Com 1,36 mil milhões de habitantes, mas um grave problema de envelhecimento da população com consequências negativas na economia, a China prepara-se para deixar cair a política do filho único, imposta há 35 anos precisamente para controlar o crescimento demográfico.
Mas os esperados efeitos na economia, cuja desaceleração preocupa as autoridades chinesas e mundiais, não deverão fazer sentir-se para já.
A decisão de acabar com a limitação de um único filho por casal “é o reconhecimento de que a política anterior não era muito sustentável a curto prazo”, entende o presidente da IMF-Informação de Mercados Financeiros, Filipe Garcia.
Mas este responsável não espera, no entanto, que esta decisão venha a refletir-se no aumento do ritmo de crescimento económico. “Será fundamentalmente um desvio de dinheiro dos pais para os filhos”, explicou este analista ao Dinheiro Vivo. “A não ser um aumento do mercado para as marcas que vendem produtos infantis, não haverá no curto prazo um grande impacto económico”, acrescentou.
Como lembra Filipe Garcia, “já havia muitas exceções à política do filho único, mas o que acontece é que a maioria dos casais já não quer ter mais do que um filho”. E vai ser preciso igualmente combater isso.
Ao nível na mão de obra, mesmo que mude a política da natalidade na China, será necessário esperar pelo menos uma geração para sentir igualmente os seus efeitos. “Só daqui a 15-18 anos é que a nova população atingirá a idade economicamente ativa”, frisou.
Já Rui Bárbara, economista do Banco Carregosa, pensa que a mudança de política na China, de olhos postos no problema populacional, “vai ajudar”, mas considera também que já não irá a tempo de travar uma estagnação do número de potenciais novos trabalhadores chineses na década de 20.
As previsões indicam que após 2023 a população economicamente ativa irá cair até oito milhões a cada ano. Só para se ter uma ideia, em 2007 havia seis adultos economicamente ativos para cada reformado. Até 2040, essa proporção deverá cair de dois para um.
“A China está com uma estrutura de população a envelhecer rapidamente, já atingiu o pico de trabalhadores e, a partir de 2020, o número de pessoas em idade ativa estará a diminuir, à semelhança do que se passou no Japão, com repercussões no crescimento e no aumento da despesa pública”, referiu Rui Bárbara.
Daí, que tenham que pensar no problema populacional,defendeu o economista, “e mesmo que não vão a tempo de evitar uma estagnação da década de 20, para depois de 2030 irão possivelmente a tempo”, salientou.
Reconhece que quanto mais desenvolvido o país, maior a tendência para uma menor natalidade, mas reforça que “um filho por casal está abaixo do rácio de natalidade”. Portanto, a mudança é bem vinda.