Quase um quarto dos senhorios enfrentam atrasos no pagamento das rendas

Dados do Barómetro da ALP – Associação Lisbonense de Proprietários mostra que um em cada cinco senhorios não atualizou as rendas de acordo com o coeficiente legal de 6,94%
Quase um quarto dos senhorios enfrentam atrasos no pagamento das rendas
Leonardo Negrão / Global Imagens
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Quase um quarto dos senhorios está confrontado com o incumprimento do pagamento de rendas dos seus inquilinos, indicam os dados do Barómetro da Associação Lisbonense de Proprietários - ALP. Em causa estão 23,6% dos inquiridos, o que leva a asscociação a sublinhar que este é um fenómeno que se tem mantido "sustentadamente alto" ao longo das sete edições deste inquérito.

"A maior alteração face às seis últimas edições é o facto de a fatia de senhorios que têm mais de seis meses de incumprimento de rendas liderar globalmente junto daqueles que estão a suportar perdas de meio ano. São, nesta amostra, 30,3% dos proprietários que têm rendas em atraso", indica a associação em comunicado, dando conta que "aqueles que acumulam perdas de dois a três meses de rendimento representam 28% das respostas".

Apesar deste agravar do problema, só 48,7% dos senhorios em causa pondera avançar com o despejo dos inquilos, sendo que a maior parte considera que tal "será [um processo]  demorado e terá mais custos do que o valor que está em dívida pelos inquilinos".

Para 18% dos proprietários, "a resolução passa sempre pela via extrajudicial", mas há 15,6% que mostram "compreensão pela situação económica e social que atravessam os arrendatários". Destaque, ainda, para 17% da amostra que "acredita que a justiça favorece sempre os inquilinos, mesmo em casos de flagrante incumprimento" e para os 4% dos senhorios que dizem "não ter meios para aceder à justiça".

Nesta sétima edição do Barómetro “Confiança dos Proprietários” da ALP – Associação Lisbonense de Proprietário ficamos a saber que um em cada cinco senhorios (21,4% dos inquiridos, para ser mais exato) não procedeu à atualização anual de renda de 2024 pelo coeficiente legal de 6,94%. "Se é verdade que cerca de um terço dos respondentes não o fez porque tem contratualizado por mútuo acordo outro coeficiente anual no contrato de arrendamento, há a destacar os 14% de inquiridos que responderam ter preferido actualizar a renda noutro valor percentual, por entender que o coeficiente apurado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) para 2024 poderia colocar os seus inquilinos em incumprimento", justificam.

Dos mais de meio milhar de respostas obtidas, 10% indicam que mantiveram a renda inalterada "por considerar que qualquer aumento que fosse seria incomportável para os agregados de arrendatários" e há ainda 9% que dizem não terem mexido nas rendas "por terem actualmente um rendimento que lhes permite ter uma vida confortável, sem necessidade de retirar poder de compra aos inquilinos".

Destaque, ainda, nas conclusões do barómetro para a "falta de confiança no mercado de arrendamento ao longo do ano passado, muito marcado pela instabilidade provocada pelo pacote “Mais Habitação”", com 9% dos inquiridos a darem conta que venderam imóveis que estavam afetos ao arrendamento tradicional e mais 6% que transferiram imóveis que estavam colocados no arrendamento tradicional para o arrendamento de curta duração.

"Metade dos respondentes acham que o imobiliário e arrendamento é um mercado com margens cada vez menos atrativas. Uma larga fatia de proprietários (43%) considera que o imobiliário e arrendamento são mercados burocráticos e difíceis de entender. Para 29%, é um investimento que exige custos operacionais excessivos, mas ainda assim, para quase um quarto dos respondentes (24%), é um mercado rentável e seguro para investir", pode ler-se no comunicado. Só 2% dos senhorios inquiridos celebraram contratos ao abrigo dos programas de arrendamento acessível ou do Programa “Arrendar para Subarrendar”, criado no âmbito do pacote “Mais Habitação”.

E quem é senhorio em Portugal? É uma "'profissão' envelhecida, mostra o barómetro, que indica que sensivelmente metade da amostra (48,2%) pertence à terceira idade, com mais de 65 anos, sendo que 33,9% tem mesmo entre 65 e 75 anos. Há apenas 1% de jovens proprietários com idade até aos 34 anos.

Mais de metade dos inquiridos (51,4%) revela ser dono de até cinco imóveis e mais de dois terços da amostra (76,4%) até dez. A maioria (93%) tem os imóveis colocados no mercado de arrendamento tradicional, 11% diz ter as casas em arrendamento de curta duração e 7,6% revela ter os imóveis alocados a arrendamento a estudantes. O barómetro da ALP revela ainda que “mais de metade dos senhorios auferem pelos imóveis que têm colocados no mercado, até três salários mínimos nacionais brutos (2460 euros)”.

“Este valor mantém-se totalmente estável ao longo das sete edições do barómetro. Os senhorios pertencem à classe média baixa. Pelos critérios de transição das rendas anteriores a 1990 para o NRAU teriam carência económica. Muitos dos nossos associados passam grandes dificuldades financeiras pois suportam rendas congeladas muito baixas”, sublinha ao Dinheiro Vivo Diana Ralha, diretora da ALP (ver entrevista ao lado).

Dos inquiridos para o barómetro, 56,4% revelaram ter contratos de arrendamento anteriores a 1990, ou seja, as chamadas rendas congeladas. E mais de metade destes recebem entre 50 e 100 euros de renda.

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