Rui Bairrada. “A compra de habitação deverá recuperar em 2024”

Presidente executivo do Doutor Finanças reconhece que, em 2023, muitas famílias mudaram de instituição para melhorar as condições do crédito. Ao fim de dez anos, antecipa que a empresa prepara o salto para o exterior
Rui Bairrada, CEO do Doutor Finanças. Foto: Direitos Reservados
Rui Bairrada, CEO do Doutor Finanças. Foto: Direitos ReservadosRui Bairrada, CEO do Doutor Finanças. Foto: Direitos Reservados
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Com perto de 250 pessoas a trabalhar só na casa-mãe, o Doutor Finanças espera fechar este ano com uma faturação de 23 milhões de euros, ou seja, com um aumento de 50% face a 2023, à semelhança do que já tinha acontecido no ano passado. Depois da abertura de lojas físicas, agora vai ser a vez da expansão internacional. 

Em que se baseou a escolha de uma atividade ligada a finanças pessoais e em que medida a “bagagem” que trazia do Deutsche Bank foi fundamental para a criação do Doutor Finanças? 
A escolha foi fácil. Quando iniciei o meu trajeto fora do Deustche Bank foi para ajudar as pessoas a negociarem os seus créditos. Estávamos num período de muitas dificuldades das famílias, com o crédito malparado em níveis históricos e muitas pessoas a precisarem de reduzirem os seus encargos. Mais do que isso, ao longo do caminho percebemos que o grande problema das pessoas era a falta de conhecimento. Não sabiam o que podiam (ou o que deviam) fazer nem antes de se endividar, nem depois, quando se apercebiam que estavam com dificuldades. Esta noção levou-nos a criar, primeiro um blog, onde publicávamos artigos com conselhos básicos, e depois a robustecer o projeto dando-lhe uma dimensão maior.

O projeto, como o conhecemos hoje - e dez anos já lá vão - é exatamente aquilo que idealizava desde o início ou transformou-se em algo muito maior? 
Quando iniciámos o projeto, o foco era ajudar pessoas a recuperarem a sua independência financeira, num período difícil das suas vidas. O Doutor Finanças alcançou uma dimensão muito maior do que alguma vez imaginei. 

Quais diria que foram os “ingredientes secretos” para a jornada de sucesso? 
Diria que o ingrediente segredo é o que usamos até hoje: foco nas pessoas. Como podemos ajudar? Quais as ferramentas que podemos disponibilizar? Como podemos simplificar? O que precisa cada pessoa que recorre aos nossos serviços? Fomos acompanhando aquilo que eram as necessidades das famílias. Hoje trabalhamos de forma transversal as finanças pessoais. E, depois de muitos anos a atuar essencialmente no digital, temos presença física, através da abertura de lojas da Rede Doutor Finanças. E demos este salto no ano passado, precisamente porque há pessoas que privilegiam o acompanhamento presencial.

Certamente deparou-se com desafios. É capaz de identificar os maiores obstáculos e explicar de que forma conseguiu superá-los? 
Há dois níveis de desafios: pessoas e negócio. No que ao negócio diz respeito, os maiores desafios prenderam-se sempre com a evolução do mercado, com os ciclos económicos: a crise financeira, a troika, a covid, a mais recente subida das taxas de juro. Estes episódios, todos eles muito diferentes, obrigaram a respostas também muito distintas. Em todos estes momentos tivemos de preparar equipas, muitas vezes sem capacidade de antecipar nada, tendo de ser reativos. O que é muito exigente. Felizmente, temos conseguido sempre superar estes desafios com nota muito positiva. O segundo nível de desafios, e diria que o mais desafiante, está relacionado com pessoas. É preciso ter as pessoas certas, nos momentos certos. Significa que ao longo de toda a jornada foi preciso tomar decisões vitais para a sustentabilidade da empresa..

O Rui Bairrada é apologista de uma liderança focada nas pessoas. O que significa na prática? 
Dizemos muitas vezes que trabalhamos para o cliente. Se os nossos Doutores não estiverem bem não vão conseguir prestar um bom serviço. E o estar bem tem várias componentes: familiar, pessoal e profissional. É fundamental fazermos um acompanhamento próximo de cada um deles para conseguirmos ajudá-los. As empresas, e o seu sucesso, está dependente de cada um dos elementos, que ninguém tenha dúvidas. Por isso, é fundamental que o foco sejam as pessoas. Só com uma relação próxima é que teremos pessoas comprometidas e preocupadas com os clientes. E este mindset é um dos pilares da nossa cultura. Só isso permite que sejamos considerados um Great Place to Work e que sejamos Escolha do Consumidor.

O Doutor Finanças disponibiliza várias ferramentas para ajudar a melhorar a literacia financeira. Qual tem sido a estratégia? 
A estratégia tem sido simples, avaliamos as dúvidas recorrentes, identificamos formas de lhes responder o mais depressa possível e analisamos que tipo de ferramentas podemos construir para facilitar a vida das pessoas. Por exemplo, durante a covid, o Governo implementou um apoio financeiro para os trabalhadores independentes. Foi publicada legislação, que sofreu várias alterações ao longo do processo, e nós arregaçámos as mangas e construímos um simulador. E posso dar outro exemplo: o simulador de variação da taxa Euribor. O BCE ainda não estava a subir os juros e nós já tínhamos uma ferramenta que permitia às famílias perceber o impacto das oscilações dos juros na sua prestação. Trabalhamos para ajudarmos as pessoas a perceberem o que podem fazer e quais os impactos dessas decisões na sua vida.

A meta para 2024 passa por continuar a inovar? 
Sim. Estamos atentos e sempre à procura de formas de ajudar quem nos procura. E isso tem de passar, necessariamente, pela inovação e pelo constante estado de alerta para que consigamos antecipar as mudanças o mais possível e estarmos disponíveis e com as soluções certas para quem nos procura.

A Academia Doutor Finanças e o Banco de Horas são duas iniciativas de educação financeira que já atingiram milhares de pessoas. Como avalia o impacto destas abordagens na sociedade? 
Temos conseguido levar conhecimento a pessoas com diferentes níveis de conhecimento, idades e geografias. Falamos de gestão de orçamento, mas também como negociar os diferentes contratos, onde conseguimos gerar poupanças, como podemos investir, como negociar um salário ou as diferentes componentes de um salário. Todos estes temas são fundamentais para que as pessoas possam ambicionar a sua liberdade financeira. E, na verdade, estes temas não são abordados na escola. Não faz sentido chegarmos ao mercado de trabalho sem sabermos a diferença entre o salário líquido e o salário bruto. Não faz sentido mantermos as nossas poupanças num depósito, quando antecipamos que só vamos usar aquele dinheiro quando chegarmos à reforma. Não se justifica que uma pessoa submeta o IRS e não tire o melhor partido das deduções fiscais a que tem direito. Como pode ser possível que eu queira comprar uma casa e não faça ideia de que tenho de ter uma poupança significativa para pagar a entrada e os impostos. Enfim... as pessoas deviam aprender [estes temas] na escola para poderem tomar decisões financeiras conscientes. Porque este conhecimento é muito benéfico para a economia como um todo. Acho que é a falta desta perceção que faz com que a literacia financeira não seja um pilar do nosso ensino.

Enquanto intermediário de crédito, o Doutor Finanças cresceu em várias áreas em 2023. Como antecipam 2024?
O que se verificou em 2023 foi muitas famílias a adiarem a compra de casa, até perceberem onde iam parar as taxas de juro. Ao mesmo tempo, as pessoas perceberam que podiam reduzir os seus encargos, ao negociar as condições de financiamento. Por isso, o ano passado foi muito dinâmico ao nível das transferências de crédito, com muitas famílias a trocarem de instituição financeira. Para 2024 antecipamos alguma mudança. E já o estamos a sentir. Com a perspetiva de descida de juros por parte do BCE (que já se está a começar a sentir nas taxas Euribor), muitas famílias vão desbloquear algumas decisões e avançar para a compra de casa. Claro que continuará a haver transferência de crédito, mas a aquisição de casa deverá recuperar. 

Com a abertura de lojas físicas e a expansão da rede de intermediários de crédito, como é que a empresa equilibra a experiência online com a offline ? 
Todas as pessoas que trabalham no Doutor Finanças são recebidas com um onboarding, onde é partilhado um conjunto de informação que as ajuda a perceber o posicionamento e o modus operandi da empresa. A forma como acompanhamos os clientes e os parceiros é partilhada. A forma como conseguimos ir acompanhando é através de formação regular. Esta é uma das peças basilares da ação do Doutor Finanças.

A expansão internacional é um dos objetivos da empresa. Quais os mercados que têm em vista? 
A expansão internacional está prevista acontecer nos próximos dois anos e tem como destino a Europa. Ainda estamos a definir pormenores sobre o modelo que vamos seguir, sendo ainda cedo para falar sobre este passo. Nos próximos meses vamos aprofundar o modelo e fechar uma série de burocracias e compromissos. Até lá não podemos dar pormenores sobre a internacionalização.

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