No El Corte Inglés, onde trabalhou cinco anos, teve a oportunidade de ir estudar corte para Madrid. Aí começou a ganhar o gosto pela alfaiataria. Regressa e, aos 22 anos, percebe que quer mais. Vai para a famosa Rosa & Teixeira, onde esteve sete anos. "Aprendi muito", diz, apesar do seu trabalho se cingir a fazer emendas.
Aos 34 anos uma dúvida surge-lhe na cabeça: "É mesmo isto que eu quero?" O apresentador de TV, Manuel Luís Goucha, para quem "já fazia umas coisinhas à noite", foi dos primeiros a incentivá-lo a avançar com um projeto seu. "Identifico-me com ele, pelo que, se tivesse que ter um embaixador do meu trabalho seria ele."
E assim foi. Paulo Battista tem agora um atelier em Lisboa, na rua Rodrigues Sampaio, onde trabalha por marcação, sozinho, contando com a ajuda de costureiras de fora. Ainda agora tem quatro fatos e dois blasers pedidos por Goucha. Orgulhoso do "traço próprio", que conjuga com a imagem dandy, Paulo visita clientes em Londres, Paris ou até em Luanda. "Os meus clientes pagam para conversar e saem com um fato."
Fernando Pereira. Não é um alfaiate clássico, mas sim um alfaiate industrial. Conversa com o cliente para perceber quem é, o que quer e o quanto pode pagar, mostra os tecidos e forros, tira medidas e compõe o fato para entregar aos ateliers com quem trabalha habitualmente. A isto os ingleses, "reis da alfaiataria", chamam made to measure styling.
Ou, segundo definição de Fernando Pereira, "personalização e customização" de fatos, camisas, até gravatas ou polos. "É um serviço que vai muito para lá da fita métrica", diz o fundador da suMisura, que teve na família a sua inspiração.
O seu pai foi empregado da "melhor loja de Lisboa, a Lourenço & Santos", e a mãe, costureira "do melhor alfaiate de Lisboa, José Luís". Em 1963, foi viver com os pais para o Algarve, tendo regressado a Lisboa "depois da Revolução". Em Lisboa, foi-se especializando e procurando os seus clientes. A partir de 1998 percebeu que se podia aventurar sozinho e começou a fazer tudo por medida.
Hoje defende que "um fato que serve é muito diferente de um fato que assenta bem no corpo". Com atelier suMisura na rua D. Francisco Manuel, atende clientes das mais diversas áreas e bolsas: auditores, advogados, empresários, arquitetos. Portugueses, angolanos ou de outra parte da Europa. E também tem clientes mulheres, apesar destas não terem a mesma paciência que os homens para esperar por um blaser.
Ayres Gonçalo. Esteve a estudar corte na Sociedad de Sastres e a trabalhar para o alfaiate Pedro Muñoz (em Madrid). Em Londres, trabalhou na Gieves & Hawkes, na Savile Row (Meca dos alfaiates), e em Nova Iorque, na Michael Andrews Bespok. Regressou a Portugal, em 2011, ano em que também chegou a troika.
O país estava falido, mas isso não importou a Ayres Gonçalo que se sentia com "uma energia gigantesca", apesar do cansaço de viajar entre Nova Iorque e Hong Kong. Reabriu, no Porto, o atelier do avô, Ayres Carneiro da Silva, 86 anos, que observava quando vinha da escola a trabalhar para clientes, que incluíam artistas, desportistas, parlamentares e banqueiros.
Ayres começou logo a receber encomendas, algumas de clientes que herdou do avô, o que o levou a abrir um atelier também em Lisboa, ambos com marcação. Agora divide-se entre estas duas cidades e Londres, onde partilha um espaço (e renda) com cinco alfaiates de diversas nacionalidades para receber os clientes ingleses. E algum ilustre como Horta Osório [presidente do Lloyds]? (riso) "Não, nem António Simões [CEO do banco HSBC]. Não tenho clientes ilustres". Mas já os teve. Na Gieves & Hawkes fez um fato para o Príncipe Carlos.
Mas se tivesse clientes famosos não dizia porque, "além de o segredo ser a alma do negócio, quando vemos estes homens de negócios de cuecas na sua casa ou escritório, não é de bom tom revelar quem são" (riso).
Rute Caetano. Não é alfaiate, mas gere o atelier Byagio como se fosse. "Às vezes tiro medidas, corto e faço moldes", diz esta antiga trabalhadora de uma grande empresa de confeção para homem, entretanto falida.
Como tinha a ideia de ter um espaço seu para fazer peças por medida, mais personalizadas, aceitou o convite, em 2009, para criar este atelier de alfaiataria. Passado pouco tempo a sua sócia morreu e viu-se sozinha. Sentiu-se perdida, mas a opção foi continuar; hoje, tem a certeza de que foi a decisão mais acertada. "É um trabalho muito engraçado", diz, destacando a "cumplicidade com o cliente".
Sobretudo homens - "os únicos dispostos a esperar entre três a quatro semanas por um fato" e que "querem investir em algo diferente do pronto-a-vestir. " Ou seja, hoje não são só as pessoas com defeitos físicos que recorrem ao alfaiate como antigamente. "São os homens normais, curiosamente cada vez mais com o corpo em "V", por causa da musculação, e que às vezes não encontram roupa no pronto-a-vestir", diz Rute Caetano.
Com o show room situado em Carnaxide, a Byagio dá trabalho a 12 pessoas, no atelier na Maia. Lá estão dois alfaiates e cerca de uma dezenas de costureiras. Mas nos planos desta empresária de 39 anos está a abertura de um atelier também na capital. "As rendas são muito altas e depois as costureiras também não abundam, mas é um sonho que quero realizar um dia".
Ler também: Os alfaiates estão de novo na moda