A menor confiança dos consumidores, aliada às taxas de juro elevadas e aos critérios de concessão mais restritivos, tem provocado um abrandamento na procura de crédito ao consumo por toda a área do euro. No último Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito, aliás, as instituições financeiras da união monetária reportaram ao supervisor quebras maiores do que as antecipadas para o terceiro trimestre (-12% contra os -8% previstos). Portugal não fugiu à regra, ao apresentar, entre janeiro e setembro, um decréscimo homólogo de 1,3%, que se agrava para 4,3% quando considerados apenas os últimos três meses daquele período, apontam os cálculos feitos pelo DN/Dinheiro Vivo..De acordo com as estatísticas disponibilizadas pelo Banco de Portugal (BdP), nos primeiros nove meses de 2023, os portugueses pediram sensivelmente 5,72 mil milhões de euros em financiamento para efeitos de consumo e outros fins, enquanto no igual espaço temporal do ano passado o montante já superava os 5,80 mil milhões. Isolando especificamente o terceiro trimestre, o total concedido pelos bancos residentes às famílias foi de 1,89 mil milhões de euros, valor que representa um incremento de quase 2% face ao trimestre anterior, mas que fica, ainda assim, aquém dos 1,98 mil milhões apurados entre julho e setembro de 2022..Numa análise feita à atividade creditícia de julho a setembro, a Associação de Instituições de Crédito Especializado (ASFAC) detalha ao jornal que, ao nível nacional, a rubrica dos empréstimos pessoais subiu cerca de 3% face ao segundo trimestre, embora descendo uns 12% em relação ao período homólogo, e que o financiamento automóvel conheceu uma variação trimestral de praticamente 2% e um acréscimo de 6% comparativamente com os primeiros noves meses de 2022, com subidas no crédito e descidas no leasing e ALD [aluguer de longa duração]. Já no revolving, isto é, nos cartões de crédito que disponibilizam determinado plafond, observou-se uma redução de pouco menos de 2% relativamente ao trimestre anterior e de 4% no que se refere ao homólogo.."Estamos perante um expectável e natural desaceleramento da produção de crédito aos consumidores, causado pelas circunstâncias geopolíticas e socioeconómicas, que não melhoraram de setembro até então, o que significa que estas quebras se deverão manter e possivelmente acentuar daqui para a frente", indica Duarte Gomes Pereira, secretário-geral da ASFAC, ressalvando, no entanto, que, apesar da atual conjuntura de aperto financeiro - que inclusive já levou mais de 20 mil portugueses a pedir ajuda à Deco -, a taxa de incumprimento reduziu-se 0,5 pontos percentuais (p.p.) no nono mês face ao antecedente, para 2,7%, e 0,9 p.p. em relação a setembro de 2022..De recordar, contudo, que no Relatório de Estabilidade Financeira de novembro, a entidade governada por Mário Centeno aponta o aumento do incumprimento das famílias mais vulneráveis como o principal risco para o sistema bancário português, pelo que se espera que a situação possa vir a agravar-se nos próximos meses, apesar de o perfil de risco dos novos mutuários ter melhorado na sequência da recomendação macroprudencial..No âmbito da produção das associadas da ASFAC, que representam 61% do crédito ao consumo concedido em Portugal e detêm 77% da quota de crédito automóvel, 45% do crédito pessoal e 65% dos cartões de crédito, o montante total financiado aos particulares ascendeu aos 4,76 mil milhões de euros nos primeiros nove meses do ano, refletindo um travão de quase 8% em relação aos 5,15 mil milhões registados no igual período do ano passado, não obstante o crescimento superior a 3% face ao conjunto dos meses de abril, maio e junho. BNP Paribas, Cofidis, Unicre e BMW Group são algumas instituições de crédito especializadas no financiamento ao consumo que integram a lista de 26..Apesar da tendência clara de aumentos no trimestre e reduções no homólogo, a associação verificou, entre julho e setembro, uma redução de 0,2% no segmento de crédito pessoal, relativamente ao segundo trimestre de 2023, e de 16% quanto à mesma altura de 2022. No que respeita aos restantes segmentos, o financiamento automóvel subiu 9% no homólogo (mais 12% no crédito, mas menos 70% ALD e leasing) e 4% comparativamente com o trimestre precedente (subida de 5% no crédito e recuo de 47% ALD e leasing). No revolving, por seu turno, a ASFAC constatou uma redução homóloga de 24% e uma subida de 8% relativamente ao segundo trimestre deste ano..A versão portuguesa do Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito, que compilou o reporte das instituições financeiras e respetivas previsões para o quarto e último trimestre do ano, antecipa quebras contínuas na procura por empréstimos ao consumo e outros fins, bem como um maior aperto nos critérios de concessão deste tipo de crédito.