
Na hora de comprar alimentos, a proteína é o ingrediente mais procurado e decisivo no momento da escolha dos produtos, sendo identificada como o “ingrediente-estrela” num estudo da consultora Innova Market Insights para a PortugalFoods, gestora do cluster do setor agroalimentar em Portugal, que apresenta nesta terça-feira, no TecMaia, as tendências alimentares para 2024.
Cerca de 42% dos inquiridos apontam a “proteína” como um ingrediente essencial para uma melhor gestão do corpo e do peso. Por esse motivo, o estudo sugere às indústrias alimentares que comuniquem abertamente nas embalagens e na promoção dos produtos a presença desse ingrediente, notando que as gerações mais novas procuram proteína e minerais, enquanto as mais velhas querem produtos com vitaminas, fibras ou Ómega-3.
De um modo geral, o estudo revela que “os consumidores continuam preocupados com aumento dos preços, mas tendencialmente estão a mudar o enfoque nos custos para o cuidado com o que ingerem, preferindo alimentos com ingredientes e preparados para cuidar da sua saúde”, referem os promotores do evento em comunicado.
Mas, em simultâneo, os consumidores estão “cada vez mais focados em selecionar produtos alimentares de marcas que, no seu processo produtivo, tenham preocupações com o ambiente. Ou seja, não procuram apenas produtos baratos, mas alimentos pensados para impactarem positivamente o melhor de dois mundos: o corpo e o planeta”.
Nesse contexto, Deolinda Silva, diretora executiva da PortugalFoods, recomenda às indústrias transformadoras do setor que assumam como um “desígnio crucial ter produtos que sejam competitivos para o consumidor, com qualidade e que transmitam confiança – seja nos novos ingredientes utilizados, seja nas suas iniciativas de sustentabilidade”.
Por esse motivo, aconselha os fabricantes a realçar nos seus produtos a presença de determinados ingredientes, tendo em conta as 10 grandes tendências que “vão impactar o setor agroalimentar no curto e médio prazo”, identificadas pelo estudo.
Para Marta Delgado del Río, da Innova Market Insights, “os consumidores têm absorvido muita informação nos últimos anos e associam produtos de qualidade a determinados ingredientes saudáveis, desde ‘superfrutas’, proteínas ou até bactérias amigas para o organismo. Daí que a primeira tendência de mercado para 2024 seja a aposta clara nos ingredientes-estrela, das proteínas às fibras”.
“São o fator decisivo na escolha dos consumidores na hora da compra, com a proteína a ser o ingrediente mais procurado.”
“Os consumidores pretendem que as marcas sejam mais próativas e vão além do “chavão” da sustentabilidade. Querem garantias de que estão a tomar ações concretas que protejam o ambiente e a natureza e, por isso, procuram produtos que usem menos água, protejam as florestas ou utilizem apenas energias renováveis no seu processo produtivo.”
“Mais de um terço dos consumidores pretendem ser pró-ativos na gestão da sua saúde – mostrando, antes de mais, preocupações com a gestão do peso, mas também com a saúde do coração, dos ossos e das articulações. A indústria, por isso, deve procurar conhecer ao máximo os seus públicos-alvo e definir as mensagens de acordo com as principais preocupações de saúde que cada um demonstra: se Baby Boomers, os consumidores preocupam-se, sobretudo, com a saúde cardíaca, e têm foco no envelhecimento saudável e na mente sã; já os da Geração X colocam a questão da gestão do peso no topo das suas prioridades; por seu turno, os Millenials e Gen Z mostram preocupações com o seu sistema imunitário, preferindo também produtos positivos para a sua pele e que lhes proporcionem energia e vitalidade – sem nunca colocar de lado, aquelas que são prioridades comuns a todas as gerações: a gestão do peso e a saúde do coração.”
“Nesta tendência, apontada já em 2023, os alimentos à base de plantas sobem claramente de posição na lista de tendências: se, antes, era apenas pensado para o nicho vegan, há espaço para alargar a base de consumidores, uma vez que estes começam a ver nestes produtos uma forma de diversificarem a sua dieta. Mais de metade dos consumidores expressam também o desejo de experimentar versões plantbased de culinária tradicional e local, com a indústria a responder com a oferta de refeições prontas em formatos acessíveis e simples – incluindo, por exemplo, finger food, snacks, mas também refeições principais.”
“Mais de dois terços dos inquiridos dizem-se disponíveis para experimentar e incluir nas refeições do dia-adia sabores do mundo. E metade dos mais jovens quer mesmo provar e cozinhar refeições de zonas distantes do planeta. No entanto, a preocupação com o ambiente e com os produtos locais mantém-se. Os clientes preferem produtos produzidos nos seus próprios países, valorizando quem apresenta essas opções, mesmo para pratos tradicionais de outras geografias.”
Durante a pandemia, muitos consumidores puderam dedicar mais tempo à cozinha e a criatividade culinária floresceu. Aproveitaram para consumir produtos mais saudáveis e, ao mesmo tempo, que lhes permitissem economizar no custo das refeições. Com a inflação crescente, essa tendência mantém-se no pós-pandemia, seja pelas marmitas saudáveis e económicas, seja por “a casa” se ter tornado num espaço mais acolhedor, onde se convive e se partilha a paixão por produtos, técnicas de cozinha e experiências gastronómicas. As novas tendências passam pelo lançamento de kits com ingredientes para desenvolver determinados tipos de culinária (japonês, coreano, mexicano) ou por produtos pré-confecionados que recriam pratos e bebidas habitualmente consumidos na restauração.”
“Os consumidores pretendem que os snacks e aqueles produtos que lhes transmitem conforto – bolachas, produtos de pastelaria, chocolates, gelados, refrigerantes, entre outros – sejam feitos com ingredientes “saudáveis”, adicionando probióticos, prebióticos, antioxidantes, cálcio, fibras naturais; substituindo ou reduzindo açúcares refinados; usando fórmulas e declarações “sem álcool”, etc..”
“Os oceanos vão ser as quintas do futuro, usando processos produtivos mais sustentáveis, e os produtos de origem marinha vão entrar na alimentação regular. Os lançamentos de alimentos e bebidas com microalgas, por exemplo, aumentaram mais de 42%, em termos acumulados, entre 2020 e 2023. Seja pelo sabor, seja pelo crescimento da dieta vegan, pelas excelentes características nutricionais ou pelas declarações de sustentabilidade, as algas entraram no dia-a-dia dos consumidores.”
“Outra das tendências que conjuga saúde e alimentação passa pelo enfoque dos consumidores na hidratação. As bebidas e os ingredientes que antigamente estavam confinados aos desportos e aos ginásios – eletrólitos, isotónicos e bebidas de frutas antioxidantes – saltaram para as prateleiras dos supermercados. A preocupação com o envelhecimento saudável criou um mercado onde águas com adição de nutrientes e as suas características únicas (como, por exemplo, as águas alcalinas) são muito valorizadas pelos consumidores. A necessidade de se manter hidratado fará, igualmente, aumentar o mercado das águas com sabores – já existente –, mas agora mais concentrado em adicionar nutrientes e vitaminas a essa oferta.”
“A transparência e a honestidade na informação nutricional são fulcrais para os novos consumidores, numa era de desinformação. Metade referem recear que as marcas os enganem na sua comunicação. Por isso, preferem que as embalagens sejam claras, com um bom conteúdo e sem conteúdos e elementos visuais exagerados.”