Antes de 2020, ano em que a pandemia de covid-19 atirou uma pedra para a engrenagem da sociedade e economia mundial, muitas empresas tinham os seus planos de transformação digital em banho maria. A disrupção causada pelas restrições da pandemia mudou completamente o cenário.."Costumo descrever o meu cargo no departamento de inovação antes de 2019 e depois de 20202, graceja Marc Nolla, responsável de Solution Advisory e Business Innovation Office da SAP EMEA South. "Antes da pandemia, a função era interagir com executivos e convencê-los do poder da tecnologia, como podia ter impacto no modelo de negócio e porque é que era importante", explica, em entrevista ao Dinheiro Vivo.."Com a pandemia, os executivos perceberam que o envolvimento dos consumidores através de canais digitais já não era uma opção", indicou. "O omnicanal, o envolvimento direcionado em tempo real, o suprimento em tempo real - é a única forma de podermos competir." Da mesma forma, "a resiliência da cadeia de abastecimento já não é a exceção, é a norma. A disrupção atinge-a constantemente." E, no meio disto tudo, a sustentabilidade, a regulação e a luta contra as alterações climáticas, questões embebidas em todas as decisões de estratégia que as empresas têm de tomar.."A minha função mudou completamente", reforçou. "Os clientes estão totalmente convencidos, sabem que precisam de fazer esta transformação.".Marc Nolla falou ao Dinheiro Vivo no rescaldo do evento anual da SAP, TechEd, que decorreu em Las Vegas e foi palco de vários lançamentos. O destaque foi para o SAP Build, uma solução "low-code" que facilita a criação de aplicações empresariais por parte de utilizadores sem grandes conhecimentos de programação. O timing da oferta é importante: acontece numa altura em que, apesar da maior necessidade de processos de transformação digital, há uma escassez crónica de talentos especializados. Se as empresas não podem ou não conseguem contratar programadores, os seus profissionais nas áreas de negócio passam a poder criar apps numa plataforma centralizada.."O modelo é inteiramente de colaboração. Estes executivos sabem que têm de fazer esta transformação e também estão a ver que o talento de topo, altamente profissional e especializado em programação é muito escasso neste momento.", explica Marc Nolla. O talento que está nas empresas precisa de se focar "nos desenvolvimentos mais importantes", como os que envolvem Inteligência Artificial e machine learning. "É preciso libertar o potencial do negócio para usar essas capacidades de desenvolvimento." Mas a intenção não é propriamente substituir profissionais.."Não encaro o SAP Build e ter uma plataforma de desenvolvimento centralizada como um substituto da necessidade de programadores altamente especializados", frisa o responsável. "É um modelo de colaboração.".Por exemplo, uma equipa da parte do negócio pode pegar numa funcionalidade e integrá-la numa aplicação específica "de uma forma muito visual e na nuvem, sem experiência prévia de programação.".A ideia é atrativa para empresas com grandes necessidades de análise de dados em tempo real, ou para PME e startups que não têm os recursos humanos de que precisariam para tudo o que querem fazer. "Imaginem uma PME que nunca poderia contratar um cientista de dados ou um programador para criar um serviço com machine learning para monitorizar os gastos", sugere o executivo. "Com a automação Build é possível fazê-lo." O argumento da SAP é que o Build "dá a uma PME o poder dos dados que antes estava limitado a grandes empresas ou a tecnológicas.".Também pode ser útil para organizações em que a necessidade de resiliência e otimização da cadeia de abastecimento seja particularmente premente. Nolla diz que, neste momento, isso é quase toda a gente. "Eficiência e sustentabilidade, não há nenhuma indústria que não precise.".Nolla destaca a ideia de "inteligência end-to-end" e a estratégia da empresa inteligente, em que a tecnologia é usada para melhorar rapidamente os processos. "O que isso significa é poderem captar dados de qualquer fonte, aplicarem analítica avançada e machine learning e interpretar esses dados para identificar riscos e oportunidades e monitorizar constantemente como aplicamos essa inteligência através de processos.".Exemplo: havendo um risco na cadeia de abastecimento, é possível identificar qual é a disrupção ao analisar dados internos e externos, identificar a medida que deve ser tomada, implementar processos end-to-end com melhores práticas e medir os resultados..Nolla afirma que, num momento misto como o atual - com incerteza económica e pressões vindas de vários lados - a questão chave para os empresários é por onde começar.."Os executivos de topo não perguntam se a tecnologia pode ajudá-los", frisa o responsável. A dúvida é o ponto de partida. "O que recomendamos é que as organizações primeiro monitorizem os processos end-to-end, compreendam os pontos de engarrafamento e quais as melhores práticas que querem implementar", diz Nolla. "A inteligência pode guiá-los com recomendações." É importante, sublinha, para saberem onde focar recursos e atenção. "Na situação atual, a preocupação é mais onde começar e a que dar prioridade."