É com "uma mistura de cautela e esperança" que os analistas da IHS Markit perspetivam o que irá acontecer à economia em 2021, quando os mercados globais ainda vão sentir os efeitos da pandemia - mas também já o impacto da maior campanha de vacinação da história.
Nos Estados Unidos, a maior economia do mundo, os números parecem mais favoráveis do que chegou a temer-se em 2020. A Reserva Federal (Fed) reviu em alta as previsões para este ano, antecipando um crescimento de 4,2%, e revelou que a queda em 2020 deverá ter-se ficado pelos 2,4%, bastante menos do que os 3,7% calculados antes. O banco central norte-americano também melhorou a previsão relativa à taxa de desemprego, esperando agora que se fique pelos 5% em 2021 (contra 5,5% perspetivados em setembro e 6,7% registados em 2020).
Ainda assim, o tom dos comentários da Fed não foi otimista. "O caminho da economia vai depender significativamente da evolução do vírus", indicou o banco central. "A atual crise de saúde pública continuará a pesar na atividade económica, no emprego e na inflação no curto prazo, e representa riscos consideráveis à perspetiva económica no médio prazo." É isso que frisam também os analistas da IHS Markit na sua análise de lançamento do ano - daí a posição mista. "A economia norte-americana recuperou parcialmente da pior contração desde a Grande Depressão", frisam os analistas. "No entanto, uma nova onda de infeções de covid, a possível re-imposição de confinamento para controlar o vírus e o desaparecimento de estímulos aprovados em 2020 ameaçam enfraquecer o crescimento durante o início de 2021."
Por isso, a IHS Markit calcula que a recuperação será mais visível a partir do verão. "O progresso inesperadamente rápido nas vacinas deverá promover uma aceleração do PIB na segunda metade do ano", quando vacinas e tratamentos mais eficazes estarão disponíveis para enormes segmentos da população, o que irá mitigar a emergência de saúde pública e evitar novos confinamentos.
Um outro aspeto de interesse é a antecipação de que investidores e legisladores vão desviar o foco da covid para o ambiente e a sustentabilidade. Relevante também é a previsão de que o dólar continuará a enfraquecer, no que consideram ser uma resposta retardada à mudança de direção da Fed em 2020. A desvalorização da moeda dever-se-á ainda ao aumento na tolerância ao risco dos investidores e ao aprofundamento do défice comercial.
Já Daniel Bachman, responsável da Deloitte Services com o pelouro das previsões económicas nos Estados Unidos, avisa que o estrago feito na economia pode ser "crítico o suficiente" para que o crescimento estagne após o período inicial de recuperação. Isso levará a que a economia fique 2% abaixo do nível pré-pandemia nos próximos cinco anos.
Sendo este o cenário mais provável da nota (65% de probabilidade), há também uma previsão otimista: a de que a recuperação da procura desencadeie crescimento acelerado em setores como viagens, restauração, hotelaria e lazer, assim que a ameaça da pandemia se for. Importante é que o pior cenário, a probabilidade de recuperação lenta e prolongada, desceu de 25% para apenas 10%.
"O desenvolvimento de vacinas é inegavelmente uma boa notícia para consumidores e negócios. Mas o dano à economia, provocado pelo confinamento e sonegação de ajuda, está feito", frisa o responsável, no início da análise. "Os próximos meses vão mostrar a extensão - e sugerir a direção da recuperação."