Rússia e Ucrânia assinam acordos para desbloquear exportação de cereais

Este acordo deverá vigorar durante quatro meses e visa criar um centro de controlo em Istambul, dirigido por representantes das partes envolvidas: um ucraniano, um russo, um turco e um representante da ONU, que deverão estabelecer o cronograma de rotação dos navios no Mar Negro.
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A Rússia e a Ucrânia assinaram esta sexta-feira um acordo com a Turquia e as Nações Unidas para desbloquear a exportação de cereais bloqueados nos portos ucranianos. O encontro em Istambul contou com a presença do secretário-geral da ONU, António Guterres e do Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.

O ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, e o ministro das Infraestruturas ucraniano, Oleksandr Kubrakov, assinaram acordos separados, mas idênticos, com as autoridades da ONU e da Turquia sobre a reabertura de rotas de entrega bloqueadas no Mar Negro. As autoridades ucranianas disseram que não queriam colocar o seu nome no mesmo documento que os russos por causa da guerra que já dura há cinco meses, levando assim à assinatura de acordos paralelos. Este acordo deverá vigorar durante quatro meses, sendo, no entanto, no renovável.

Depois de dois meses de duras negociações, os documentos visam criar um centro de controlo em Istambul, dirigido por representantes das partes envolvidas: um ucraniano, um russo, um turco e um representante da ONU, que deverão estabelecer o cronograma de rotação de navios no Mar Negro.

O acordo implica também que passe a ser feita uma inspeção dos navios que transportam os cereais, para garantir que não levam armas para a Ucrânia.

Estas inspeções, que serão realizadas tanto à saída como à chegada dos navios, deverão acontecer nos portos de Istambul.

"A questão não é o que é bom para um lado ou o outro, é o que é importante para o mundo", diz António Guterres, garantindo que o acordo vai "permitir um novo fluxo de bens alimentares para todo o mundo"

O secretário-geral das Nações Unidas disse que este é um acordo para o mundo inteiro. "O farol da esperança no Mar Negro brilha mais do que nunca", disse o português.

O líder das Nações Unidas elogiou a Ucrânia e a Rússia por terem conseguido ultrapassar os obstáculos e chegar a um acordo e agradeceu à Turquia pela mediação e pela participação que terá no seu cumprimento.

Erdogan reconheceu que "não foi fácil" chegar até à assinatura dos documentos e disse esperar que o acordo, quase cinco meses após o início da invasão russa da Ucrânia, "fortaleça a esperança de acabar com esta guerra".

O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, saudou os acordos assinados pela Ucrânia e Rússia para desbloquear a exportação de cerca de 25 milhões de toneladas de cereais retidos nos portos do Mar Negro.

"A União Europeia congratula-se com os acordos hoje assinados em Istambul pela Ucrânia, Rússia, Turquia e Nações Unidas para desbloquear o Mar Negro para as exportações ucranianas de cereais", indica Josep Borrell, numa nota informativa divulgada momentos depois da cerimónia de assinatura na cidade turca.

Para o Alto Representante da UE para a Política Externa, "este é um passo crucial nos esforços para superar a insegurança alimentar global causada pela agressão da Rússia contra a Ucrânia".

Apesar de considerar os acordos como "uma oportunidade para começar a inverter este rumo negativo", após a invasão russa da Ucrânia, Josep Borrell adverte que o seu sucesso "dependerá da implementação rápida e de boa-fé".

O responsável saudou ainda os "esforços incansáveis" das Nações Unidas para "encontrar formas de desbloquear as exportações agrícolas ucranianas" e ainda da Turquia na "intermediação deste acordo e no apoio à sua implementação".

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, também reagiu e saudou, através da rede social Twitter, os acordos assinados por Kiev e Moscovo, vincando que "podem beneficiar milhões de pessoas em todo o mundo".

"A estrita implementação do acordo é agora da maior importância para que este funcione", adiantou Charles Michel.

Os Estados Unidos já saudaram o acordo, tendo o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Ned Price, afirmado ser necessário agora garantir a responsabilização da Rússia "pela implementação deste acordo e por permitir que os cereais ucranianos chegam aos mercados mundiais".

O Reino Unido congratulou a Turquia e ONU por intermediar este acordo para retomar as exportações de grãos da Ucrânia devastada pela guerra, mas disse que a responsabilidade é da Rússia para honrar suas promessas.

"A invasão bárbara da Ucrânia por Putin (o presidente russo) significou que algumas das pessoas mais pobres e vulneráveis ​​do mundo correm o risco de não ter nada para comer", disse a secretária de Relações Exteriores, Liz Truss, em comunicado. "Agora este acordo deve ser implementado e estaremos atentos para garantir que as ações da Rússia correspondam às suas palavras."

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