Riopele pede legislação que promova "estabilidade de preços" na biomassa

O diretor-geral da têxtil nortenha garante que a pressão sobre os preços da biomassa pode "empurrar as empresas para os combustíveis fósseis". Empresa de Pousada de Saramagos quer atingir a neutralidade carbónica em 2027 e vai investir mais cinco milhões de euros numa terceira central fotovoltaica
Imagem aérea da nova central fotovoltaica da Riopele,a segunda da empresa têxtil. Prevista está uma terceira em 2025
Imagem aérea da nova central fotovoltaica da Riopele,a segunda da empresa têxtil. Prevista está uma terceira em 2025Direitos Reservados
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O diretor-geral da Riopele, empresa têxtil de Pousada de Saramagos, Vila Nova de Famalicão, apelou ao Governo para que legisle no sentido de promover uma estabilidade de preços na biomassa, sob risco de haver empresas a regressarem ao uso das caldeiras a gás, agora que este combustível baixou e a pressão sobre a biomassa está a fazer aumentar os preços.

José Teixeira falava na cerimónia de inauguração da nova central fotovoltaica da empresa, a segunda desde 2019 e que vai aumentar para 21% a autonomia da Riopele em termos de energia elétrica. Uma terceira está já prevista, para 2025, com um investimento da mesma ordem, aumentando para 30% a parcela de fotovoltaico no consumo total de eletricidade da empresa, uma fatura que estima em cerca de seis milhões de euros ao ano.

Este responsável aproveitou a presença do novo presidente do IAPMEI para solicitar que seja portador desse pedido junto do Governo, lembrando que a indústria "precisa de estabilidade de preços" e que o país necessita "da limpeza das matas e florestas". Inquirido pelos jornalistas, José Teixeira explicou que a fatura energética representa, grosso modo, 20 a 30% dos custos de produção da indústria têxtil e que o "controlo" sobre estes custos "é fundamental para assegurar o futuro da empresa e os seus compromissos".

No caso da Riopele, a central de biomassa está a funcionar há ano e meio, resultado de um investimento de quatro milhões de euros, realizado na altura da crise energética, desencadeada com a invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022, e que levou o gás a atingir "preços exorbitantes". Hoje, com a normalização do mercado e a descida dos preços dos combustíveis fósseis, há o risco, garante, de algumas empresas retomarem o uso das suas caldeiras a gás, que foram apenas desligadas, mas continuam operacionais.

"Não será o caso da Riopele, mas certamente algumas empresas hão-de começar a ponderar se vale a pena voltar ao gás natural, apenas por uma questão de rentabilidade do negócio. O que é algo sem sentido. Esta equação, que resulta da necessidade de limpeza das matas e florestas, para prevenir os incêndios, e ter uma fonte que é neutra em carbono deve fazer com que o legislador crie condições para haver estabilidade de preços [na biomassa] e não [deixar] que entre em concorrência com os preços do gás natural", defende. 

"Não bastadizer construam-se mais centrais de biomassa, não basta dizer que são fundamentais, preciso que quem cria as regras do jogo legisle para que elas não acabem no futuro", considera, sugerindo que uma isenção em termos fiscais ou uma "comparticipação à prospeção da biomassa nas florestas". 

Recorde-se que a Riopele tem o compromisso de atingir a neutralidade carbónica em 2027, no ano em que se assinala o centenário da sua fundação.

Questionado sobre o tema, o presidente do IAPMEI disse ter tomado nota do pedido. "Terei que analisar melhor a questão mas julgo que ainda há muita biomassa que não é aproveitada e, portanto, haverá excesso de oferta face à procura. Julgo que temos que criar é as condições para que a utilização de biomassa seja mais competitiva e mais atrativa", afirmou José Pulido Valente. 

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