Quem sabe?

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Circula na internet um excerto de uma reportagem televisiva cobrindo um incêndio em Águeda. Veem-se um bombeiro a apagar o fogo, e outro a observá-lo. Em primeiro plano, alguém fuma um cigarro! Ouve-se uma narração nervosa, como o caos a acontecer. Acabado o cigarro, o homem atira a pirisca para o fogo! Assim como assim, (já) não há de ter mal. O bombeiro-espectador, não viu problema em que alguém fumasse o seu cigarrinho, nem a jornalista (que não o operador de câmara) viu ali motivo de reportagem. Exemplar.

Enquanto isso, em estúdio, um conjunto de especialistas desenvolve análises mais ou menos variadas. As implicações das alterações climáticas são, talvez, o denominador mais comum nos discursos. Sem preocupação de ser exaustivo, surgem, também, fatores como a importância da floresta no sequestro do carbono, a fragmentação e o abandono das propriedades, a má, ou inexistente, gestão florestal, a incúria alimentada pela ignorância, as espécies plantadas, a falta de meios de combate a incêndios, a sua má distribuição e/ou a má organização do processo.

Como economista sei que a floresta tem um préstimo que não é fácil de monetizar, em especial quando 97% da floresta é privada, a imensa maioria crescendo em minúsculas propriedades que não geram um valor que pague os custos de gestão (ser a exceção de pouco lhes vale, se houver um incêndio nos terrenos contíguos). O abandono não acontece por acaso. Que fazer? A Galiza é parecida connosco e parece ter vindo a ser bem-sucedida. O que fez? Por mim, daria prioridade aos incentivos, embora não exclua uma política mista que preveja a tomada de posse compulsiva, para fins de gestão, mas também mecanismos de compensação pelas externalidades positivas. Essa gestão poderia ser entregue a agentes (ONG, cooperativas, empresas) que se comprometiam com o pagamento de um rendimento fixo aos proprietários e, talvez, um prémio variável em função dos resultados. Economia e gestão. Precisaríamos, também, de muitos trabalhadores imigrantes cuja integração seria passo decisivo para o repovoamento do interior. Quem sabe...

Economista e professor universitário

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