
Com a subida das taxas de juro, várias têm sido as famílias empenhadas em procurar soluções junto dos bancos para reduzir os encargos com as prestações. Os dados divulgados ontem pelo Banco de Portugal (BdP) confirmam que a renegociação do crédito é uma das principais respostas ao problema, já que as operações continuam em trajetória ascendente: em janeiro, totalizaram 768 milhões de euros, mais 26% ou 158 milhões, face aos 610 milhões de euros renegociados no período homólogo.
Daquele montante, 716 milhões de euros correspondem a renegociações de empréstimos para compra de casa, o que traduz um aumento de 137 milhões (+23,6%) em relação a janeiro do ano passado, altura em que os portugueses renegociaram um total de 579 milhões de euros nestes créditos. No final de dezembro, o supervisor dava conta de 8,8 mil milhões renegociados em crédito à habitação desde o início de 2023 - ora, com a evolução de janeiro, o valor sobe para 9,5 mil milhões.
Recorde-se que, para apoiar as famílias com empréstimos à habitação indexados a taxa variável, os quais representam 90% do stock nacional, o Governo aprovou, no final de 2022, um conjunto de medidas que permitem renegociar os contratos a custo zero - isto inclui alargar prazo, consolidar créditos, fazer um novo crédito ou reduzir a taxa de juro durante um período de tempo.
De volta ao montante renegociado em janeiro, outros 18 milhões dizem respeito a renegociações de crédito ao consumo, que aumentaram sete milhões de euros (63,6%) em termos homólogos; e 34 milhões a empréstimos para outros fins, que somaram mais 15 milhões (78,9%). Em conjunto, estas duas categorias totalizaram 52 milhões de euros em renegociações no primeiro mês do ano, mais 21 milhões (+67,7%) do que no igual período em 2023.
Em relação ao mês anterior, de dezembro, as renegociações de crédito à habitação aumentaram 13,6% (86 milhões de euros) e as de empréstimos ao consumo cresceram 125% (10 milhões de euros). O crédito para outros fins, por seu turno, foi o único a registar uma quebra no montante renegociado, de 2,8%, o correspondente a um milhão de euros. Contabilizando janeiro, as renegociações de crédito em Portugal já ultrapassaram os 10 mil milhões de euros desde o arranque do ano passado.
Ainda em resposta à escalada das Euribor, as amortizações antecipadas de empréstimos para compra de casa própria e permanente representaram 1,29% do stock de empréstimos em janeiro, menos 0,03 pontos percentuais do que no mês anterior, segundo as mesmas estatísticas. Não obstante, embora tenha diminuído, o peso destas operações foi o segundo mais elevado desde o início da série, em dezembro 2021.
Enquanto os reembolsos antecipados totais - que incluem os contratos finalizados por amortização da dívida do devedor, as consolidações de crédito em novo contrato e as transferências de crédito para outra instituição - assumiram 87% do montante amortizado, 13% correspondeu a amortizações parciais. Em 2023, os reembolsos antecipados quase duplicaram face ao ano anterior, para 10,1 mil milhões de euros.
Sinal de algum alívio na Euribor, a taxa de juro média dos novos contratos de crédito à habitação caiu em janeiro pelo terceiro mês consecutivo, fixando-se nos 3,81%, o que traduz não só um recuo de 0,18 pontos percentuais face a dezembro, como também o valor mais baixo em 11 meses, isto é, desde março do ano passado, revelam os mesmos dados do banco central.
Os contratos renegociados, por sua vez, mantiveram uma taxa de juro inalterada nos 4,39%, igual a dezembro. No seu conjunto, isto é, considerando os novos contratos e os renegociados, as novas operações de crédito à habitação viram a taxa de juro média reduzir-se pelo quarto mês consecutivo, passando de 4,12% em dezembro, para 4,03% em janeiro.
Já nos empréstimos ao consumo a taxa média dos novos contratos fixou-se em 9,44%, o valor mais alto desde fevereiro de 2014. Nos empréstimos para outros fins, por último, a taxa de juro aumentou 0,11 pontos percentuais, para 5,31%.