
Os economistas parece que não têm dúvidas de que a Reserva Federal (Fed) norte-americana vai anunciar amanhã o primeiro corte da sua taxa de referência desde 2020, ano a pandemia de covid-19, após um ciclo de subidas sucessivas com início em março de 2022 e até 26 de julho de 2023. Após um período de pausa, a instituição liderada por Jerome Powell deverá tomar ação e inverter a política, escudada na evolução favorável dos preços a caminho da meta de 2%, mas também nos indicadores da atividade económica. As taxas situam-se nesta altura entre 5,25% e 5,50%.
“A Fed deverá cortar a taxa de referência na quarta-feira, que se encontra em máximos de 23 anos”, antecipa Filipe Garcia, economista da IMF. “A justificação para o corte desta semana estará na evolução favorável da inflação em direção à meta da Fed, mas também nos crescentes sinais de desaceleração económica”, sublinha o economista ao Dinheiro Vivo.
A Reserva Federal deverá acompanhar o Banco Central Europeu (BCE) que, na semana passada, procedeu ao segundo corte deste ano das suas taxas diretoras, em 0,25 pontos percentuais.
Mas se a decisão de Powell de iniciar a descida das taxas de juro reúne consenso no mercado, a dimensão do corte é alvo de incerteza. Há quem aponte uma diminuição em linha com a do BCE na quinta-feira - 0,25 pontos percentuais - e quem quem indique uma redução mais significativa, de meio ponto percentual.
“O mercado está a atribuir, neste minuto [ontem, a meio da tarde], uma percentagem de 60% de probabilidade de um corte de 50 pontos base”, avança Filipe Garcia. O economista acredita, no entanto, que a descida ficará pelos 0,25 pontos percentuais.
“Apesar de o mercado estar a descontar cada vez mais um corte de 50 pontos base, parece-me que a Fed irá (ou deverá) cortar apenas 25 pontos base. Isto, porque um corte de 50 pontos base poderia assustar o mercado, dando a entender que a situação económica é de tal modo grave a ponto de justificar um corte mais amplo logo no início do ciclo”, acredita.
Pedro Lino, economista e CEO da Optimize e Dif Broker defende que o melhor para a atual situação económica do outro lado do Atlântico seria que as taxas de juro sofressem um corte mais expressivo, até porque entre a tomada de decisão e o impacto na economia há um desfasamento temporal.
“Acho que teremos um corte da Fed e, na minha opinião, deveria ser de 0,5% tendo com conta que a economia americana está a abrandar, mas os sinais que vêm das outras grandes economias mundiais não são melhores”, diz ao Dinheiro Vivo.
“O BCE reviu um baixa o crescimento da zona euro, embora ligeiramente, e os recentes dados da China mostram uma economia em forte desaceleração. As vendas a retalho e o PIB foram mais baixos do que o esperado, o que numa economia global terá impacto”, destaca.
Na reunião que hoje tem início e que termina amanhã, Jerome Powell também dará indicações sobre se as descidas serão para continuar. “Deverá sinalizar que à medida que a inflação se aproxima dos 2%, irá continuar a baixar os juros. Espera-se que em 2025 os juros nos EUA possam estabilizar nos 2,75%-3,0%, ou seja menos 2,25%”, adianta Pedro Lino.
Ontem, indica Filipe Garcia, o mercado acreditava que “até ao final do ano haverá pelo menos 100 pontos (um ponto percentual) de cortes, e que até ao fim de 2025 haverá 250 pontos base de reduções”.