Prevenir é o caminho para reduzir despesa pública com tabagismo

Por muita receita que a venda de tabaco garanta aos governos, a despesa para a saúde é muito maior. A nível mundial, todos os anos, as doenças relacionadas com o tabaco representam 2% da riqueza criada.
Há muita iliteracia sobre o tabaco e alternativas, dizem especialistas. Foto: Gerardo Santos / GI
Há muita iliteracia sobre o tabaco e alternativas, dizem especialistas. Foto: Gerardo Santos / GI
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Todos os anos 8,2 milhões de pessoas morrem em consequência do tabaco, sendo que desse universo, um milhão nunca fumou. O número - que procura despertar para o problema do tabaco e dos seus efeitos - foi divulgado no Global Forum on Nicotine 2024, que decorreu entre os dias 13 e 15, em Varsóvia, sob o lema “Economia, saúde e redução dos danos causados pelo tabaco”.

Andrzej Fal, chefe do departamento de Alergias, Doenças Pulmonares e Doenças Internas do Instituto Nacional de Medicina de Varsóvia (Polónia), e presidente da Sociedade Polaca de Saúde Pública, mostrou os números e acrescentou que os valores deverão aumentar nos próximos anos.

Fumar é um vício. E é por isso mesmo que Andrzej Fal defende que a ação política deve centrar-se na redução dos danos, investindo na prevenção. É que, ao contrário de outros vícios, como o álcool, o tabaco também prejudica quem não fuma. 

Os números mostram, por um lado, a necessidade de investir nesse tipo de políticas, mas, também, as consequências de não o fazer. Todos os dias 150 milhões de pessoas estão a tentar ou querem deixar de fumar e a despesa com a dependência do tabaco e as doenças relacionadas equivale a 2% do Produto Interno Bruto anual do mundo.

É por isso que a estratégia deve ser feita em duas frentes. Por um lado, incentivar à redução do consumo e, por outro, diminuindo os elementos que provocam danos na saúde das pessoas. Porque, feitas as contas, são os contribuintes que pagam a despesa. E tudo começa numa política de educação sobre saúde. O que, afirmou Andrzej Fal, ninguém quer pagar.

Mas aos números do impacto económico do consumo do tabaco há que subtrair as receitas que os vários governos obtêm com a sua comercialização, sendo que o especialista lembra que existem conflitos de interesse. Aponta que os políticos e legisladores precisam de saber qual é o efeito a longo prazo da ação, para poderem implementar políticas. Porque medidas de controlo do tabaco e regulamentação implicam perdas económicas. O que significa que ao legislar é preciso calcular o custo global e também o impacto do encerramento de empresas em famílias e comunidades .

Michelle Minton, analista especializada em política dos consumidores, por seu lado, apontou que nos últimos anos tem havido uma pressão da sociedade sobre os fumadores. O que levou a que uma percentagem dos fumadores tenha conseguido deixar de fumar. Por outro lado, a analista sublinhou que estudos indicam que os fatores que levam a que uma pessoa comece a fumar normalmente estão relacionados com familiares fumadores e campanhas de marketing. E há outras componentes, sociais, a considerar. Michelle Minton deu o exemplo dos Estados Unidos, onde nas casas atribuídas a pessoas de baixos rendimentos é proibido fumar dentro da habitação. As pessoas que não conseguem deixar o vício são despejadas. A analista apontou que para crianças/jovens que vivem numa situação vulnerável, a probabilidade de começarem a fumar é seis vezes superior. 

Na mesma linha, Ethan Nadelmann, cofundador do programa de Desenvolvimento Internacional para a Redução de Danos do Open Society Institute, lembrou que aplicar uma política proibitiva conduz à estigmatização e à criminalização. É por isso que Michelle Minton considera que optar por alternativas (para quem não consegue abandonar o vício) pode ajudar a evitar essa discriminação.
No que se refere às alternativas ao tabaco, Harri Shapiro, diretor do Drug Wise, um serviço online de informação sobre medicamentos e chefe de redação do DS Daily, realça que nem tudo é linear. Isto, porque há quem considere que o vaping é tão perigoso como fumar. E essa noção impede muitas pessoas de procurarem alternativas ao tabaco tradicional. Na prática, esta noção significa que há muita iliteracia no que concerne ao tabaco, aos seus malefícios e às possíveis alternativas.

A Suécia, onde o “snus” é amplamente difundido, é apontada como bom exemplo, com os números a indicarem uma diminuição de fumadores. Já a França, que optou por uma estratégia diferente, de proibição das alternativas e taxação, está a registar o cenário oposto. O fruto proibido é sempre o mais desejado. Uma opinião

partilhada por Lindsey Stroud, investigadora sénior da Taxpayers Protection Alliance. Criadora e diretora da Tobacco Harm Reduction 101, que lembrou que quando o vaping é proibido, o número de pessoas que fuma aumenta. Por outro lado, há que ter em conta que a proibição tende a levar a um aumento do mercado paralelo. Com todos os efeitos negativos, quer para a economia do país, quer para a saúde dos seus cidadãos.

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