Qual o valor de um grau universitário no século XXI?

Publicado a

No século XX a conquista de um grau universitário dava lugar a um percurso profissional relativamente previsível e linear, essencialmente centrado na acumulação de conhecimentos específicos no âmbito de certo ramo do saber. A posse de um canudo representava um indiscutível selo de excelência intelectual, de erudição e de competência em determinada área do conhecimento, proporcionando uma vantagem competitiva de foro substancial no mercado laboral, tendendo os graduados a prosseguir carreiras convencionais, em conformidade com as matrizes de então.

Hoje esse trajecto traduz-se em odisseia complexa e multifacetada, jornada imprevisível, repleta de desafios e de oportunidades, epopeia de adaptação e de metamorfose. É que despontou, entretanto, o terceiro milénio, acompanhado por uma avalanche de inovações tecnológicas e vertiginosa globalização, gerando um panorama profissional fundado em paradigmas distintos assentes num enquadramento de permanente mutação.

Neste novo contexto, a obtenção de um diploma de um curso superior permanece como pilar estrutural crucial na senda do sucesso profissional, não detendo, todavia, o monopólio de avalista de competência e triunfo. O graduado contemporâneo é compelido a adquirir e apurar outras competências, nomeadamente, um inesgotável apetite pela aprendizagem, pela adaptação, pela inovação e pelo pensamento crítico.

Com efeito, actualmente, o grau universitário é obtido num ecossistema profissional habitado por trabalhadores temporários, freelancers, empreendedores disruptivos e visionários inovadores, exigindo uma originalidade e adaptabilidade sem precedentes, assim como a capacidade de prosperar num enquadramento de fluidez e de imprevisibilidade e de percorrer um caminho de aprendizagem e de desenvolvimento contínuos.

No cerne desta revolução paradigmática, encontra-se a tecnologia, num ambiente em que o pensamento crítico e analítico não é apenas valorizado, mas indispensável para o sucesso profissional. O graduado tem de demonstrar competência académica na sua área do saber, tendo ainda de ter a capacidade de sintetizar, integrar e aplicar o conhecimento, discernindo com precisão entre informação genuína e desinformação num mar de dados que se encontra à sua disposição.

Mais importante ainda, o raciocínio crítico surge como bússola intelectual que orienta no seio de uma complexa teia de dilemas e desafios, bem como imperativo existencial que permite manobrar com destreza as intricadas vicissitudes da vida profissional (e não só).

Ou seja, o valor e os benefícios advenientes da obtenção de um grau universitário sofreram oscilação significativa. Navegar com sucesso este terreno mutável requer competências que transcendem o tradicional e o previsível, exigindo mentes críticas, ágeis e resilientes, capazes de navegar com astúcia e confiança num mundo em estado contínuo de fluxo e de transformação.

Neste cenário, as instituições de ensino superior, enquanto baluartes da erudição, podem e devem todas elas, sem excepção, dar prioridade ao pensamento crítico (e não à memorização mecânica), convidando não somente à absorção de factos, mas ao estudo meticuloso, à avaliação rigorosa, à dúvida como método, ao raciocínio autónomo e à construção de inferências logicamente fundamentadas, fornecendo assim ferramentas cuja utilidade ultrapassa largamente os horizontes académicos e que os alunos muito agradecerão.

Nota: A autora não escreve de acordo com o novo acordo ortográfico.

Patricia Akester é fundadora de GPI/IPO, Gabinete de Jurisconsultoria

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt