Reter talento também no Estado

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Recentemente ficámos a saber que a Estrutura de Missão "Recuperar Portugal", organismo responsável pelo acompanhamento da execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), ainda só tinha preenchido cerca de metade das vagas criadas para o seu funcionamento. Dos 60 funcionários inicialmente previstos pelo governo, apenas haviam sido contratados 32 até ao final de maio. A explicação para isto está nas dificuldades de recrutamento de recursos humanos especializados pela Administração Pública.

É evidente para todos que o Estado não têm hoje capacidade para captar e reter talento. Dos enfermeiros aos médicos, passando por gestores, juristas, informáticos ou professores, são muitas as profissões especializadas de que o Estado carece. Situação que compromete a qualidade, prontidão e eficiência dos serviços públicos e, consequentemente, o desenvolvimento económico e social do país. As dificuldades de recrutamento da EMRP são um bom exemplo disso mesmo, pois sem funcionários qualificados não é possível executar de forma expedita e consequente o PRR.

O governo tem procurado amenizar a falta de quadros qualificados no Estado, designadamente com a recente alteração do Estatuto do Gestor Público, com o aumento do salário de entrada na carreira dos técnicos superiores e ainda com a valorização salarial dos funcionários com doutoramento. Mas creio que estas medidas, por serem avulsas e algo tímidas, apenas atenuam o problema. Sem uma política de recursos humanos integrada, ambiciosa e de longo prazo, dificilmente o Estado terá capacidade para captar e reter talento.

Essa política passa, desde logo, pela valorização dos salários na Administração Pública, em especial dos técnicos superiores, que têm sido os mais penalizados pela contenção orçamental. Para os profissionais mais especializados, como os citados anteriormente, deixou de ser atrativo ser empregado do Estado. Já não são só os médicos que preferem trabalhar no setor privado, onde têm melhores remunerações, perspetivas de carreira e possibilidades de formação. Na verdade, em quase todas as profissões qualificadas deixou de compensar integrar a Função Pública.

Para que o Estado volte a ser competitivo na atração de talento, é indispensável uma política de recursos humanos que valorize as competências especializadas e que tenha em conta que, mais do que um emprego para a vida, os jovens querem ter oportunidades de crescer profissionalmente e sentir-se realizados.

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