se, ainda que numa importância mais reduzida face aos últimos meses: pouco mais de dez euros.
Para estes cálculos foi tomado por exemplo um cliente com um empréstimo à habitação no valor de 150 mil euros, maturidade a 30 anos (360 meses) e com um spread (margem de lucro do banco) de 1%.
Desta forma, os contratos vinculados ao prazo de seis meses serão os mais beneficiados, com a prestação a baixar no próximo mês para os 795,04 euros, o que, face à última revisão em agosto do ano passado, quando o valor foi atualizado para os 805,86 euros, traduz um decréscimo de 10,82 euros ou de 1,3%, em termos percentuais. Previsivelmente, indica a associação, a média desta Euribor terá rondado os 3,89% no primeiro mês do ano, reduzindo 0,037 pontos percentuais (p.p.) em relação a dezembro de 2023 (3,927%).
Ainda no lote das descidas, e no caso dos créditos com as mesmas condições, mas indexado à taxa de três meses, os clientes deverão ver a mensalidade da casa fixar-se nos 797,89 euros, na sequência de uma descida de 7,34 euros - ou de 0,9% - relativamente a novembro de 2023, altura em que o montante determinado a pagar ao banco ascendeu aos 805,23 euros. Quanto à média da Euribor neste prazo, reduziu-se para os 3,92% em janeiro, dando continuidade à trajetória descendente observada já em dezembro (3,935%) e novembro (3,972%).
No que respeita aos empréstimos contratados a 12 meses, o prazo mais longo e o mais utilizado em Portugal nos créditos à habitação com taxa variável, não se avistam, para já, alívios. Contudo, de mês para mês, o aumento da mensalidade é cada vez menor. Enquanto, em janeiro, a atualização do contrato custou às famílias perto de 60 euros, em fevereiro, custará em torno de 10,29 euros, segundo as estimativas da Deco. A prestação subirá, assim, para os 768,45 euros, mais 1,4% face aos 758,16 euros estipulados no mês homólogo, em resultado de uma média de 3,61% deste indexante, que compara com 3,679% de dezembro e 4,022% de novembro.
Natália Nunes, coordenadora do Gabinete de Proteção Financeira da Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor, confirma que as taxas de juro começam, assim, “a dar os primeiros sinais de descida”. No entanto, ressalva: “Continuam altas, acima dos 3,5%. Antecipa-se que só depois de o Banco Central Europeu (BCE) avançar com os primeiros cortes de juros é que se poderá observar maiores descidas na Euribor.” Na última reunião, o banco central decidiu manter inalteradas as taxas de juro com o objetivo de aproximar a inflação dos 2%. As previsões dos peritos apontam para que, reunidas as condições, o movimento de descida se possa iniciar a partir do segundo semestre de 2024.
Sobre o que esperar este ano relativamente à situação financeira dos consumidores, em concreto, a especialista afirma que, “para os portugueses com crédito à habitação vinculado a uma taxa variável, sobretudo aqueles com revisões a partir dos próximos meses, vão começar a sentir os efeitos de uma ligeira diminuição das suas prestações”. Não obstante, alerta, “é necessário que as famílias continuem a gerir de forma muito responsável o seu rendimento e a controlar as taxas de esforço em matéria de endividamento”.
Num balanço feito ao DN/DV, em agosto passado, a Deco avançou que a maioria dos consumidores que procuram os seus serviços encontrava-se em situação de regularidade quanto ao pagamento dos créditos, sendo que, por norma, possuem cinco contratos: dois cartões de crédito, dois empréstimos pessoais e um à habitação. Quanto aos montantes médios em dívida, foi ainda revelado, ascendem aos 21 600 euros em empréstimos pessoais, 7900 euros em cartões de créditos e de 92 mil euros em empréstimo à habitação.
De recordar que a evolução da Euribor está diretamente relacionada com as flutuações das taxas de juro diretoras do BCE, que, desde julho do ano passado, têm vindo a subir significativamente, numa tentativa de a entidade presidida por Christine Lagarde combater a inflação na zona euro. Em Portugal, especificamente, a inversão da política monetária tem custado caro às famílias, sobretudo as que possuem crédito à habitação, uma vez que praticamente 90% destes empréstimos possuem taxa variável, o que significa que a prestação da casa sobe ou desce quando o mesmo acontece com a taxa que serve de referência.