Fico a imaginar a delícia que era viver na Grécia nos séculos anteriores a Cristo. Era uma época boa, em que havia um Deus para cada coisa e onde quase tudo ainda estava para ser estudado.
Aristóteles, por exemplo. Costumo estar sempre a citar a criatura quando quero falar sobre storytelling. Ao conceber a “Poética”, Aristóteles costurou as regras da dramaturgia que usamos até hoje.
Também dele é o tratado “Retórica”, os fundamentos sobre como usar a linguagem como ferramenta de convencimento ou, se preferir, a arte do discurso como forma de persuasão.
Claro que não foi Aristóteles que inventou a retórica. Ele apenas teceu leis sobre o tema que ainda são úteis nos dias que correm.
Nem é preciso que tenhamos lido o grego. De maneira quase intuitiva percebemos quem é bom ou mau orador, quem argumenta com clareza ou não, quem usa a escrita como um arma de conquista ou de afastamento.
Tenho pena que a retórica não seja uma cadeira obrigatória no nosso sistema de ensino desde o jardim-escola.
Em vez de mesas de snooker e massagens, as empresas modernas deveriam fornecer aulas de retórica grátis aos seus funcionários.
Aos políticos, aos gestores públicos e privados deveria ser exigido um diploma de retórica avançada. Dói-me o ouvido quando vejo um deputado, um ministro ou um CEO de empresa a esgrimir argumentos bisonhos para vender ideias bizarras.
As redes sociais poderiam ser bem diferentes se as pessoas tivessem conhecimentos rudimentares sobre retórica. Haveria menos confusão, menos gente a confundir opinião com argumento, bate-boca com discussão.
Os tribunos digitais costumam encerrar os seus posts com frases do tipo: “É essa a minha opinião, se não concorda o problema é seu”. Ou seja, demonstram a segurança e a capacidade argumentativa de uma criança de quatro anos.
Chamar alguém de feio, burro, vigarista, comuna, fascista ou qualquer outra palavra em forma de xingamento nada tem a ver com retórica. É só despreparo e destempero mesmo.
Há um meme que anda a circular por aí com um glossário básico sobre alguns conceitos úteis no debate de ideias. Reproduzo alguns:
1) Ad Hominem - Quando se ataca a pessoa e não o argumento: “O deputado propôs uma lei a aumentar o imposto sobre o álcool. Mas ele bebe!”
2) Falso Dilema - O exagero, a falta de meio-termo: “Se és a favor do aborto então apoias o assassinato de crianças”.
3) Inverter o Ônus da Prova: “Deus existe. Se acha que não, prove o contrário”.
4) Post Hoc Ergo Propter Hoc – Uma coisa é que causa a outra: “Hitler era poeta. Veja só o resultado...”
Ou como diria o meu Tio Olavo: “Acreditar que não dá para trocar de opinião sem mudar de princípios é como achar que não dá para trocar de calças e manter as pernas”.