
Com apenas uma década de existência, e sedeada a poucos quilómetros de Faro, a RatRig é uma empresa líder no setor da impressão 3D, para o qual cria máquinas, componentes e produtos. Concentrada no mercado Faça Você Mesmo, as impressoras RatRig são fabricadas e expedidas em kit para que sejam montados pelo cliente, o que permite preços atrativos de produção e do produto final. Uma vantagem competitiva que torna a firma portuguesa líder, cujo principal mercado são os EUA, seguido de perto pela Alemanha e, só depois, Reino Unido, França, Canadá, e por aí fora, chegando até à Austrália. A trajetória ascendente tem sido contínua, sendo que este agosto foi o mês mais forte na história da RatRig, com uma faturação de quase um milhão de euros.
Uma “calha”, uma simples calha em “V” - a V-Slot - com uma carruagem, que permitia estabilizar câmaras de filmar, lançada numa altura em que o YouTube e outras plataformas de vídeo estavam a massificar. Foi assim que começou a aventura RatRig, por volta de 2014, conta Sonat Duyar, hoje diretor Comercial da firma.
Duyar, nascido na Turquia, e Miguel Carvalho, natural da África do Sul, ambos com um dos progenitores portugueses com raízes no Algarve, acabaram por vir parar a esta região meridional do país. Os estudos em Lisboa - de Engenharia Física, o primeiro, e Engenharia de Telecomunicações, o segundo - não os impediram de voltar à terra que os viu crescer e de transformarem um velho armazém e os materiais que lá tinham na bem-sucedida V-Slot.
Não demorou muito para que os dois recém-criados empresários percebessem - pelo contacto próximo com os clientes, que sempre cultivaram - que grande parte da procura pelas suas V-Slots não era focada na estabilização de vídeo, mas sim na construção de estruturas de reforço para impressoras 3D que sofriam de muitas vibrações. Daí à produção própria de impressoras 3D RatRig foi um salto, embora tivesse implicado todo um processo de aprendizagem contínua ao longo de vários anos.
“Esta abordagem evolutiva foi o que permitiu que nós tivéssemos partido, neste mercado da impressão 3D, simplesmente como uma empresa que estava a oferecer estruturas de reforço para impressoras 3D já existentes - estamos literalmente a falar de umas molduras, uns frames -, mas com este processo de feedback contínuo que recebemos dos nossos utilizadores, ao longo do tempo fomos iterando e evoluindo, e culminámos no ponto de ser considerados hoje uma referência da impressão 3D, no que toca a uma das impressoras que tem mais impacto no mercado consumidor de impressão 3D”, explica o responsável.
Sonat Duyar frisa que, hoje, os “fatores diferenciadores fundamentais” da RatRig são a “tecnologia de ponta e a performance/velocidade”. Tudo graças à tal relação de proximidade com os clientes que faz deles, mais do que isso, quase seus colaboradores: “Estamos muito atentos àquilo em que as comunidades [RatRig] e os consumidores estão interessados, e temos sempre desenhado para ir ao encontro das necessidades deles, então sem dúvida que somos reconhecidos por estarmos sempre com a tecnologia de ponta, por termos as melhores performances que existem no mercado neste momento e também por termos algumas das maiores áreas de impressão no nível de preço em que estamos.”
Esta é a imagem de marca da RatRig a que se junta o facto de a marca nunca deixar que os seu modelos fiquem obsoletos, emitindo sempre atualizações. “Nós lançamos a máquina, depois lançamos um upgrade que permite atingir velocidade e acelerações mais altas.” São pacotes cujos preços tanto podem custar 100€ como 350, dependendo do material necessário para a funcionalidade acrescentada, explica. Isto, para máquinas cuja gama de preços, para quem adquire kits iniciais, oscila, consoante a versão, entre os 1200 e os 2000€+IVA.
Hoje a expertise da RatRig chegou a um ponto que a firma tanto oferece impressoras 3D, como máquinas de corte CNC (Computer Numerical Control). “Enquanto a impressora 3D faz adição de material, camada por camada, normalmente plástico, a segunda funciona por remoção, esculpindo um material previamente colocado no interior da máquina” explica o especialista.
Estas últimas são para clientes mais profissionais, sublinha Sonat Duyar, sendo que entre os vários modelos que a RatRig disponibiliza encontra-se já a Stronghold Pro em três dimensões diferentes com preços a rondar os 3000€, nas configurações topo de gama. Já no segmento das impressoras 3D, o mais recente lançamento foi um upgrade para adicionar uma segunda cabeça de impressão à V-Core 4, a 30 de agosto e tendo vendido centenas de unidades nas primeiras 24 horas.
Mas, afinal, quais são as mais-valias das impressões 3D? Desde logo a agilidade, frisa o diretor Comercial da RatRig, e dá o exemplo de um molde de uma peça que, uma vez concebido, só se torna rentável se for usado numa produção em escala. E se no dia seguinte for preciso uma peça diferente, não é viável, porque tem de esperar por um molde diferente, que demora tempo. “Com impressão 3D, eu posso fazer uma alteração no computador agora e as próximas versões do produto, que vão sair amanhã, já vão com a nova versão da peça, porque eu tenho sempre a produção da peça a acontecer.”
Aliás, sublinha Sonat Duyar, uma das grandes aplicações das impressões 3D vai ser o mercado super custom, em que cada componente tem uma forma única e personalizada para um cliente específico. “Por exemplo, próteses dentárias, próteses de outros tipos, para pessoas que ficaram amputadas. Palmilhas ortopédicas, porque cada pé é um pé e cada pessoa tem o seu problema. estamos a falar de coisas supercustomizadas, que é fácil imprimir em tempo real.”
E ainda que, tal como a RatRig, o grosso do mercado esteja, por enquanto, concentrado na produção de peças de plástico, esta é uma tecnologia tão nova que ainda tem muito espaço para crescer e inovar. "Talvez não tenham conhecimento disso", alerta o responsável, "mas hoje em dia já se faz impressão 3D de casas, ou seja, é possível imprimir 3D em betão, em metais, num monte de materiais, só que estamos a falar já de uma escala de investimentos tão grande que acabam por ser nichos ainda mais afinados."
Sonat Duyar consegue mesmo imaginar fábricas que fazem produção quase sem precisar de operadores, cheias de impressoras 3D, que operam 24 horas por dia, 7 dias por semana, sempre a trabalhar. E no dia em que esse produto se tornar obsoleto, não se perde todo o investimento feito na unidade fabril: uma mera reprogramação informática e no dia seguinte a fábrica está pronta a produzir outra coisa - mais um exemplo de agilidade.
Pela forma como a RatRig se posiciona no mercado e pelos métodos de produção assumidos, Sonat Duyar afirma: “Aplicamos o método científico ao mundo comercial. Formulamos hipóteses sobre o mercado e desenhamos o teste mais simples, rápido e barato que as permita validar. Reduzir o custo de testar, permite-nos testar rapidamente e com frequência, o que por sua vez nos permite aprender a grande velocidade.”
Quanto à sede da empresa no Algarve, foi uma questão meramente circunstancial, como se viu, pelas raízes familiares de Miguel Carvalho Fundador e CEO da RatRig e de Sonat Duyar. Mas foi uma acaso bem-vindo, porque quando é preciso apoios para evoluir, podem também contar com o suporte de instituições locais, como a CCDR Algarve.
Foi o que aconteceu quando foi preciso apostar na primeira expansão e em recrutar talento, em que a RatRig contou com ajudas da ordem dos 200 mil euros do CRESC Algarve 2020; e é o que vai ocorrer agora, em que a firma já se candidatou e ao novo programa do Algarve 2030 e obteve financiamentos que rondam os 100 mil euros para iniciativas de marketing, como sejam participações em “feiras de especialidade e aquisição de equipamentos para melhoria da eficiência produtiva”.