As barras de ouro que estão guardadas nos cofres do Banco de
Portugal valem hoje quase menos cinco mil milhões de euros que no
início do ano. A razão é a queda a pique dos preços do metal
amarelo nos mercados internacionais, com o ouro a perder brilho,
fruto da especulação investidora de que a Reserva Federal (Fed) dos
EUA anuncie o início do fim do programa de estímulos à maior
economia do mundo.
As contas são simples de fazer. Portugal detém quase 383
toneladas de ouro, as quais, à cotação atual do metal amarelo de
1226 dólares a onça troy, valem 11 mil milhões de euros; no final
do ano passado, as mesmas reservas estavam avaliadas em 15,6 mil
milhões. Ou seja, desde o arranque do ano, o valor das reservas de
ouro do Banco de Portugal baixou 27%, o equivalente a uma
desvalorização de 4,6 mil milhões de euros.
E a perda potencial de valor das reservas - caso o Banco de
Portugal vendesse parte das suas reservas - ganha ainda uma maior
dimensão se for calculada com base no "pico"do preço do ouro
atingido a 5 de setembro de 2011. Nessa altura, o ouro atingiu o
máximo histórico de 1898,99 dólares, o que avaliava as barras de
ouro detidas por Portugal em 16,6 mil milhões de euros, ou seja mais
34% ou 5,6 mil milhões que o valor atual.
Portugal figura entre os países com maiores reservas de ouro no
mundo (ver tabela). De acordo com os dados mais recentes do World
Gold Council, relativos a setembro, Portugal é o 15.º no top
mundial. Mas a realidade é que o Banco de Portugal não compra nem
vende ouro desde o terceiro trimestre de 2006. As últimas vendas
ocorreram em 2003 e 2006 ao abrigo de um acordo com outros bancos
centrais, que limita as vendas deste ativo. No atual quadro legal da
União Monetária Europeia, os governos não podem dispor livremente
das reservas de ouro que são geridas pelos bancos centrais e o
resultado das vendas efetuadas fica retido nesses bancos e não pode
servir para amortizar dívida do país. Os bancos centrais estão
proibidos de financiar diretamente os Estados.
Considerado um ativo de refúgio pelos investidores em tempos de
crise, o ouro tem vindo a perder o brilho e a desvalorizar nos
mercados (ver gráfico), com os investidores à espera que a Fed
anuncie na reunião desta semana o fim do atual programa de estímulos
económicos, que consiste na injeção mensal no sistema financeiro
de 85 mil milhões de dólares (63 mil milhões de euros), através
da compra de dívida pública e créditos hipotecários, depois da
divulgação recente de indicadores económicos que têm vindo a
sinalizar a recuperação da maior economia do mundo.
Depois de já ter chegado a negociar abaixo da barreira dos 1200
dólares a onça troy em junho, o ouro está cada vez mais perto de
fechar o ano com o primeiro saldo negativo anual, depois de 12 anos
de ganhos consecutivos. E 2014 também não se avizinha favorável,
uma vez que várias casas de investimento apostam numa nova
depreciação do ouro no próximo ano. De acordo com as previsões
mais pessimistas, o preço do ouro poderá cair mais 15%. E o valor
das nossas reservas também.