Proprietários seniores ganham solução para vender casas com usufruto

Chegou ao mercado uma proposta de compra de habitações com desconto, que assegura ao vendedor o seu usufruto vitalício. Modelo tem expressão na Europa, mas é ainda pouco conhecido no país.
Fundador da Empathia, Pedro Almeida Cruz, reconhece que este "é um negócio em que é preciso mudar mentalidades". Foto: Diana Quintela/Global Imagens
Fundador da Empathia, Pedro Almeida Cruz, reconhece que este "é um negócio em que é preciso mudar mentalidades". Foto: Diana Quintela/Global Imagens
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O conceito não é novo, mas o modelo de negócio é uma estreia em Portugal e na Europa. Quem o afirma é Pedro Almeida Cruz, que este ano constituiu a Empathia, uma empresa de mediação imobiliária para fazer a ponte entre proprietários de imóveis com mais de 75 anos e investidores. O objetivo é vender as casas destes seniores, garantindo o seu usufruto vitalício sem pagamento de renda e, em simultâneo, dinheiro em caixa. É uma solução para quem necessita de financiamento para responder a um problema de saúde, realizar um sonho ou até antecipar a herança.

Pedro Almeida Cruz, que tem um percurso profissional de três décadas no ramo dos seguros, garante que a Empathia “é um projeto único e distintivo”. A aquisição de casas a idosos com usufruto até ao último dia de vida é um negócio que já tem vários anos em França e em países do Norte da Europa. Nestes mercados, é comum o proprietário sénior vender a sua habitação nestes moldes, mas fica a pagar uma renda. É neste ponto que a Empathia se distingue. Como afirma o fundador da empresa, o modelo não prevê pagamento de rendas, embora em algumas situações possa ser aconselhável o arrendamento.

Vamos por partes. Segundo Pedro Almeida Cruz, a Empathia assume o papel de agente imobiliário. Angaria o imóvel e procura colocá-lo junto de investidores com desconto. Essa redução de preço face aos valores praticados no mercado é o fôlego financeiro que permite a isenção de renda e a rentabilidade ao comprador. A mediadora está especialmente focada nas pessoas com 75 anos ou mais que, no nosso país, são mais de 1,2 milhões, diz. Isto sem excluir os interessados mais novos.

A esperança de vida à nascença está atualmente muito próxima dos 85 anos, diz. Concretamente, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística, no triénio 2021-2023 a esperança média de vida á nascença foi estimada em 81,17 anos, sendo de 78,37 anos para os homens e de 83,67 anos para as mulheres. É com base neste indicador e na idade do proprietário que é feito o desconto no preço do imóvel. O responsável chama-lhe a “taxa de longevidade”, que tem de corresponder à rentabilidade esperada pelo investidor. Quanto mais jovem for o proprietário, menor é o desconto. Neste caso, o arrendamento após a venda pode ser benéfico para o idoso.

Como frisa Pedro Almeida Cruz, “as pessoas a partir de certa idade não querem sair da sua casa, têm lá a sua história, mas, por vezes, têm um problema de saúde e não têm dinheiro para contratar uma enfermeira, ou querem apoiar os filhos e os netos, ou mesmo ter uma vida mais confortável e a venda da casa, que pode também ser uma segunda habitação que detenham, permite-lhes obter financiamento”. Há também a possibilidade dos vendedores arrendarem a casa a terceiros, mantendo o usufruto, e assim obter um maior rendimento do imóvel.

Os potenciais compradores são seguradoras, fundos de investimento e até autarquias, aponta. Os municípios podem, assim, “ajudar as pessoas que lá vivem e mais tarde reintegrar essas casas no mercado, reduzindo a gentrificação e a descaracterização que as cidades podem estar a registar”, diz. Mas também investidores individuais dispostos a comprar um imóvel com desconto e a aguardar pela sua posse.

O responsável destaca ainda que outra das diferenças da Empathia face a empresas congéneres europeias é a intenção de criar uma rede de parceiros. Segundo adianta, está a firmar acordos com óticas, fundos de pensões, hospitais, empresas de assistência domiciliária, agências de viagem, residências para a terceira idade, entre outros serviços.

A Empathia está especialmente interessada em imóveis nas áreas urbanas de Lisboa e Porto. Pedro Almeida Luz admite que este “é um negócio em que é preciso mudar mentalidades”, mas acredita no seu “grande potencial”. Por isso, a Empathia está registada para toda a Europa. “É um modelo que pode ser internacionalizado”, frisa. Como há muito terreno a desbravar, o plano de negócios prevê para os primeiros três anos a mediação de três centenas de habitações, que representará um volume de vendas acumulado da ordem dos 50 milhões de euros. 

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