
“A Inteligência Artificial (IA) é uma ferramenta fundamental para a transformação digital das empresas, entendendo-se transformação como a mudança do modelo de negócio, posicionamento e às vezes até da própria estrutura”, defende Rogério Carapuça, presidente da APDC. Com isto em mente, a próxima edição do Evolve, a decorrer hpje, no dia 9, no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa, será inteiramente dedicada à IA. O objetivo passa por mostrar exemplos concretos que possam sensibilizar as empresas para a criação de soluções nesta área.
No Pavilhão do Conhecimento será possível tomar contacto com aplicações que vão da gestão de clientes à gestão de redes, passando pelo tratamento de texto ou soluções com algoritmos preditivos, em setores que incluem a saúde, a hotelaria, o setor energético e de comunicações. “Temos um critério muito simples que é o de que os projetos terem já resultados obtidos em Portugal. O nosso objetivo é aumentar a sensibilidade das outras empresas”, assume o responsável da APDC.
IA ao serviço da produtividade
A partir do momento em que modelos de linguagem como o ChatGPT foram apresentados ao público, no final de 2022, a Inteligência Artificial registou ganhou um novo dinamismo. “Esses momentos de atenção da opinião pública também são importantes para a promoção das tecnologias” assume Rogério Carapuça que aponta os domínios da robotização, condução automática e dos modelos de linguagem como alguns que irão registar um maior desenvolvimento nos próximos anos.
A consciência de que a IA é um elemento incontornável na transformação das organizações tem levado as empresas a investir na formação, na adaptação dos recursos humanos à utilização da IA e na criação de projetos piloto. “Há um conjunto de ferramentas que já vêm com novas capacidades de IA, que são ótimas para as pessoas se adaptarem à tecnologia, como as ferramentas de Office, que aumentam a produtividade nas tarefas mais rotineiras”, lembra o responsável.
“As empresas estão a fazer projetos piloto, em que estão a usar esta tecnologia para áreas que têm a ver com o core business da empresa”, diz Rogério Carapuça. Neste âmbito, o apoio ao cliente, as vendas e a classificação de documentos têm merecido especial atenção, uma vez que eram áreas em que a tecnologia já tinha entrado. “Colocar mais alguma inteligência nos processos para tornar essas áreas ainda mais eficientes é uma tentação, porque são áreas que já estava suportadas por tecnologia e será mais fácil começar por aí”, explica o presidente da APDC.
A estas áreas juntam-se todas aquelas que implicam a manipulação de uma grande quantidade de dados, como a manutenção de redes, a gestão preditiva ou o estudo e interpretação de documentos, como é o caso de duas soluções que serão apresentadas no Evolve IA e que envolvem o estudo de processos clínicos ou documentos legais.
Num e noutro caso, há a necessidade de proteger os dados pessoais, o que tem impacto na criação das aplicações. “Vão ter de ser utilizadas autorizações que já foram pedidas por outras razões e poderá necessário pedir outras. No entanto, acho que estamos a cair numa situação em que já é mais o embaraço que causa estar sempre a pedir autorizações por tudo e mais alguma coisa do que a eficiência desse processo”, lamenta Rogério Carapuça, que defende a criação de uma base de dados de consentimento pública. “Um sítio onde gravássemos quais os consentimentos que dávamos, a quem e para quê, e que poderiam ser alterados quando quiséssemos. Os consentimentos são necessários, mas haverá formas mais eficientes de os dar”, defende.
Formação e capacidade de investimento
Para o responsável da APDC, a formação e a capacidade de investimento são outras das principais condicionantes a afetar as empresas nacionais nos seus processos de transformação digital, nomeadamente na utilização da IA. “A capacidade de investimento é sempre uma limitação quando olhamos para a economia portuguesa porque é uma economia de microempresas”, aponta. “Empresas pequenas têm menos capacidade de investimento, têm bases de clientes menores e podem usar projetos destes com menos eficiência de escala” continua Rogério Carapuça que defende a retirada dos “incentivos para que as empresas continuem a ser pequenas” como é, a seu ver, o caso do IRC progressivo.
As novas soluções, acredita, vão estar associadas à criação de novos empregos. Mas, para que tal aconteça, é necessário apostar na formação. “Todas as transformações tecnológicas que conhecemos até hoje tiveram um padrão que foi destruir o emprego e criar outros empregos diferentes. Até agora, em todas as transformações significativas o saldo foi favorável à criação de mais emprego. Uma pessoa equipada com IA terá mais hipótese de encontrar um emprego que hoje se calhar nem sabemos que existe, do que outras que não estejam equipadas para essa tecnologia. Para conseguirmos que o emprego aumente é necessário que as pessoas continuem a qualificar-se e que haja um grande esforço nacional de qualificação para essas tecnologias”, conclui o presidente da APDC.