A pandemia transformou todo o ensino como nenhum outro evento na memória recente. Em questão de dias, as escolas fecharam campus e mudaram as aulas para online, alterando radicalmente a experiência de aprendizagem.
À crise do modelo de negócio e à revolução digital como forças promotoras da mudança na educação superior e executiva, junta-se uma terceira força igualmente relevante: a mudança no mercado de trabalho. No modelo padrão de ensino superior, as pessoas vão para a universidade na casa dos 20 anos e a licenciatura é uma passagem de entrada para o mundo profissional. Mas, de acordo com vários estudos, cerca de 50 % das profissões correm o risco de ser automatizadas nas próximas décadas. À medida que a inovação elimina alguns empregos e muda outros, a aprendizagem ao longo de toda a vida é mais necessária do que nunca, para acompanhar a evolução tecnológica sem ficar para trás, mantendo a capacidade de adaptação a novas formas de trabalhar, novos instrumentos e novos modelos de organização.
É tempo de repensar a oferta formativa e o próprio modelo de negócio, com vista à sustentabilidade das instituições de ensino. Será necessário um tipo de sistema educacional totalmente diferente do atual, para preparar as pessoas para o futuro do trabalho.
O mundo emergente da formação online oferece grandes vantagens e, nesse sentido veio certamente para se manter. Na realidade, permite a estudantes em países longínquos ou emergentes adquirirem formação a preços muito competitivos, permite aos países com uma estratégia bem alinhada fornecerem ensino superior de qualidade de forma massiva e abrangente e permite aos estabelecimentos de ensino verem o seu mercado globalizar-se e os seus programas enriquecerem-se com professores que de outro modo não estariam acessíveis. Contudo a concorrência de escolas de renome internacional é muito forte e, nesse sentido, a vulnerabilidade das escolas locais ou regionais aumentou bastante. O modo de ultrapassar é o estabelecimento de parcerias e redes de escolas que fortaleçam a sua presença no mundo.
A opção de formação online, presencial ou híbrida passará sobretudo pela experiência de aprendizagem oferecida em articulação com os objetivos de formação do participante. Por exemplo, não há dúvida que, para determinados programas de educação executiva, a modalidade presencial continuará a ser um requisito importante, pela maior riqueza do diálogo com os professores e pares, networking e profundidade da aprendizagem, pela atenção e tempo dedicado.
A reinvenção tem também de passar pelos curricula. Precisaremos de desenvolver competências de comunicação, criatividade, colaboração e pensamento complexo e sistémico, bem como abordar múltiplas disciplinas como data science, tecnologia, mas também empatia para aprendermos a relacionar-nos com os outros e ainda recuperar saberes mais humanistas, como lógica, literatura, antropologia e outros.
Reinventar uma instituição de ensino, sobretudo se tem uma vida já longa, não é fácil. Mas é garantia de futuro e promessa de uma melhor educação para muito mais pessoas. Além disso, raramente a necessidade e a oportunidade se encontram tão bem reunidas.
Dean da AESE