Não há volta a dar. Mais cedo ou mais tarde terá de haver austeridade para equilibrar as contas públicas e evitar a explosão da dívida. Nouriel Roubini, o economista que anteviu a crise financeira de 2008, sinaliza a necessidade de austeridade, mas não agora.
"No curto prazo, vamos tentar evitar que uma recessão se transforme numa depressão, por isso, paradoxalmente, mais dívida significa menos dívida", avisou o professor da Universidade de Nova Iorque numa conferência de imprensa à distância depois de ter participado no warm up da QSP Summit que vai realizar-se no Porto em julho.
"A melhor forma de conseguir uma redução da dívida e do défice é através de um forte crescimento, mas isso não surge do nada", começou por afirmar, indicando que "os rótulos não importam: pode chamar-lhe consolidação orçamental, pode chamar-lhe austeridade, ou outra coisa qualquer. Teremos de começar a gastar menos, teremos de aumentar os impostos para reduzir os défices orçamentais", concluiu. O economista alerta para a falta de "apetite político" por medidas de austeridade, com a experiência do ajustamento da troika e para a "fragilidade" política, caso os "partidos de esquerda - que têm dado trabalho ao primeiro-ministro - não permaneçam moderados". E isso, alerta, pode "causar problemas na fase da recuperação económica".
Os estímulos orçamentais são para continuar, pelo menos para já, defende Roubini, e lembra que até o Fundo Monetário Internacional apoiou esta política e a União Europeia aliviou as regras para o défice.
Mas o elevado nível da dívida pública também preocupa o economista, dado o grande endividamento que vem do passado. "No médio prazo vamos ter de reduzir o défice orçamental. Claro que não vai ser reduzido a zero e de forma abrupta. Aí, o rácio da dívida pode, eventualmente, tornar-se insustentável", e avisa que o Banco Central Europeu vai começar a retirar os estímulos. "Nalgum momento terão de ser retirados, não neste ano, mas ao longo de 2022."
O antigo conselheiro económico do presidente norte-americano Bill Clinton e consultor de Barack Obama fala de um momento trágico em Portugal com o ressurgimento da pandemia devido a uma reabertura da atividade "demasiado cedo".
"A reabertura, no outono, aconteceu demasiado cedo e está agora a levar a outro confinamento draconiano, que está a levar para uma dupla recessão profunda. A recessão está de volta a Portugal, tal como no resto da Europa e da zona euro", reconhecendo que a "resposta do país na primeira vaga foi um sucesso. Mas, infelizmente, foi muito aliviada em novembro e dezembro, em especial durante a época festiva", afirmou.
"O que se passa em Portugal tem sido trágico, com a pobreza a aumentar", acrescentando que há "quem tema que dois terços dos 360 mil empregos criados nos quatro anos anteriores" sejam dizimados.
Mas Roubini também aponta aspetos positivos para a economia portuguesa, através do investimento direto estrangeiro (IDE). "Portugal continua a ser um bom destino para o investimento e a perspetiva para o futuro do país é brilhante", afirmou durante a apresentação no Porto.
O economista lembra que antes da crise, o IDE estava a subir bastante. "É um sinal de que os investidores acreditam em Portugal e na força deste país", deixando uma nota positiva. "Estou preocupado com o curto prazo, mas no longo prazo julgo que não".