Seedsight. Transformação digital chega à moagem de cereais

A startup Seedsight está a redefinir o futuro da indústria agroalimentar ao trazer uma abordagem inovadora à análise da qualidade dos cereais. Fundada por Gonçalo Ramos e Joana Paiva, a empresa promete resolver um problema que há décadas afeta a indústria: a falta de precisão na avaliação das matérias-primas.
Joana Paiva, cofundadora da Seedsight
Joana Paiva, cofundadora da Seedsight
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Gonçalo Ramos, que passou mais de uma década no setor da transformação de cereais, descreve a frustração de trabalhar com uma margem de erro elevada, devido às limitações dos métodos tradicionais de análise. “Na fábrica onde eu trabalhava, a qualidade dos cereais baseava-se numa amostra que o fornecedor enviava. Era comum o lote entregue ser diferente, muitas vezes inferior ao esperado. A expressão ‘comprar gato por lebre’ aplicava-se literalmente ao nosso dia-a-dia”, recorda.

Foi numa conversa casual com Joana Paiva, que trabalhava no desenvolvimento de uma tecnologia fotónica aplicada à área da saúde, que a ideia para a Seedsight começou a germinar. Ao perceber o potencial desta inovação para solucionar o problema que enfrentava no setor dos cereais, Gonçalo Ramos propôs uma adaptação da tecnologia para o contexto agroalimentar. A combinação de fotónica, inteligência artificial e machine learning rapidamente se revelou um sucesso, permitindo uma análise em tempo real das qualidades dos cereais, com um nível de precisão sem precedentes.

Tecnologia disruptiva

A tecnologia da Seedsight é baseada na utilização de sensores avançados que analisam os cereais ao longo da cadeia de produção. “Com esta ferramenta, conseguimos informações precisas em tempo real, o que nos permite reduzir ao máximo a variabilidade nos resultados e tomar decisões mais informadas,” explica co-CEO da startup. O impacto desta inovação é particularmente relevante para os processos de moagem, onde a consistência e a qualidade dos cereais determinam o rendimento e a eficiência de toda a produção.

“Na moagem, o conceito de taxa de extração é fundamental,” afirma. “Trata-se da quantidade de farinha que conseguimos produzir a partir de uma determinada quantidade de cereal. Com a nossa tecnologia, é possível maximizar essa extração, o que se traduz não só em benefícios financeiros para os nossos clientes, mas também numa grande redução de desperdícios”.

Para além dos ganhos imediatos em termos de eficiência, a Seedsight está também a ter um impacto direto na sustentabilidade do setor agroalimentar. A capacidade de identificar problemas de qualidade nos cereais antes da sua utilização evita o transporte de grandes volumes de produtos de baixa qualidade, poupando tanto recursos financeiros como ambientais. “Eliminamos o envio de cereais inadequados, o que significa que há menos desperdício e, consequentemente, uma pegada ecológica reduzida”, sublinha Gonçalo Ramos.

Crescimento estruturado

Embora a tecnologia da Seedsight esteja a atrair grande interesse do mercado, a empresa tem optado por um crescimento controlado. “Estamos numa fase em que é importante saber dizer ‘não’. Precisamos de foco para garantir que atingimos as nossas metas intermédias antes de nos expandirmos demasiado”, comenta o cofundador. A estratégia é clara: consolidar o produto, validá-lo através de projetos-piloto, e só então acelerar o crescimento.

A equipa da Seedsight, composta atualmente por três pessoas, vai aumentar em breve, com dois novos colaboradores previstos até ao final do ano. “Já estamos a pensar em recrutar mais pessoas para a área técnica”, revela Gonçalo Ramos. “Se tudo correr como esperamos, no próximo ano deveremos contratar mais cinco elementos”.

Visão internacional

Olhando para o futuro, a Seedsight tem objetivos ambiciosos, tanto a nível nacional como internacional. “Queremos estar consolidados no mercado europeu e também no norte-americano. Mas o mercado africano também é uma grande aposta para nós. Há um potencial enorme naquele continente, com muitas áreas ainda por explorar”, diz o gestor.

Apesar de, por enquanto, a empresa estar focada na análise de cereais como o trigo e o milho, Gonçalo Ramos acredita que a tecnologia da Seedsight tem capacidade para expandir para outras áreas. “Temos recebido contactos de outras indústrias, como a dos vinhos e a do azeite. Essas são áreas que podem beneficiar imenso da nossa solução tecnológica, e nós estamos a avaliar essas possibilidades”.

Reconhecimento em competição europeia

O sucesso da Seedsight já começou a ser reconhecido a nível internacional. A startup foi uma das três empresas portuguesas selecionadas para a final europeia do Climate Launchpad, uma das maiores competições de startups focadas em sustentabilidade. A participação neste evento não só valida o trabalho que a empresa tem vindo a desenvolver, como também abre portas para novas oportunidades de financiamento e parcerias.

“Participar numa competição como esta é um enorme cartão de visita para nós”, reconhece Gonçalo Ramos, remetendo para a visibilidade e credibilidade junto de possíveis investidores que empresa pode conseguir.

A Seedsight está sediada no UPTEC, um polo tecnológico ligado à Universidade do Porto. Esta localização estratégica tem sido crucial para o desenvolvimento da empresa, proporcionando acesso a uma rede de conhecimento e recursos especializados. Além disso, a proximidade do Porto de Leixões abre portas para possíveis parcerias futuras. “Estamos a avaliar a possibilidade de realizar um projeto-piloto com o Porto de Leixões. Para nós, faz todo o sentido estar tão perto de um grande porto comercial, pois facilita a implementação da nossa tecnologia na logística e no transporte de cereais”, racionaliza Gonçalo Ramos.

Um futuro promissor

Os fundadores desta startup têm uma visão clara para o futuro. Com uma abordagem cuidadosa e uma tecnologia disruptiva, a Seedsight está bem posicionada para transformar a indústria agroalimentar e, simultaneamente, contribuir para um setor mais sustentável. “O nosso objetivo é criar uma cadeia de valor mais eficiente e transparente, que beneficie tanto os produtores como os consumidores”, conclui Gonçalo Ramos. “Sabemos que estamos no caminho certo, e agora é uma questão de continuar a crescer de forma estruturada e sustentada”.

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