Proatividade: a resposta que resta ao tecido empresarial português

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Para o cluster do mobiliário e afins, composto por indústrias como o mobiliário, colchoaria, têxteis-lar, cutelaria, cerâmica, iluminação e tapeçaria, o ano de 2023 foi fechado com “chave, fechadura e maçaneta de ouro”. Tendo ultrapassado os dois mil milhões de euros em vendas ao exterior, esta fileira, que tem nos mercados internacionais cerca de 90% do volume de negócios, superou em 10% os valores registados no período homólogo e em 24% os números relativos a 2021. França, Espanha e Alemanha, seguidos pelos Estados Unidos da América (EUA), foram os países que se destacaram no topo da lista de “compradores”.

Não obstante o volume de exportações, que se traduz no crescimento de um clusterainda mais sólido e gradualmente evolutivo, a atualidade é um fator de elevada preocupação. A inflação continua inconstante, apesar de uma recente descida;quase metade do mundo vai a votos no decorrer do ano, com atenções redobradas para o que acontecerá nos EUA; e, com a evolução da economia e geopolítica globais sendo uma incógnita, o próximo cenário no setor pode ser de abrandamento.

Perante esta conjuntura, há uma expressão de preocupação e inquietação com as atuais oscilações do mercado. Ainda assim, estas presentes dificuldades, mesmo que encaradas com responsabilidade, não podem deixar de ser tidas também como uma oportunidade. É, afinal de contas, aquilo que nos ensina Sun Tzu no mais famoso tratado sobre estratégia alguma vez escrito e ainda referência icónica no mundo dos negócios – “Trata o difícil enquanto ainda for fácil. Trata o grande enquanto ainda for pequeno”.

Esta é uma oportunidade clara parapodermos continuar a apostar no valor acrescentado; uma oportunidade de arriscarmos na inovação; uma oportunidade de apostarmos na sustentabilidade das empresas portuguesas; uma oportunidade de diferenciarmo-nos dos demais intervenientes do setor a nível internacional.

Como? Procurando novos nichos e segmentos de mercado, sem esquecer as nossas raízes. Procurando o foco na extrema qualidade do nosso design e em acrescentar valor ao processo produtivo, sem esquecer as Pessoas. E procurando a diversificação de mercados, pela segurança que essa mesma estratégia nos proporciona, sem esquecer aqueles que confiam no selo “Made in Portugal” há décadas.

Se se fala de mobiliário e dos seus afins, há um conjunto de fatores agregados que, ausentes, tornam inviável dar “o salto” para mais elevados patamares. O design não pode, em qualquer tipo de cenário, estar fora desta equação. A este juntam-se as restantes indústrias criativas, em sentido de complementaridade com o meio académico, essenciais para responder às mudanças do mercado e acompanhar as tendências crescentes.

Uma estratégia que se tem vindo a refletir na tendência que está a viralizar no mundo do design – chama-se a teoria do “unexpected red” ou, na sua versão em português, do "vermelho inesperado". Consiste, de forma resumida, em acrescentar qualquer apontamento vermelho, seja grande ou pequeno, a uma divisão, que não combina particularmente com nada, mas que torna o conceito geral automaticamente mais consistente. Parece simples, mas é o resultado de uma indústria cada vez mais qualificada e orientada para a diferenciação.

Além disso, é também imprescindível, perante todas as problemáticas presentes, a aposta num vetor específico que irá impactar positivamente o mercado concorrencial: a sustentabilidade. Esta é uma grande aposta e preocupação das empresas portuguesas, que têm registado os mais baixos níveis de desperdício de recursos usados.

Estes fatores encaixam na perfeição na economia circular que tem sido praticada pela Fileira Casa Portuguesa. O baixo desperdício, a alta qualidade e a durabilidade prolongada traduzem-se numa oportunidade para utilizar recursos mais eficientes que permitirão o aumento da competitividade da indústria.

Para uma ação conjunta do país para encarar destemidamente o cenário global, é, evidentemente, necessário apoio. Pede-se, portanto, que os projetos sejam mais céleres, mais ágeis e menos burocráticos. Ao novo Executivo, não apelamos por “mundos e fundos” – apenas que a capacidade organizativa de recursos e meios das entidades competentes seja repensada, para que os diversos apoios existentes cheguem rapidamente às empresas.

Feita esta análise, e para que as soluções apontadas não tardem, a conclusão é clara. Proatividade é a resposta que resta a todo o tecido empresarial português. Há a necessidade de perceber que a tomada de iniciativa e a insistência na identificação das problemáticas, assim como na apresentação de soluções, são fundamentais no contexto em que vivemos. A combinação da prontidão de resolução, a proximidade com os diferentes públicos, o sentido de empreendedorismo face às oportunidades que surgem e a rápida perceção dos conflitos emergentes são a receita ideal para uma atitude proativa, que será a solução para enfrentar e ultrapassar as dificuldades encontradas.

Joaquim Carneiro, presidente da Associação Portuguesa das Indústrias de Mobiliário e Afins

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