Rentabilidade da banca atinge máximos históricos

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Os bancos da chamada europa periférica, estão a superar valores de rentabilidade que não se viam desde a chamada grande recessão que marcou financeiramente o mundo em 2008, com o colapso de grandes bancos como o Lehman Brothers, e da qual ainda hoje permanecem sequelas ao nível das cicatrizes que deixaram em termos de potencial sistémico negativo para as economias. Recorde-se que desta grande crise financeira resultou também uns anos mais tarde uma crise de dividas soberanas na Europa, que abalou as fundações da zona euro, e da qual Portugal foi um dos países que sucumbiu por risco de incumprimento. Desde então, a implementação de medidas de regulação mais exigentes ao setor da banca, que afetaram a rentabilidade dos bancos, ao qual se juntou um longo ciclo de juros baixos, que como é sabido, também afeta a rentabilidade do negócio deste setor.

Nos últimos anos, fruto também da necessidade de subir taxas de juro por parte do Banco Central Europeu no sentido de controlar a inflação, os bancos voltaram aos lucros, e Portugal não foi exceção. Foi, aliás, nos países da Europa do Sul - tantas vezes criticada pelos seus pares europeus - onde o setor da banca maior rentabilidade trouxe. Em Espanha, Itália e Portugal, os cinco maiores grupos bancários registaram, em média e em base consolidada, uma rentabilidade anualizada dos capitais próprios médios (ROAE) de 15,0%, 15,6% e 18,1%, respetivamente, nos primeiros três trimestres de 2024. Estes são níveis que não são vistos desde 2007.

Foi o aumento da margem financeira que contribuiu significativamente para o aumento das rentabilidades em Espanha e Itália (+1,5 pp e +0,4 pp,respetivamente), enquanto em Portugal foi a queda dos gastos operacionais e do custo do risco (em grande parte atribuível à subscrição de apoios de provisões de uma única instituição que tinha feito grandes dotações em 2023) que contribuíram positivamente para o aumento do ROAE em 2024 (+1,9 pp e +3,0 pp, respetivamente). De um modo mais geral, a melhoria da rentabilidade financeira dos bancos do Sul da Europa também tem sido possível graças a um clima económico relativamente dinâmico - no caso de Portugal a consolidação do crescimento do setor do turismo pós-pandemia foi importante para reativar o investimento, atividade e criação de emprego. A eficiência operacional dos bancos dos países do “Sul” ganha maior evidência quando comparado, por exemplo, com o setor da maior economia da União Europeia, a Alemanha, onde a deterioração da economia resultou num aumento de 40% no custo do risco para os maiores bancos em 2024.

Os desafios para 2025, contudo, indiciam que este sucesso, pode ter atingido o pico, e que manter taxas de rentabilidade de dois dígitos deverá exigir bastante mais transformação. Apesar das diferenças nas contribuições entre 2023 e 2024, os efeitos das taxas de juro mais baixas ainda não estão totalmente refletidos nos resultados dos bancos do Sul da Europa. Esta tendência, de estreitamento da margem financeira por via da descida das receitas de juros, deverá continuar dada a grande proporção de empréstimos a taxas flutuantes detidos por bancos em Portugal e no Sul da Europa em geral. E isto, acrescido aos desafios estruturantes ligados à inovação digital no setor financeiro, que trazem maior concorrência, trazem riscos, mas também oportunidades ligadas à transformação do setor.

Economista, Presidente 
do Internacional Affairs Network

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