O impacto do novo confinamento do início deste ano, a partir de meados de janeiro, foi menos severo para o emprego que o da primavera de há um ano. Mas, se o primeiro embate da pandemia, em 2020, afetou sobretudo trabalhadores precários que não viram contratos renovados, desta vez foram os trabalhadores com contratos permanentes os mais penalizados.
Os dados do último inquérito ao emprego do INE, publicados ontem, indicam que no primeiro trimestre deste ano ter-se-ão perdido, em termos líquidos, 49 mil postos de trabalho, representando uma diminuição de 1% no nível de emprego que se registava nos últimos três meses de 2020.
A descida no nível do emprego no inicio de 2021 não anulou a maior parte da recuperação no mercado de trabalho obtida na segunda metade do último ano, com mais 80 mil postos de trabalho ocupados do que no segundo trimestre de 2020. Mas manteve ainda o emprego 1,3% abaixo daquele que se registava no primeiro trimestre do ano passado, com menos 62,6 mil pessoas a trabalhar.
Se o efeito deste segundo confinamento foi menos destruidor, apresenta porém diferenças relativamente ao embate do ano passado. Os trabalhadores que dependem da renovação de contratos foram em 2020 os mais penalizados, não estando abrangidos pela proibição de despedimento nas empresas que acediam então ao lay-off simplificado. O segundo trimestre fechava com menos 10% de contratados a prazo (menos 64,1 mil pessoas).
De então para cá, a contratação a prazo praticamente não recuperou e registou ainda perdas no primeiro trimestre deste ano, com uma redução em 0,9%. O segundo confinamento destruiu 5300 postos de trabalho precários.
Em contraste, os profissionais com os vínculos mais seguros foram desta vez os mais penalizados, recuando 1,5%, com uma perda líquida de 49 mil trabalhadores.
Já na primavera de 2020, a perda de emprego entre estes trabalhadores foi residual, não indo além dos 0,4% (menos 14 mil postos de trabalho), num período em que a medida de lay-off simplificado foi muito mais abrangente.
A medida simplificada de apoio à manutenção de postos de trabalho - associada a uma proibição da extinção de postos de trabalho e de despedimentos coletivos - esteve no primeiro confinamento acessível à generalidade dos setores, e não apenas aos direta ou indiretamente afetados pelas restrições do confinamento, chegando abranger mais de 800 mil trabalhadores.
Os dados do inquérito ao INE do segundo trimestre de 2020 apontam para perto de 680 mil trabalhadores ausentes devido a medidas de lay-off há um ano. Já no primeiro trimestre de 2021, as medidas de redução de horários, onde se incluem também o apoio à retoma progressiva, motivavam a ausência do local de trabalho de pouco mais de 200 mil profissionais, mostram os dados divulgados ontem.
Já o teletrabalho obrigatório, outra das medidas que permitiram atenuar as perdas de emprego em setores compatíveis com atividade remota, voltou a colocar perto de um milhão de pessoas a trabalhar de casa com recurso a tecnologias de informação. Ainda assim, num nível um pouco mais baixo do que no segundo trimestre de 2020. Desta vez, contabiliza o INE, terão trabalhado em casa 967,7 mil.
A estatística do INE também permite traçar um perfil de quem perdeu o emprego neste segundo confinamento. Aponta para uma mulher, entre 25 e 34 anos, qualificações que não vão além do 9.º ano, e que estava ao serviço do turismo ou da indústria transformadora.
Dos 49 mil postos de trabalho perdidos, 40,9 mil eram ocupados por mulheres, contra apenas 8,1 mil empregos perdidos entre os homens. Ou seja, 83% do impacto do segundo confinamento foi absorvido pelas trabalhadoras.
Os jovens foram também novamente o grupo etário mais penalizado, com a taxa daqueles que não estudam nem trabalham a subir aos 12,4% (10,9% no trimestre anterior). Os chamados nem-nem subiram aos 261,4 mil, mais 33,4 mil que no fim de 2020.
Na análise por setores de atividade económica, foi novamente o turismo a sofrer o pior impacto em termos de perda de emprego, com alojamento e restauração a perderem 21,5% dos postos de trabalho que mantinham no final de 2020. Foram menos 60,7 mil .
Mas, a indústria transformadora sai também fortemente penalizada, e mais do que na primavera de 2020. No primeiro trimestre deste ano, despediu 47,9 mil trabalhadores, num recuo de 5,7%.