Saúde e Economia: Um caminho conjunto

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O combate à pandemia da covid-19 entrou numa fase verdadeiramente decisiva. Quando se alimentava a expectativa de que a pior fase iria ser ultrapassada com o kick-off do processo de vacinação, eis que o país se vê a braços com o aumento exponencial de novos casos de infeção e um número diário absolutamente alarmante de óbitos.

O sistema nacional de saúde está praticamente no limite da sua capacidade. Profissionais de saúde e pessoal auxiliar estão há praticamente 10 meses, de forma ininterrupta, na linha da frente de combate a uma pandemia que não dá tréguas. As circunstâncias pedem, por isso, bom senso e razoabilidade a quem tem responsabilidades de gestão da res publica. Não é tempo de sobrepor interesses partidários à ciência e aos critérios de gestão de saúde pública. A conjuntura atual não se compadece com princípios ideológicos cristalizados que em nada contribuem para resolver a crise sanitária que o país atravessa. É tempo de convergência, de congregar esforços e de encontrar alternativas que ajudem a salvar vidas. O quadro atual pede celeridade, capacidade de resposta e adequação de meios. Não é altura de discriminar setores de atividade e diferenciar áreas de atuação. Público, privado e setor social devem ser geridos de forma articulada e em regime de complementaridade.

É tempo de o Estado adotar todas as medidas de saúde pública que se mostrem necessárias para fazer face à situação de pré rutura do SNS. Contratualizar junto das entidades do setor privado e social, aproveitar a capacidade instalada, os meios disponíveis e as valências comuns. O tempo e as circunstâncias pedem convergência e congregação de esforços!

A crise sanitária e de saúde pública traz consigo a crise económica e social. O confinamento geral proposto pelo governo, o segundo em 10 meses, terá inapelavelmente consequências arrasadoras na sobrevivência de centenas de pequenas e médias empresas. São postos de trabalho que se perdem, são milhares de agregados familiares que deixam de poder cumprir com as suas obrigações, é a economia do país que não sai do fio da navalha.

Nunca, como agora, a sustentabilidade dos serviços de saúde e o recrudescimento da economia nacional estiveram tão intrinsecamente interdependentes.

Urge, por isso, avançar com medidas capazes de mitigar o efeito devastador de mais um lockdown na viabilidade e no futuro de muitas empresas. Alargar a capacidade de resposta do sistema, detetar e testar um número cada vez mais significativo de casos suspeitos de infeção e garantir uma resposta célere e eficaz dos serviços de saúde são passos decisivos para vencer o vírus e encarar o futuro com mais otimismo.

Empresas, comunidade científica e profissionais de saúde têm que se unir num esforço comum: derrotar o vírus que nos levou a liberdade e condicionou o futuro dos nossos filhos e netos.

Ricardo Gonçalves Cerqueira, gestor

Diário de Notícias
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