
Joe Biden desistiu da corrida às presidenciais norte-americanas, abrindo a porta a Kamala Harris, e isso terá diminuido a diferença dos Democratas face aos Republicanos nas sondagens, mas as expectativas apontam para que Donald Trump ganhe as eleições e assuma o comando da Casa Branca pela segunda vez.
E que impacto poderá ter na economia uma vitória de Trump? A gestora de ativos norte-americana Schroders considera que a política económica de Trump provocaria um choque inflacionista, que seria compensado por outras medidas, levando a um crescimento "forte".
"Se Trump ganhasse as eleições, a nossa expectativa é que o crescimento dos Estados Unidos seria mais forte e a inflação mais firme". Todavia, ressalva, "a campanha de Trump tem sido leve em detalhes e por isso é difícil fazer suposições sobre a política económica", escreve George Brown, economista sénior da Schroders, numa nota de análise.
A Schroders diz-se, no entanto, "confiante" de que o impacto de um eventual segundo mandato de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos "não será sentido até 2026".
As previsões da gestora de ativos apontam para que a economia norte-americana, com Trump na Casa Branca, cresça 2,2% em 2025, acelerando para 2,7% em 2026 e descendo para 2,3% em 2027, refletindo nesse ano o impacto da subida da inflação no consumo.
Reforço do protecionismo
Trump promete aumentar as tarifas aduaneiras sobre as importações da China para 60% (depois de as ter aumentado para 20% quando foi presidente) e acabar com a importação de bens essenciais daquele país. Além disso, poderá impôr uma tarifa mínima de 10% sobre as importações dos restantes países.
"Se implementadas, estas propostas representariam um significativo choque inflacionista. Todavia, suspeitamos que Trump não pretende prosseguir inteiramente com elas, mas em vez disso deverá calibrá-las de uma maneira direcionada de forma a extrair concessões comerciais", considera George Brown.
Há, sublinha ainda o economista, três fatores que mitigariam a subida da inflação: "Em primeiro lugar, o dólar muito provavelmente iria apreciar-se, especialmente contra o renmimbi, pois seria provável que Pequim procedesse a uma desvalorização. Em segundo lugar, o alargamento das margens de lucro das empresas desde a pandemia deverão servir para absorver custos de importação mais elevados. Em terceiro lugar, os bens poderão ser encaminhados através de países que estão numa posição mais favorável em termos comerciais com os Estados Unidos, tal como parece que a China fez desde que começou a guerra comercial".
Medidas para imigração agravariam escassez de mão-de-obra
Já as propostas de Trump para controlar a imigração teriam, segundo a análise da Schroders, mais impacto na economia do que as medidas tomadas nesta área no anterior mandato de Donald Trump. "O crescimento do emprego nos anos recentes resultou quase inteiramente de trabalhadores nascidos no estrangeiro. Menos imigração deverá exacerbar a escassez de mão-de-obra, particularmente em setores fortemente dependentes de trabalhadores estrangeiros, como a agricultura e construção".
A falta de pessoas para trabalhar, por sua vez, poderia conduzir ao "reaparecimento de subidas de salários que alimentariam mais as pressões inflacionstas".
Estes fatores seriam adversos para a economia. No entanto, acrescenta a Schroders, "a nossa expectativa é que isto será mais do que compensado por várias políticas promotoras do crescimento. Destas, a maior será a promessa para prolongar as disposições do seu Tax Cuts e Jobs Act de 2017, que está previsto expirarem no próximo ano".
A agenda de desregulamentação de Trump também poderá ser um factor impulsionador da economia: "Um dos maiores beneficiários seria o setor energético. Trump promete acabar com os atrasos nas autorizações e concessões federais para perfurações, eliminar limites nas exportações de gás natural e voltar atrás nas regras para emissões automóveis previstas para entrarem em vigor em 2032", acredita a Schroders.