Pulverizar sem desperdício de químicos, com vantagens ambientais e económicas. Este é provavelmente o sonho de muitos agricultores, nomeadamente de vitivinicultores. O projeto CARTS já foi testado no terreno, mais concretamente em vinhas, e vem mostrar que isso é possível. Este feito valeu à Hexastep um lugar nas trinta finalistas do Prémio Inovação NOS, na categoria de Pequenas e Médias Empresas (PME).
“O objetivo do projeto CARTS é desenvolver um sistema de controlo de pulverizadores de vinha inteligente, que permite fazer a aplicação doseada de fitofármacos (todos os produtos químicos que são aplicados no tratamento da vinha).” Quem o diz é Luís Lima, responsável pela área de tecnologia e de desenvolvimento de software no âmbito do projeto CARTS.
Segundo este responsável da Hexastep, a seleção da pulverização é feita em função do volume de folhagem. Ou seja, consoante a concentração de folhas, aplicam-se mais ou menos fitofármacos em tempo real. Luís Lima explica o processo: “O sistema CARTS é composto por sensores, controladores e atuadores. O pulverizador é equipado com sensores que medem o volume da vinha e, enquanto este está a andar, a informação é emitida por um computador que se encontra a bordo e que envia comandos diretamente para as válvulas para abrirem mais ou menos, conforme as necessidades.”
E são, sobretudo, três as vantagens em relação aos pulverizadores tradicionais. Desde logo, há um benefício económico porque vão ser aplicados menos pesticidas ou outros químicos. E isto, garante o gestor do projeto, “representa cerca de 70 por cento do custo de produção de vinho”. O ambiente também fica a ganhar, uma vez que há menos desperdício de químicos porque estes são direcionados para as culturas e não para as terras ou para as águas. Além de menos poluição, a qualidade do produto é superior porque “uvas com menos químicos fermentam melhor e produzem melhor vinho”.
E ao que tudo indica, os resultados são animadores. Este protótipo CARTS final (foram feitos vários intermédios) já foi sujeito a vários testes reais e mediram-se poupanças que variam entre os 25 e os 55 por cento, dependendo do estado vegetativo da vinha.
Para Luís Lima e Henrique Soares, diretores executivos da Hexastep, este é um indicador positivo tanto para os fabricantes de pulverizadores, que são o cliente alvo, como para o agricultor (utilizador final). Para que este obtenha lucros significativos deverá, no entanto, ter vinha com mais de dez hectares. Vinha (para já é o foco principal) ou outra cultura vertical na qual seja possível utilizar este sistema.
Além da Hexastep, estiveram envolvidos neste desafio a Universidade de Évora e a Fundação Eugénio de Almeida, que forneceu as vinhas e as máquinas para realizar os testes de campo.
Nascida em 2002, e como explica Henrique Soares, a Hexastep é uma PME tecnológica dedicada ao software e eletrónica em várias áreas, da indústria à agricultura, como foi o caso. Com cerca de 20 trabalhadores (engenheiros informáticos e eletrónicos), tem atividade em Almada, Évora, Holanda e Angola. “Conseguimos ser competitivos, tecnicamente interessantes e há todo um mercado à nossa espera”, afirma Henrique Soares, adiantando que o próximo passo é a expansão na Europa. Mas, para já, é ver o CARTS dar frutos.