Quais os desafios sentidos no setor vinícola no primeiro semestre de 2024?

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Após colher os frutos dos primeiros seis meses de 2024, importa olhar criticamente para os resultados e fazer um balanço. Registou-se um decréscimo das exportações de vinho em Portugal, em cerca de dois dígitos. Afinal, que fatores estão a contribuir para este decréscimo? 2024 vinha com a promessa de ser um ano desafiante para as empresas, será que a inovação e a qualidade são o segredo para contornar as reticências do consumidor?

De facto, a produção de vinho aumentou este ano - representando um acréscimo de 10% face à campanha do ano anterior, a produção mundial de vinhos (não apenas em Portugal) não pára de crescer, no entanto, o seu consumo parece estar em contraciclo pois, a nível mundial, verifica-se uma descida.Este fator faz com que haja um desequilíbrio no mercado da oferta e da procura de forma mais intensificada. São tempos de maior instabilidadeno setor vinícola mundial e, por esse motivo, é necessário que as empresas e as PMEestejam atentas a novas oportunidades, focadas em encontrar soluções, não baixando os braços. É tempo de enfrentar as adversidades.

Importa recordarmos que, nos últimos anos, vários fatores têm vindo a contribuir para o aumento da incerteza e a maior consciência no ato da compra, por parte dos consumidores. Em 2020, com o início da pandemia, registaram-se quebras de cerca de 11% no mercado nacional nos primeiros meses. No ano de 2022, o despoletar da guerra na Ucrânia fez disparar o aumento do preço dos bens alimentares, em que, um ano após o início deste conflito, os portugueses passaram apagar mais 25% pelo seu cabaz alimentar. E, nos últimos meses, com a intensificação dos conflitos na região do Médio Oriente, o risco de um aumento da inflação na Europa é constante. Estes acontecimentos, em conjunto, acabam por ter consequências naquele que é o comportamento do consumidor e do próprio produtor, acabando por se repercutir numa chamada época de reflexão, em muitos mercados e setores, sendo um deles o vinícola.

Para fazer frente ao panorama atual, existem duas preocupações prementes: o fortalecimento da dita ‘classe média’ e a capacidade de retenção do talento jovem. Ou seja, por um lado, deve haver incentivos e uma forte aposta na classe média, na medida em que é nesta que se centra a produção, e visto a classe média portuguesa ser das que tem menos poder de compra na União Europeia. E, por outro lado, devem ser criados mecanismos de retenção dos jovens pois, com a intensificação da globalização e facilidade linguística, estes acabam por procurar oportunidades num círculo mais alargado e desprendem-se com maior facilidade do tradicional ‘amor à pátria’.

O cenário atual não é animador e para as PME do setor conseguirem distinguir-se, e atingir o estatuto de PME Líder e de Excelência, devem ter algumas preocupações: contratar mão de obra regional, apostar na área da inovação, procurar incessantemente o ‘gosto do mercado’ e oferecer uma qualidade superior face ao custo dos produtos. Que resultado podemos esperar se apostarmos nestes pilares? Um 2024 com sucesso de vendas, mesmo em tempos cujo sector não pede por um brinde.

Duarte Leal da Costa, diretor executivo da Ervideira

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