Retoma em tempo de guerra

Publicado a

E eis que, ainda com a pandemia em curso, uma guerra eclode nas fronteiras da UE entre dois importantes produtores de energia. Além do chocante drama humano e do ressuscitar da Guerra Fria, a invasão da Rússia à Ucrânia vai ter pesados efeitos na recuperação da economia mundial pós-covid.

As economias estão muito frágeis e há várias situações por normalizar: a rutura das cadeias de abastecimento, a escalada dos preços da energia, a escassez de matérias-primas... No caso português, há a acrescentar a descapitalização das empresas e o peso económico do turismo, cuja retoma plena é mais lenta. A tudo isto acresce ainda o impacto que o fim das políticas de apoio à economia do BCE, inevitável para conter a inflação, vai ter nas finanças públicas.

A guerra entre a Rússia e a Ucrânia trouxe, desde logo, instabilidade aos mercados financeiros e vai provocar um abrandamento do investimento e do consumo. A inflação, que era já o principal risco económico, terá tendência para subir ainda mais, agravando os custos de famílias e empresas. Já as sanções económicas à Rússia, em particular a sua exclusão do sistema SWIFT, vão na prática congelar as exportações e importações deste país.

Portugal não é dos países mais expostos às economias russa e ucraniana, nem depende do fornecimento de gás natural russo. Mas será afetado pelo abrandamento da economia mundial e sobretudo da europeia. O aumento dos preços, principalmente dos produtos energéticos, vai penalizar a nossa economia, em particular o setor industrial. O compasso de espera em que nos encontramos, devido à repetição das eleições no círculo da Europa, dificulta uma resposta assertiva ao impacto do conflito, embora permita preparar o novo OE tendo em conta o atual contexto geoeconómico.

Por ora, são justificadas medidas de apoio aos setores mais consumidores de energia e aos mais dependentes de gás natural, que vão ver os seus custos aumentarem nos próximos tempos. É preciso proteger a nossa economia dos efeitos adversos da guerra e, assim, minorar as inevitáveis perturbações à recuperação económica e social pós-pandemia, designadamente à execução dos novos fundos europeus.

Importa também acelerar a transição energética tanto em Portugal como na Europa, agora que esta se vê forçada a reduzir as suas importações de petróleo e gás natural russo. Assim como a pandemia acelerou a transição digital, oxalá a guerra possa, ao menos, ter o mesmo efeito na descarbonização.

Presidente da ANJE-Associação Nacional de Jovens Empresários

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt