As referências aos brancos de Lisboa são antigas. Ferreira Lapa já o destacava em 1867, no Memória Sobre os Processos de Vinificação, quando escrevia que "gozam de antiga fama os vinhos finos da vila e termo de Torres Vedras. Nos livros estrangeiros de enologia é frequente, quando nomeiam os vinhos primorosos de Portugal, achar o de Torres logo depois do Porto, Madeira e Carcavellos". Uma referência que vai estar num livro da própria Adega Mãe com uma investigação e recuperação da história destes vinhos.
O projeto vinícola da família proprietária do grupo Riberalves arrancou em 2009, com um investimento inicial na ordem dos sete milhões de euros, para recuperar esta tradição dos grandes brancos da região, mas foi mais longe. Manteve a influência atlântica, com a quinta a poucos quilómetros da costa, mas acrescentou outra zona de vinhas mais dedicada aos tintos e ainda ganhou uma nova área dedicada às experiências. Experiências com castas estrangeiras e que permitem chegar a um interessante Vinha Experimental, baseado nas castas Assyrtiko, Gruner Veltliner, Vermentino, Semilion, Petit Monseng, Tocai Friulano e Gouveio.
Mas é nos brancos que Bernardo Alves quer focar a sua Adega Mãe, nome que presta homenagem à matriarca do clã Alves, Manuela Alves. Para isso, cerca de dez anos depois do lançamento do projeto, a Adega Mãe aposta numa renovação da imagem, sempre destacando a identidade atlântica: há novos rótulos, novo logótipo e também novos vinhos, numa reorganização da marca, que passa agora a contar com os vinhos de parcela. Ou seja, a experiência acumulada destes últimos dez anos permite agora lançar uma categoria que junta características próprias do terroir da adega para fazer o Vinhas Velhas, 100% Vital, de uma encosta em plena Serra de Montejunto e, em breve, um Viosinho e um Pinot Noir de parcelas também especiais da adega.
A reorganização da marca quer ainda reforçar o posicionamento dos reserva, nomeadamente na gama Dory, submetidos a melhores processos de vinificação e estágio, e criou dois vinhos para distribuição exclusiva nas lojas próprias: o Castelão e o já referido Vinha Experimental. A reorganização inclui ainda a gama de entrada, o Pinta Negra, que cresce em referências, como os reserva e os espumantes.
Sendo uma marca do grupo Riberalves, tem nos Dory uma homenagem aos barcos com o mesmo nome, as pequenas embarcações usadas na apanha do bacalhau ao largo da Terra Nova. Em plena adega, Bernardo Alves conta ao DV a importância destes barcos, que "iam para a água com um homem só. Eram largados pelo navio principal e depois em cada um ficava um homem a apanhar bacalhau, muitas vezes com o mau tempo perdiam-se e era trágico...".
Em homenagem a este esforço, há um Dory em plena adega, mesmo ao lado dos tanques de alumínio que guardam todos os vinhos da Adega Mãe, devidamente organizados: brancos para um lado, tintos para o outro, fruto de um recente investimento em cubas com a forma de ovo: "É um material acimentado e com esta forma permite um movimento constante do vinho e a sua evolução é completamente diferente", explica Bernardo Alves.
A renovação da marca, além da criação ainda de lojas próprias, incluindo online, passa também pela abertura do Sal na Adega, um restaurante no topo do edifício idealizado por Bernardo Alves, e com vista para as vinhas plantadas no vale.
Os vinhos da empresa estão presentes em 32 países, com Brasil, EUA e Ásia a serem os principais mercados. As exportações representam cerca de 70% do mercado da Adega Mãe, que faturou 4,4 milhões de euros em 2020, graças a uma produção de cerca de dois milhões de garrafas.