
A associação de hoteleiros, fundada em Paris há 70 anos, apresentou o seu 3.º Travel Book – uma espécie de revista para colecionador – e aproveitou para divulgar a assinatura recente de uma parceria inédita com a UNESCO. A trabalhar com este organismo da ONU desde 2014 - “muito antes de a sustentabilidade ser cool”, lembrou, em jeito de brincadeira, Rui Silva, diretor da Relais & Châteaux para Portugal e Espanha - a associação pretende, agora, transformar em ações concretas os esforços que pede a todos os membros da rede. Para isso, apresentou doze objetivos, divididos em três pilares de atuação, e assinou um protocolo com a UNESCO, para assim colaborarem no desenvolvimento e implementação dos projetos que apoiam a conservação sustentável e o recurso à diversidade biológica.
Cientes de que o setor da hospitalidade deixa, por norma, uma grande pegada ambiental, a Relais&Châteaux quer, desta forma, não apenas unir os seus membros em torno de um objetivo comum, mas garantir que consegue formar os seus hóspedes e envolvê-los também neste caminho.
“Consideramos ter poder, enquanto associação, e devemos usar esse poder para ter um impacto positivo”, continuou Rui Silva, durante um encontro com jornalistas na Fortaleza do Guincho, esta semana. O lugar foi escolhido por razões óbvias: o hotel foi a primeira unidade nacional a pertencer à Relais&Châteaux, que celebra 25 anos de presença no País. “Estamos a falar de objetivos que englobam os critérios ESG na sua totalidade”, portanto, as questões ambientais, sociais e de governo das sociedades. “A Fortaleza do Guincho é das que melhor representa esse compromisso”, continuou o responsável: “comeremos algas e azedas que foram apanhadas pelo [chefe] Gil Fernandes e pela sua equipa mesmo aqui ao lado, por exemplo” e o hotel continua a fazer o possível para manter as suas equipas satisfeitas enquanto garante a sustentabilidade financeira da operação.
Assim, a Relais&Châteux comprometeu-se – e, portanto, a todos os seus membros – a preservar as tradições de hospitalidade e as cozinhas do mundo; a contribuir para a proteção e o desenvolvimento da biodiversidade e a implementar ações diárias para um mundo mais humano. Isto implicará promover a riqueza de diferentes culturas de hospitalidade, interações com comunidades, produtores e fornecedores locais; servir comida que seja testemunho e expressão da singularidade e biodiversidade de cada local; promover produtos alimentares de qualidade e permitir que o maior número de pessoas entenda a sua importância.
As seis centenas de membros da associação comprometem-se ainda a contribuir para a regeneração e desenvolvimento de ecossistemas, a capitalizar a influência dos seus chefes de cozinhas para favorecer o desenvolvimento da agricultura regenerativa e a preservação dos oceanos através do apoio à pesca artesanal; contribuir para o combate ao aquecimento global através de novas práticas de gestão diária cuja implementação possa ser medida; atingir objetivos claros, até 2040, de gestão de água, energia e resíduou ou eliminação de plásticos.
E, em termos mais comunitários, as unidades pertencentes à Relais&Châteaux devem ainda apoiar comunidades locais, apoiando o património tanto cultural como artesanal, ao mesmo tempo que se comprometem a colaborar com elas no desenvolvimento da educação sempre que for necessário diminuir desigualdades.
No mesmo sentido, e para “implementar um mundo mais humano”, a associação compromete-se a ter equipas com condições de trabalho dignas e que permitam a valorização pessoal e profissional de cada um. Ao mesmo tempo, trabalharão com todos os agentes locais para promover estes compromissos em toda a cadeia de valor e, sobretudo, nas próprias unidades.
Já em maio do ano passado a Relais&Châteaux tinha promovido, no Alentejo, um jantar para assinalar o Dia Mundial dos Oceanos, e a resposta ao tema das Nações Unidas “Awaken New Depths” que marcou os meses de 2024. Na ocasião, os membros da Relais & Châteux fizeram um apelo para a suspensão do consumo de espécies marinhas sobre-exploradas, baseado em dados concretos e validados pela Ethic Ocean – uma organização ambiental francesa dedicada à preservação dos recursos piscatórios e ecossistemas marinhos. Nesse jantar esteve presente, no L'AND Vineyards, – um dos mais recentes membro nacionais da associação - Elisabeth Vallet, diretora da Ethic Ocean. Em redor do mundo, todos os membros da associação foram convidados a organizar ações locais para celebrar - e apelar à necessidade de – a pesca sustentável.
É com estas pequenas ações e chamadas de atenção nas várias geografias em que está presente, e envolvendo todos os membros da comunidades, que a Relais&Châteaux espera poder dar um contributo no sentido de se conseguir não apenas um mundo mais sustentável mas também uma ação concertada do setor, que promova comportamentos menos penalizadores para o ambiente, e mais positivos para as comunidades onde se inserem.
Portugal tem, atualmente, 12 hotéis que pertencem à Relais&Châteaux, e 13 restaurantes. Apesar de as unidades se poderem propôr à admissão nesta associação, passam depois por um processo de seleção que implica a visita-mistério de inspetores da organização, que têm de responder a um questionário com centenas de critérios que têm de ser seguidos para que as unidades possam ostentar o selo da Relais&Châteaux.