O relatório final do projeto-piloto da semana de quatro dias de trabalho, que decorreu em Portugal entre junho e novembro de 2023, já foi apresentado e as suas conclusões são auspiciosas. Das 21 empresas participantes, apenas quatro decidiram regressar à semana de cinco dias. Mais: cerca 75% dos gestores avaliaram a transição para os quatro dias como financeiramente neutra e uma parte significativa das empresas até aumentou os seus lucros durante o período de implementação do projeto.
Refira-se ainda que as empresas reportaram vantagens operacionais e de desempenho, tendo apenas uma sentido necessidade de contratar mais trabalhadores. E do lado dos 332 trabalhadores envolvidos no projeto, as conclusões também são favoráveis à semana de quatro dias. A grande maioria gostava de prosseguir com a experiência, sobretudo porque identificou melhorias ao nível da saúde física e mental. O trabalho repartido por quatro dias provocou uma redução da exaustão e do desgaste.
Importa sublinhar que o projeto envolveu empresas dos mais diversos setores e com diferentes dimensões. É certo que, ao voluntariarem-se para testar a semana de quatro dias, as empresas tinham, à partida, não só vontade de reduzir os horários de trabalho como capacidades mínimas para o fazer. Ainda assim, é notável que, em média, as 21 empresas tenham conseguido um decréscimo de 12% no número de horas semanais de trabalho.
Como a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social disse, e bem, as conclusões do relatório são só o “princípio da reflexão”. A semana de quatro dias está ainda longe de entrar em fase de implementação, embora se fique com a sensação de que, apesar de ser um desafio de longo prazo, a redução do horário de trabalho é uma inevitabilidade.
A eficiência introduzida pelas tecnologias digitais, a robotização de processos empresariais, a necessidade de conciliar a vida profissional e pessoal, a importância da saúde e do bem-estar na produtividade, as exigências de sustentabilidade ambiental e o desafio de criar emprego de qualidade tornam inevitável, a meu ver, a transição para a semana de quatro dias.
Creio que as empresas portuguesas estão hoje mais recetivas a esta mudança organizacional. Tendem, aliás, a adotar horários laborais mais curtos e flexíveis. Há, pois, abertura para avançar para a semana de quatro dias, desde que a liberdade de gestão seja salvaguardada e as especificidades das empresas tidas em conta na redução dos horários de trabalho.
Alexandre Meireles, presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE)