Produção mundial de calçado cresceu 7,6% e China reforça a liderança

Dados do anuário estatístico World Footwear Yearbook mostram que apesar de ter aumentado a produção em 10,5%, Portugal perdeu um lugar e caiu para a 20ª posição no top mundial de produtores. Mas subiu no ranking dos maiores exportadores para a 12ª posição
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A produção mundial de calçado cresceu 7,6% em 2022, para os 23,9 mil milhões de pares, e voltou já aos valores pré-pandemia. Mas o tão falado reshoring (o regresso da produção à Europa) "não passa de um mito", já que nove em cada 10 pares de sapatos à escala internacional continuam a ser produzidos no continente asiático. Aliás, a China, o maior produtor do mundo, mas que vinha perdendo terrenos nos últimos anos para outros países à volta, inverteu a tendência e reforçou a sua quota em meio ponto percentual para 54,6%. Portugal caiu um lugar e assume agora a 20ª posição de entre os maiores produtores, mas subiu no ranking dos maiores exportadores.

Os dados são do anuário estatístico World Footwear Yearbook, que a associação portuguesa do calçado, a APICCAPS, produz e distribui por todo o mundo, e mostram que 87,4% da produção mundial de calçado tem origem na Ásia (uma quota ligeiramente menor do que o ano, em que atingiu os 88,2%). A Europa perdeu terreno para 2,7%, enquanto a América do Sul e em especial a África aumentaram a sua quota, representando 4,8% e 3,7%, respetivamente, da produção mundial.

Olhando para o top 10 dos maiores produtores, destaque para a saída das Filipinas e a entrada do Cambodja. China, Índia, Vietname e Indonésia ocupam os lugares cimeiros, seguidos do Brasil, Turquia, Paquistão, Bangladesh e México. De entre os países asiáticos, o Vietname registou o maior aumento da produção o ano passado, com um acréscimo de 10,3% para 1500 milhões de pares. Já no top 20, além de Portugal cair para o vigésimo lugar, Espanha perdeu 3 lugares e ocupa a 19ª posição. Itália subiu um lugar e é agora o 12º maior produtor mundial. A Birmânia entra direta para a tabela na 17ª posição.

"Só Portugal resiste"

"A distribuição geográfica da produção de calçado permaneceu relativamente inalterada na última década: a Ásia continua a dominar, respondendo por mais de 87% da produção mundial, a mesma percentagem de 2010. Não há evidências nos dados que comprovem movimentos relevantes de reshoring na indústria global de calçado. A Europa responde, atualmente, por apenas 2,7% da produção mundial", refere a APICCAPS, em comunicado, sublinhando que "só Portugal resiste" neste cenário.

A comparação aqui é feita com 1985, altura em que "mais de 35% da produção mundial de calçado" era assegurada pelo continente europeu, em especial por Itália (545 milhões de pares de sapatos produzidos em 1985), Espanha (205 milhões de pares), França (198 milhões de pares), Alemanha (171 milhões de pares) e Reino Unido (136 milhões de pares).

"Nas últimas quatro décadas, a produção de calçado na Europa caiu a pique", refere a associação, sublinhando que, em conjunto, estes cinco países produzem hoje menos 900 milhões de pares de sapatos, o que representa uma quebra de 70%. Itália produziu, o ano passado, 162 milhões de pares, Espanha 83 milhões, França 15 milhões e a Alemanha 58 milhões de pares. O Reino Unido ficou-se pelas 5 milhões de pares. Em contrapartida, Portugal reforçou a sua produção em 50% neste período para os 84 milhões de pares produzidos em 2022. Representam 0,4% da produção total no mundo (0,3% em 2021). Comparativamente a 2021, o crescimento total em quantidade foi de 10,5%.

Exportações cresceram 9% em 2022

Também as exportações voltaram a crescer em 2022, com um aumento de 9%, para 15,2 mil milhões de pares, número que está acima dos valores pré-pandemia mas ainda aquém do recorde de 2014, em que foram exportados 15,7 mil milhões de pares. Em termos de valor, as exportações mundiais de calçado atingiram um novo máximo de 175,2 mil milhões de dólares em 2022, mais 16,1% do que no ano anterior. Em termos acumulados, na última década, o crescimento é de 42,9%.

Também nas exportações a China ocupa o lugar cimeiro e reforçou a sua quota, que passou de 60,4%, em 2021, correspondente a 7.887 milhões de pares exportados, para 61,3% o ano passado, e a um total de 9.308 milhões de pares. Mas se olharmos para a última década, a China perdeu 10 pontos percentuais, em favor de países como o Vietname, que surge em segundo lugar no top de exportadores, aumentando a sua quota de 2% há 10 anos para os 9,9% atuais.

Preço médio português caiu 2%

O preço médio de exportação continua a crescer e atingiu, em 2022, os 11,54 dólares por par, mais 6,5% do que em 2021 e um aumento de 38,2% numa década. Em termos regionais, o preço médio varia entre os 7,78 dólares da indústria africana e os 36,19 dólares da Oceania. A Ásia tem um preço médio de exportação de 8,65 dólares que compara com os 29,85 dólares da indústria europeia.

Com um preço médio de 27,99 dólares, "Portugal mantém o 2º maior preço médio de exportação entre os principais produtores mundiais de calçado", destaca a APICCAPS no comunicado. Comparativamente ao ano anterior, o preço médio português caiu 2,13%, correspondente a menos 61 cêntimos por par exportado. Já Itália, que mantém a liderança neste domínio, reforçou o seu preço médio de exportação de 60,21 para 61,55 dólares o par. É um aumento de 2,2%.

Quanto ao consumo mundial de calçado em 2022, mais de 5 em cada 10 pares de sapatos foram comprados na Ásia, que mantém uma quota de 53,2% contra os 56,1% do ano anterior. A América do Norte reforçou a sua posição, passando de 14,9 para 15,9% do consumo mundial, tal como a Europa que foi responsável por 14,9% dos sapatos comprados em todo o mundo (13,3% em 2021). África passou de 8,9% para 9% e a América do Sul dos 5,9% para os 6,1%. A Oceania manteve-se nos 0,9%.

Consumo sobe na Europa e América do Norte

O consumo per capita de calçado a nível mundial varia entre os 1,4 pares em África e os 5,9 pares na América do Norte (havia sido de 5,3 pares no anterior. "A China continua a ser o principal consumidor de calçado, não obstante a sua participação para o total global tenha caído para 17,9%. O consumo nos Estados Unidos teve um notável aumento de 12,7% no ano passado, recuperando a 2ª posição no consumo, ultrapassando mesmo a Índia, o país mais populoso do mundo desde o início do ano", refere o comunicado da APICCAPS.

Com um consumo de 2.347 milhões de pares em 2022, a União Europeia representa o quarto maior mercado. O comércio médio per capita cresceu aqui de 3,8 pares em 2021 para 4,5 pares o ano passado.

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