A PHC Software acaba de implementar um novo modelo de trabalho, reflexo de uma cultura organizacional dinâmica e que aponta como prioridade a grande preocupação com os colaboradores (bem-estar mental, físico e felicidade no local de trabalho). O CEO, Ricardo Parreira, explica como funciona e se adapta à nova realidade do trabalho, pós-pandemia.
A pandemia veio apressar a mudança da forma como vemos o trabalho. Qual é a prioridade número 1 que as empresas devem assumir neste novo contexto?
A principal ideia é que existe um novo olhar sobre a produtividade. Hoje, é claro que os escritórios desempenharão um papel distinto do que tinham até agora, na medida em que não são apenas espaços para onde as pessoas vêm fazer o seu trabalho, mas necessitam de ser espaços de colaboração e cultura empresarial. Se queremos ter a melhor produtividade dos colaboradores, temos de pensar os escritórios para aproveitar a inteligência coletiva e potenciar o espírito de presença. Ao mesmo tempo, temos de dar liberdade para que o trabalho que exige foco total possa ser feito onde conseguimos estar mais concentrados e sem distrações. Por isso, é importante preparar as empresas para um modelo de trabalho híbrido com esta ideia de que trabalho de colaboração é no escritório e trabalho de foco pode ser em casa. Mas, para isto não basta ter um escritório pensado para a colaboração, como fizemos com a House of Digital Business, em Oeiras. É necessário ter as ferramentas de software de gestão que permitam esta agilidade empresarial e também os líderes treinados para uma liderança distinta, baseada em objetivos bem definidos e não na observação das pessoas. A combinação entre o novo papel do escritório, software de gestão preparado para o modelo híbrido e líderes treinados é, sem dúvida, um conjunto de ingredientes para concretizar este novo pensamento, que inevitavelmente dá origem a um modelo híbrido de trabalho.
E os trabalhadores?
A forma como uma empresa se comportou durante a pandemia trouxe um novo ingrediente ao mercado de trabalho, para além das ofertas formais de emprego. Penso que uma prioridade para qualquer colaborador deve ser a avaliação de como a empresa se comportou neste período de crise. Protegeu-os? Preocupou-se com eles? Despediu? Como se adaptou ao contexto? E como se preparou para o dia a seguir à crise? Comunicou com transparência com o colaboradores? Está a fazer esforços para se adaptar ao modelo de trabalho do futuro? Estas são questões importantes para avaliar o comportamento de uma empresa neste período. Algo que deveria ser a reflexão número um de qualquer colaborador, porque a resposta a estas questões diz muito sobre o que podemos esperar do futuro.
Flexibilidade e poder estar envolvido em projetos passou a ser mais importante para convencer alguém a vir trabalhar para uma organização, mais até do que um melhor salário?
Devemos ter alguma cautela na priorização do que é mais importante, mas é verdade que o talento gosta de sentir que faz a diferença e de ter condições de topo para evoluir - e um rendimento de topo. Isto é cada vez mais importante no mercado de trabalho, e também para o rendimento das empresas. O que se sabe hoje é que o salário não é o único fator de escolha, já que a segurança financeira é necessária, mas não suficiente para nos sentirmos realizados. Se queremos ser felizes no dia-a-dia profissional, temos de sentir que estamos envolvidos em projetos que nos façam crescer, que trabalhamos com pessoas com quem temos relações saudáveis, sentir que o trabalho tem impacto.
Sairemos disto com o trabalho mais americanizado?
Se pensarmos que muitas empresas norte-americanas têm um foco muito grande nos objetivos e na produtividade das pessoas, talvez haja uma aproximação nesse sentido. Mas ainda há um longo caminho a percorrer para que haja uma mentalidade generalizada de inspiração anglo-saxónica ao nível da gestão. As boas práticas e preocupações que vemos em algumas empresas americanas ainda não estão generalizadas em Portugal. Um exemplo claro é a forma como muitos dos nossos gestores veem a transição digital: 24% dizem já a ter completado, mas como sabemos a digitalização é um processo contínuo, e quase uma em cada quatro empresas portuguesas ainda não percebeu que se arrisca a ficar para trás. Há caminho a percorrer de consciencialização do nosso tecido empresarial relativamente às melhores práticas de gestão.
O recrutamento das empresas já se adaptou a essa nova visão?
Terá de se adaptar rapidamente, até porque as empresas que o fizerem primeiro partem em vantagem. Mas o recrutamento tem de ser visto como parte de uma experiência completa de trabalho. Não é só recrutar em modo remoto ou fazer anúncios no LinkedIn. Recrutar pessoas é uma parte de todo um ciclo do colaborador que vai desde a identificação inicial com a empresa, ao processo de recrutamento e selecção, on-boarding, experiência no local de trabalho, avaliação, evolução profissional. Uma grande tendência é, sem dúvida, o chamado human capital management, que hoje só é possível fazer da melhor forma com ferramentas de gestão adaptadas a esta nova era. As empresas vão começar a olhar para esta nova fase de gerir um dos seus recursos mais importantes, que é o seu talento. E uma coisa é certa a experiência de recrutamento será capacitada por software.
Em que medida pode o modelo de trabalho 3A 2D 1P ajudar?
O nosso modelo de trabalho híbrido foi pensado para a experiência de trabalho na PHC, em que queremos dar condições de topo para rendimento de topo. Assim, é um modelo com alta responsabilidade, com alta flexibilidade para alta produtividade, e foi totalmente projetado para ser ágil, adaptável e produtivo, uma vez que é ajustável às necessidades de cada colaborador e respetivas equipas. Este, confere ainda aos colaboradores maior flexibilidade e responsabilidade para potenciar a sua performance e produtividade no cumprimento dos objetivos. É um modelo híbrido que prevê dois dias obrigatórios variáveis de trabalho no escritório, ajustado a cada equipa, com o intuito de potenciar a cultura da empresa e a criatividade. Além disso, os colaboradores serão premiados com dois períodos em full remote, o que lhes permite trabalhar a partir de qualquer localização. Tudo isto torna a experiência de trabalhar na PHC mais interessante e personalizada, ao mesmo tempo que torna claro que todos são responsáveis pela entrega e qualidade do seu trabalho.
Tem tido muita procura - nacional e além-fronteiras?
A PHC tem sido bastante procurada para trabalhar. Já há alguns anos que notamos um crescimento do interesse na experiência de trabalho que proporcionamos, mas também houve crescimento neste ano, em parte porque estivemos sempre ao lado das nossas pessoas durante a pandemia, mas também pela experiência incrível que é trabalhar na nossa nova sede da PHC em Oeiras. Foi considerada a empresa mais feliz em Portugal e a melhor PME para trabalhar. Queremos ser uma referência em Portugal e na Europa, a nível de experiência de trabalho. E temos dado passos nesse sentido.
As leis laborais que estão em discussão fazem sentido nesta nova realidade ou estão a trabalhar sobre o que já não existe?
Historicamente, o tempo das empresas nem sempre é o mesmo do legislador. Penso que será sempre importante olharmos e regularmos o mercado, mas teria sido importante que as empresas (de vários setores e dimensões) fossem mais ouvidas. Podemos dar um contributo importante e interessante, porque há boas práticas que sabemos que funcionam e fazem as pessoas felizes.