As moratórias foram uma peça central na estratégia mundial de apoio económico aos bancos durante um período largo da pandemia. Sem as moratórias o crédito mal parado teria crescido exponencialmente colocado um grande número de bancos na falência devido à incapacidade de muitos devedores, particulares e empresas, em pagar as prestações em dívida.
O fim das moratórias, acordado e coordenado a nível da União Europeia, não leva em conta as diferentes velocidades de recuperação dos vários países e setores.
Tornou-se, assim, uma arma dos países centrais para forçar mais uma nova consolidação bancária europeia, eliminando ou comprando os bancos que venham a sair da crise em situação de maior vulnerabilidade.
O sistema financeiro português que já é completamente dominado por bancos, seguradoras e empresas financeiras estrangeiras europeias, pode ainda ser alvo da perda das poucas instituições portuguesas que restam - basicamente a Caixa, o Montepio e a Caixa de Crédito Agrícola.
A passagem de grande parte do nosso sistema financeiro para mãos estrangeiras representou uma enorme redução de ativos, de empregados, de sucursais, de possibilidade de financiar a economia nacional e de liberdade estratégica para o nosso país. Os Bancos encolheram, sendo agora muito mais pequenos em todas as dimensões relevantes do que eram em 2011.
Naturalmente os bancos espanhóis concentram as suas operações e a sua informática em Espanha, deixando em Portugal apenas a rede comercial reduzida ao essencial e alguns serviços de apoio. Outros, sempre que podem, fazem o mesmo.
As operações internacionais dos bancos portugueses foram vendidas ou incorporadas nas redes dos bancos compradores.
Quando vemos a profusão de reclames de "Vende-se" e "Arrenda-se" que inundam de novo a Grande Lisboa, quando percebemos que os preços das transações imobiliárias estão a diminuir, quando sabemos que o interesse de compradores estrangeiros se reduziu drasticamente, as gruas que por todo o lado reluzem ao sol surgem como prenúncio de nova crise imobiliária e financeira. Preocupante.
O atraso na vacinação, a aposta na vacina mais ineficaz contra a variante delta, as quarentenas impostas por ingleses, alemães e outros, levam o turismo e o emprego a recuperar mais lentamente e com ele todas as indústrias e serviços que lhe estão ligadas - os turistas constituem uma grande parcela do consumo nacional.
O fim das moratórias, a recuperação mais lenta do turismo e das indústrias correlacionadas, o desemprego, e a excessiva construção parecem alinhar-se para criar a tempestade perfeita no sistema financeiro.
Para minorar a situação o Governo anunciou que vai garantir 25% do crédito de empresas mais afetadas pela pandemia. Outra medida para ajudar os Bancos à custa dos contribuintes, mas que não parece suficiente para resolver o problema das moratórias, embora possa vir a implicar medidas de austeridade sobre a população.
As moratórias serão assim um peso para a recuperação, um fator de elevado risco para a Banca, e uma oportunidade para terceiros de conquistarem uma ainda maior parcela do nosso sistema financeiro.
Sem uma estratégia clara o país vai-se afundando em meias medidas que não resolvem, não despoletam o crescimento vigoroso que precisamos, e que nos vão mantendo neste clima depressivo persistente.